Maracanã: Guerra nos bastidores
Após denunciar Maracanã S.A. à Federação e pedir ajuda ao governador, Flamengo consegue redução de custos nos moldes do acordo do Flu
Já clube das Laranjeiras diz estar satisfeito com o acordo feito com a Concessionária
Sérgio Cabral garante que governo não voltará a administrar o estádio
O Maracanã continuará sob o comando da concessionária Maracanã S.A. Mas nem tudo será como antes. Pelo menos para o Flamengo. A garantia de que o estádio nunca mais será administrado pelo estado foi dada na manhã desta segunda-feira pelo governador Sérgio Cabral. À tarde, ele foi o mediador entre os presidentes dos clubes e do concessionário, João Borba. A principal reivindicação foi a do Flamengo, que deseja continuar a jogar no Maracanã, mas sem dividir os custos, como já faz o Fluminense. A princípio até o fim do ano, o rubro-negro conseguiu a redução no valor dos custos das partidas. Antes da reunião, na última sexta-feira, o clube enviou documento à Federação do Rio, no qual questiona o total de público divulgado pelo Maracanã S.A. no jogo com o Cruzeiro e denuncia a entrada de mais de uma pessoa no estádio com o mesmo ingresso.
Ao assinar em julho o acordo com o concessionário até o fim do ano, o Flamengo não esperava ficar com a menor parte da renda. Primeiro dos quatro presidentes a ser recebido por Cabral, Eduardo Bandeira de Mello ficou cerca de uma hora e meia em reunião no Palácio Guanabara. Nesse período, o governador ligou para João Borba e todos conversaram através de uma conferência. Ficou acordado que a sugestão de redução de custos será acatada até o fim do ano, quando o clube e o concessionário terão a opção de assinar um contrato longo, no qual a sede da Gávea receberia investimentos como contrapartida, da mesma maneira que o Fluminense receberá para a construção de seu centro de treinamento, na Barra da Tijuca.
— O governador Sérgio Cabral ligou e fez um apelo para que o Consórcio Maracanã aceite o que o Flamengo propôs, mesmo que seja provisório, até o fim do ano, para que, em 2014, possamos assinar um novo contrato, com melhores condições. Nossa proposta é com base no que aprendemos nas operações dos jogos — explicou Bandeira de Mello, dando como exemplo a partida com o Cruzeiro pela Copa do Brasil:
— Do lucro de R$ 2 milhões, ficamos com uma renda de R$ 700 mil. Esse valor é incompatível com a realidade do Flamengo. Queremos um acordo bom para as duas partes, porque precisamos sobreviver nos próximos meses. A resposta de João Borba foi positiva, e estamos confiantes em chegar a um acordo. O que posso dizer é que, na prática, o contrato não se revelou como imaginávamos.
Surpreendidos pelos números bem abaixo do esperado em relação à renda em seus dois jogos como mandante, os dirigentes do Flamengo resolveram investigar o que aconteceu na partida com o Cruzeiro, em 28 de agosto. O resultado da verificação foi enviado à Federação de Futebol do Rio em ofício com escudo do clube e assinatura do presidente Bandeira de Mello. No documento, o Flamengo questiona o número do público presente divulgado e levanta dúvidas sobre a legitimidade da venda de ingressos.
“O consórcio tem anunciado que a capacidade do estádio é de cerca de 78 milpessoas. E, na partida em questão, foi anunciado que o público presente teria sido de, aproximadamente, 54 mil. Entretanto, foi possível constatar que o Estádio encontrava-se muito próximo de sua lotação, não sendo crível que lá estivesse presente um público que representasse apenas dois terços da capacidade”, diz o documento, que ainda questiona a operação feita pelo consórcio na bilheteria:
“Verificamos, ainda, durante a operação das catracas, que um único ingresso estava permitindo a entrada de mais de uma pessoa no estádio. Não podemos nos furtar a comentar que tal fato depõe contra a qualidade do controle de público efetuado pelo aludido consórcio.
Diante das situações constatadas, impossível impedir que se pairem dúvidas sobre a credibilidade do anúncio do número real de ingressos vendidos. Sentimo-nos à vontade para afirmar que é inadmissível que existam catracas de acesso sem contador manual para checagem e auditoria dos números eletrônicos apresentados pelo sistema. Isto porque, a ausência desse controle facilita e permite a fraude”, diz o clube.
Pelo acordo assinado em julho, o Flamengo divide com o concessionário a renda (com exceção dos camarotes) e as despesas das partidas. O rubro-negro fica com a metade do arrecadado com a venda de ingressos das arquibancadas. Antes, os dirigentes acreditavam que este acordo seria o mais vantajoso, mas as altas despesas provaram o contrário. Ontem, o governo negou que vá reduzir os padrões das exigências de segurança, manutenção e de operação, como a contratação de funcionários, o que torna o Maracanã um estádio mais caro.
— Não vamos diminuir as exigências. A segurança é prioridade e não será permitido o mínimo, porque não queremos que aconteça no Maracanã o tumulto que houve em Brasília — disse o secretário de Esportes e Lazer, André Lazaroni.
Primeiro a assinar contrato com o Maracanã. S.A. por 35 anos, o Fluminense diz não ter do que reclamar. O presidente Peter Siemsen garantiu que o clube obteve, nos quatro jogos realizados no estádio este ano, cerca de 50% de toda a renda com bilheteria alcançada em 2012, quando o clube foi tetracampeão brasileiro.
— Para o Fluminense, é o modelo ideal. Se o time estivesse em situação melhor, estaríamos ganhando muito mais. É claro que ainda pode melhorar o estacionamento e as catracas, para facilitar o acesso do sócio-torcedor. Mas não adianta pôr o pé na porta e pedir tudo. Estamos muito satisfeitos — disse Siemsen.
Gestão privatizada
Os dirigentes de Botafogo e Vasco deixaram a reunião sem dar entrevistas. Antes do encontro, o diretor-executivo do Botafogo, Sérgio Landau, disse que o concessionário pediu mudanças no contrato de 35 anos firmado com o clube.
Apesar de o governo ainda avaliar se o novo modelo de gestão apresentado pelo concessionário é valido, Cabral descartou uma possível volta do estádio à administração estadual. A gestão feita pelos quatro clubes também foi negada.
— Sem dúvida, o Maracanã nunca mais volta a ser administrado pelo estado. Isso foi um equívoco que se cometeu no passado. O estado é o proprietário, o Maracanã não foi vendido, mas a concepção de gestão prevaleceu — garantiu Cabral.
Fonte: O Globo