Marcas da História: O grande comício da Candelária contra a ditadura
Em 1984 milhões de panfletos e milhares de cartazes foram impressos, mas o que contou mesmo foi o Boca a boca. Ocorreu no Rio de Janeiro, uma das maiores manifestações populares pró Democracia que o Brasil já viu.
O Comício da Candelária.
Foi meio de improviso. Os tempos eram de Ditadura ainda. O General Presidente Figueiredo garantia uma abertura lenta e gradual, mas sempre se temia um retrocesso. Militares inconformados com a distensão política explodiam bombas em bancas de jornais, na OAB, na ABI e em outros lugares ligados a abertura política. Então menos de duas semanas antes da data marcada para o ato começou a mobilização.
A Pauta também era muito indigesta para o Regime, pois quebrava seus planos de “abertura lenta e gradual”. Os militares desejavam uma eleição indireta para a presidência da república e colocar no planalto um “Civil de confiança”. O candidato do PDS, partido dos militares era o Paulo Maluf, só fiz a maldade de citá-lo para provar que existia corrupção no regime militar sim. Correndo por fora no Colégio eleitoral pelo então MDB, o Movimento Democrático Brasileiro, que nada guarda de semelhança com o partido que leva o mesmo nome atualmente, concorria praticamente sem chances, Tancredo de Almeida Neves e seu vice o político cria da Ditadura José Sarney, também célebre pela sua falta de honestidade.
Tramitava no Congresso Nacional uma Emenda que levou o nome de seu propositor, a Proposta de Emenda Constitucional, PEC nº 05/1983, a Emenda Dante de Oliveira, mais conhecida como “Diretas Já”. A Emenda Dante de Oliveira propunha a Eleição Direta para Presidente do Brasil já na próxima eleição em 1985, derrubando o colégio eleitoral e as eleições indiretas criadas pela Ditadura em 1964.
De acordo com enquetes de institutos de pesquisa, cerca de 85% da população brasileira era a favor da Emenda Dante de Oliveira, As “Diretas Já”. O Povo abraçou a ideia e foram ao todo 32 comícios praticamente espontâneos e que iam juntando cada vez mais gente pelo Brasil, o primeiro foi em 31 de março de 1983, em Pernambuco, com 100 participantes. Até que chegou o dia de hoje.
Em frente a Igreja da Candelária no centro do Rio, tomando toda a enorme Avenida Pres. Vargas e se espalhando pela Rio Branco e ruas próximas, se reuniram de forma pacífica, mais de um milhão de pessoas, se reuniram pedindo a volta da Democracia roubada pela ditadura. Eu estava lá. Não teve show, foram seis horas de discursos de políticos de oposição e de artistas. O Povo gritava, “um, dois, três,/ quatro, cinco, mil,/ queremos eleger/ o presidente do Brasil.” No final do evento,a cantora Fafá de Belém puxou um coro de um milhão de vozes que cantou o Hino Nacional Brasileiro e depois soltou uma única pomba branca que voou acima da multidão.
Verdade seja dita e um fato que poucos conhecem Fafá de Belém participou de todos os comícios das “Diretas Já” e em todos cantou o Hino Brasileiro, se apresentando gratuitamente. Merece o nosso eterno respeito por isso. Uma outra curiosidade o autor da emenda, o Deputado Federal Dante de Oliveira tinha sido proibido pela Ditadura de participar e discursar nos comícios em prol de sua Emenda. Policiais estavam a postos para impedir sua participação. Dante de Oliveira subiu ao palanque disfarçado de percursionista da banda de Fafá de Belém.
Em 25 de abril de 1984, A Emenda Dante de Oliveira foi posta em votação e rejeitada pelo congresso. Mas falo sobre isso no dia certo. Hoje é para lembrar de um momento lindo, o momento que os militares perceberam que não tinha mais clima para a ditadura. Que Geisel e Figueiredo estavam certos e o poder tinha de ser devolvido para os civis, mesmo que os radicais do Regime não aprovassem. Eis a Candelária tomada de gente.
Essa postagem é só para lembrar que a Democracia é maior. Eles passam, a Democracia fica. Radicais não perduram.
Não esqueçam Jamais.
Fonte:JB