Marighella era negro? Autor de biografia sobre guerrilheiro se pronuncia

Segundo o jornalista Mário Magalhães, Carlos Marighella não era branco e sofria racismo. Polêmica surgiu após estreia de filme sobre o militante, dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge

Silvana Sousa
(foto: Reprodução / Internet)

O jornalista Mário Magalhães, autor da biografia Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo, se pronunciou nesta segunda-feira (18/2) sobre a polêmica surgida na internet sobre a etnia de Carlos Marighella, um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar no Brasil e personagem principal de filme dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge.

Segundo Magalhães, não há dúvidas de que Marighella era negro. Tanto que foi vítima de racismo em diferentes episódios. “Inimigos de Marighella sabiam que ele não era branco. Em 1947, o deputado Marighella criticou colega que levara um carro (a “Baronesa”) da Câmara para a Bahia. Altamirando Requião reagiu: ‘Não permito que elementos de cor, como V. Ex.ª, se intrometam no meu discurso'”, escreveu o biógrafo em um dos dois posts que publicou no Twitter sobre o tema.

Mário Magalhães

@mariomagalhaes_

Racismo (1): inimigos de Marighella sabiam que ele não era branco. Em 1947, o deputado Marighella criticou colega que levara um carro (a “Baronesa”) da Câmara para a Bahia. Altamirando Requião reagiu: “Não permito que elementos de cor, como V. Ex.ª, se intrometam no meu discurso”

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Mário Magalhães

@mariomagalhaes_

Racismo (2): a fonte da notícia é o jornal carioca “Tribuna Popular”, de 27.dez.1947. A passagem consta da biografia “Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo” (@cialetras), pág. 188. Houve muitos episódios em que Marighella foi alvo de racismo.https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11862 

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Marighella era negro?

A polêmica em torno da cor da pele do guerrilheiro surgiu após o lançamento do filme Mariguella, durante o Festival de Berlim na última sexta-feira (15/2). Inspirada na biografia de Magalhães, a obra retrata os últimos cinco anos de vida do militante, escritor e político, terminando com sua morte em uma emboscada em 1969.

Ao falar sobre o filme, Wagner Moura, ao lado de Seu Jorge, afirmou que o Estado brasileiro é racista e comparou a morte de Marighella ao da deputada estadual Marielle Franco. “Marighella, negro, revolucionário, foi assassinado por forças do Estado em 1969 no seu carro e, 50 anos mais tarde, uma vereadora negra morreu da mesma forma nas mãos, provavelmente, de agentes do Estado”, disse Moura. O diretor ainda completou afirmando que a polícia brasileira não é treinada para proteger seus cidadãos, mas o Estado, que segundo ele, escolhe seus inimigos.

Reação à fala de Wagner Moura

Diante da declaração de Moura e da escolha de Seu Jorge como protagonista, internautas colocaram em dúvida a etnia de Marighella, comparando fotos do guerrilheiro e do ator e usando até mesmo um documento que supostamente é a certidão de óbito do guerrilheiro, onde consta como branca, a cor de pele de Mariguella.

Renata Alves@RenataAlves_C

Como Wagner Nóia conseguiu achar um ator tão parecido com Mariguella?🤔

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evilyn diniz@evilynwicca

Ela exalta mariguella mas na certidão de óbito…

Veja outros Tweets de evilyn diniz

Foi após a polêmica que o biógrafo Mário Magalhães decidiu se manifestar. Depois dos dois posts no Twitter, o jornalista repondeu a um internauta dizendo que “é mentira histórica afirmar que Marighella era branco”. “É como dizer que a Terra é plana”, completou.

Quem foi Mariguella

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Carlos Marighella, morto em 1969 em emboscada(foto: Reprodução/ Internet )

Nascido na periferia de Salvador, Carlos Mariguella foi um dos principais articuladores da luta armada contra a ditadura militar no Brasil e cofundador da Ação Libertadora Nacional, chegando a ser considerado “inimigo número um” do regime de exceção.

A primeira passagem pela prisão, no entanto, ocorreria em 1932, durante o Estado Novo decretado por Getúlio Vargas, após escrever um poema com críticas ao interventor Juracy Magalhães. Após abandonar o curso de engenharia civil e se filiar ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), voltaria a ser preso em 1936 e 1939.

Com o fim do Estado Novo e a redemocratização do país, foi eleito deputado federal constituinte pelo PCB-BA em 1946, mas perderia o mandado dois anos depois, quando o PCB passou a ser considerado ilegal pelo governo do presidente Eurico Gaspar Dutra.

Mesmo clandestino, continuou dirigente do partido e chegou a passar dois anos na China nos anos 1950. Em 1964, após o golpe militar, foi baleado e preso dentro de um cinema, no Rio, sendo libertado em 1965 por decisão judicial. No ano seguinte, optou pela luta armada, à qual se dedicou até ser morto, em 1969, durante emboscada na capital paulista.

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