Mário Gazziro processa “Mamãe Falei” e perito por fraude em perseguição a Padre Júlio Lancellotti

Ação protocolada no Ministério Público utiliza matéria publicada pela Fórum; Veja vídeos exclusivos em que o profissional explica a sua perícia e desmonta a armação do MBL

O perito Mário Gazziro, professor da UFABC e instrutor de computação forense no MBA de segurança de dados da USP.Créditos: Arquivo Pessoal/Cedido à Fórum

O perito Mário Gazziro, professor de engenharia de informação na Universidade Federal do ABC (UFABC) e instrutor de computação forense no MBA de segurança de dados da Universidade de São Paulo (USP), entrou com uma ação no Ministério Público nesta segunda-feira (29) contra o perito Onias Tavares de Aguiar e o ex-deputado estadual de São Paulo, Arthur do Val, o “Mamãe Falei”. Ele acusa a dupla de fraude processual no caso do vídeo utilizado para acusar o padre Júlio Lancellotti de pedofilia.

Na ação apresentada ao MP, Gazziro cita reportagem da Revista Fórum para expor sua tese.

“O pesquisador forense Mario Gazziro, da UFABC, que investigou a fundo todas as provas e fatos relacionados ao caso de acusação do crime de pedofilia ao Padre Júlio Renato Lancellotti, a pedido dos órgãos de imprensa Revista Fórum, Jornal Estadão e Jornal Poder 360, detectou provas materiais de flagrante delito do crime de Fraude Processual no primeiro laudo acusatório ao padre, feito em outubro de 2020 e encaminhado ao Ministério Público – o qual foi posteriormente arquivado por falta de materialidade das provas na época”, diz o texto

“Onias adulterou deliberadamente o topo do cabeçalho dos quadros extraídos do suposto vídeo acusatório, de forma a ocultar o fato de que não se tratava do mesmo aparelho celular apresentado ao longo do documento, visto que nas seções anteriores do laudo, o modelo de aparelho celular utilizado para apresentar os supostos diálogos de pedofilia foi outro, assim como mostram as figuras extraídas dos laudos no documento em anexo”, diz o texto protocolado junto ao MP que pede a investigação dos suspeitos.

Mário Gazziro faz uma linha do tempo de como a farsa contra o padre Júlio Lancellotti começou a ser montada, desde 2020, e explica as fraudes que constatou nos laudos que tentam incriminar o religioso. Leia a seguir e entenda.

Vídeo da denuncia na TV Forum

Gazziro divulgou neste domingo (28) um vídeo em que traz mais detalhes sobre como foi armada a farsa contra o padre Júlio Lancellotti.

Membros do Movimento Brasil Livre (MBL), bolsonaristas e nomes da direita paulistana vêm repercutindo, nas últimas semanas, um vídeo falso em que acusam o padre de pedofilia. Perícia feita pelo professor Mário Gazziro e divulgada pela Fórum já apontou que o vídeo em questão é falso.

“As evidências indicam que os vídeos e montagens NÃO PERTENCEM AO SUPOSTO ACUSADO, Padre Júlio Renato Lancellotti, após constatação de montagens sobre vídeos para simular vídeo-chamadas”, diz trecho do laudo de Gazziro, que identificou uma série de técnicas de edição e montagens a partir de análise forense. [Confira a íntegra do laudo ao final desta matéria].

Na verdade, o vídeo que tentam associar ao padre Júlio circula nas redes sociais desde 2020. À época, um laudo emitido pelo perito Onias Tavares de Aguiar foi submetido junto a uma denúncia ao Ministério Público (MP), que arquivou o caso por falta de materialidade nas supostas provas apresentadas.

Mais recentemente, o vereador Rubinho Nunes (MDB-SP), que tentou abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de São Paulo para perseguir o padre Júlio, encomendou um laudo junto ao escritório do perito bolsonarista Reginaldo Tirotti – o resultado da perícia também foi desmontado pelo professor Mário Gazziro, que apontou falhas grosseiras na análise.

Ao analisar e cruzar as informações dos dois laudos (de 2020 e de 2024), Mário Gazziro constatou que o mais antigo, encomendado pelo ex-deputado estadual Arthur do Val, o “Mamãe Falei”, teria sido fraudado – para além das montagens no próprio vídeo que circula nas redes – com o objetivo de ludibriar o MP. Segundo o professor, Do Val e seu perito teriam incorrido em crime de fraude processual, com pena prevista de detenção de três meses a dois anos, e multa.

“O crime foi perpetrado pela dupla Onias Tavares de Aguiar e Arthur Moledo do Val, respectivamente o perito que redigiu e adulterou o laudo, e seu contratante, o qual forneceu os vídeos. Onias adulterou deliberadamente o topo do cabeçalho dos quadros extraídos do suposto vídeo acusatório, de forma a ocultar o fato de que NÃO SE TRATAVA DO MESMO APARELHO CELULAR apresentado ao longo do documento, visto que nas seções anteriores do laudo, o modelo de aparelho celular utilizado para apresentar os supostos diálogos de pedofilia foi outro”, afirma Gazziro.

Veja a comparação feita pelo professor que mostra as diferenças nos cabeçalhos dos celulares apresentados nas denúncias:

Cabeçalho de tela do celular que apresentava os supostos diálogos de pedofilia no Laudo elaborado por Onias Tavares por contratação de Arthur do Val

 

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