Martin Luther King é assassinado

Pastor e ativista estava em Memphis para apoiar uma greve quando foi morto por um tiro; assassino seria James Earl Ray, condenado a 99 anos de prisão

 

Martin Luther King, o pastor negro norte-americano, é assassinado por James Earl Ray, em Memphis, Tennessee, no dia 4 de abril de 1968. O apóstolo da não-violência sonhava com uma sociedade racialmente igualitária à qual os afroamericanos estariam plenamente integrados. Sua luta pelos direitos civis, as manifestações em marchas pacíficas, como a de 25 de agosto de 1963 sobre Washington que reuniu 250 mil pessoas, despertou a consciência dos Estados Unidos para uma participação enfática na instauração de uma sociedade mais justa. Sua ação lhe valeu o prêmio Nobel da Paz de 1964.

Pouco depois das 6 horas da tarde de 4 de abril de 1968, Martin Luther King Jr. foi ferido mortalmente por uma arma de fogo quando se encontrava na sacada do 2º andar do Lorraine Motel em Memphis. O líder dos direitos civis estava na cidade para apoiar a greve dos trabalhadores em serviços sanitários e ia jantar quando um projétil o atingiu no queixo e rompeu sua medula espinhal. King foi declarado morto logo depois de sua chegada a um hospital local. Tinha 39 anos.

 

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Martin Luther King em discurso em Washington após marcha chegar à capital dos EUA em 1963

Nos meses que antecederam seu assassinato, Martin Luther passou a ficar crescentemente preocupado com a desigualdade econômica nos Estados Unidos. Organizou a Campanha do Povo Pobre para enfrentar a questão, inclusive uma marcha interracial de pessoas pobres em Washington e em março de 1968 viajou a Memphis para apoiar a greve dos sanitaristas, majoritariamente de trabalhadores afroamericanos. No dia 28 de março, uma marcha de protesto de trabalhadores liderada por King terminou em violência e com a morte de um adolescente negro. King deixou a cidade mas prometeu voltar no começo de abril para comandar outra manifestação.

Em 3 de abril, de volta a Memphis, King pronunciou o que seria seu derradeiro sermão, declarando: “Tivemos algumas dificuldades dias atrás. Porém nada importa para mim agora porque estive no alto da montanha… E Ele permitiu que eu subisse a montanha. Olhei ao redor e avistei a Terra Prometida. Não irei até lá com vocês. Mas quero que esta noite saibam que nós, como povo, chegaremos à terra prometida.”

No dia seguinte, King é assassinado por um franco-atirador. Assim que a notícia se espalhou, a população saiu às ruas em várias cidades do país. A Guarda Nacional foi deslocada para Memphis e Washington. Em 9 de abril, King foi enterrado em sua cidade natal de Atlanta, Geórgia. Dezenas de milhares de pessoas alinharam-se nas ruas para ver passar o ataúde colocado sobre uma simples carroça rural puxada por dois burros para prestar-lhe o último tributo.

Na noite do homicídio de King um rifle de caça Remington cal.30-06 foi encontrado na calçada ao lado de uma casa de pensão a um quarteirão do Lorraine Motel. Durante os meses subseqüentes de investigação, o rifle e os relatos de testemunhas oculares apontavam para um único suspeito: James Earl Ray, um foragido da prisão. Criminoso comum, Ray havia fugido de uma prisão no Missouri em abril de 1967 onde cumpria sentença por assalto. Em maio de 1968, começou uma intensa caçada a Ray. Finalmente o FBI constatou que ele havia obtido um passaporte canadense sob falsa identidade.

Em 8 de junho, investigadores da Scotland Yard prenderam Ray no aeroporto de Londres. Tentava voar para a Bélgica com o objetivo – mais tarde admitido – de chegar à Rodésia. À altura, a Rodésia era governada por um governo de minoria branca, opressor e internacionalmente condenado. Extraditado para os Estados Unidos, declarou-se culpado ante um juiz de Memphis em março de 1969 para assim evitar a cadeira elétrica. Foi sentenciado a 99 anos de prisão.

Três dias depois, tentou retirar sua declaração de culpa, afirmando ser inocente. Alegou ter caído como trouxa numa conspiração. Afirmou que em 1967, um sujeito misterioso chamado “Raoul” o recrutou para servir a uma empresa de tráfico de armas. No dia do assassinato, se deu conta que seria o bode expiatório da morte de King, resolvendo fugir para o Canada. O pedido de Ray foi negado bem como dezenas de petições de novo julgamento ao longo dos 29 anos seguintes.

Durante os anos 1990, a esposa e os filhos de Martin Luther King falaram publicamente em defesa das afirmações de Ray, considerando-o inocente e especulando acerca de conspiração para cometer assassinato envolvendo o governo e os militares dos Estados Unidos. As autoridades norte-americanas, na mente dos conspiradores, estavam circunstancialmente implicadas. O diretor do FBI, J. Edgar Hoover estava obcecado com King, quem, imaginava ele, estava sob influência comunista. Nos últimos seis anos de sua vida, King esteve sob constante escuta telefônica e assédio por parte do FBI. Antes de sua morte, King foi também monitorado pela inteligência militar, que foi chamada a vigiar King depois que ele denunciou publicamente a Guerra do Vietnã em 1967. Além do mais, por pregar por reformas econômicas radicais em 1968, inclusive um ingresso anual mínimo para todos, criou inimigos em Washington.

Ao longo dos anos, o crime foi por diversas vezes reexaminado e se chegou sempre às mesmas conclusões: James Earl Ray matou Martin Luther King. Um comitê nomeado pelo Congresso reconheceu que podia ter havido uma conspiração mas não havia provas para sustentar a tese. Sobrepondo-se às provas contra ele – impressões digitais no rifle e sua estadia na casa de pensão na noite de 4 de abril, Ray tinha uma razão definitiva para assassinar King: ódio racial. Ray morreu em 1998.

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