‘Me esganou, ameaçou e me usou como laranja’, diz ex-mulher de candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara

Tudo gente boa

Numa entrevista bombástica à Folha de S. Paulo, Jullyene Lins, ex-mulher do deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara, mostra que a cultura de violência e da picaretagem com dinheiro público não é exclusividade da família do presidente.

Jullyene conta que o parlamentar a agrediu fisicamente e a ameaçou para que mudasse um depoimento sobre acusações que ela havia feito contra ele.

Lira e Jullyene foram casados por 10 anos. Eles têm 2 filhos e em outubro ela pediu à Justiça medidas protetivas contra o ex-marido.

O candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara, por meio de seu advogado, diz que o conteúdo das declarações de sua ex-mulher é “requentado”.

O fato é que Jullyene pede o enquadramento de Lira na Lei Maria da Penha e necessidade de proteção urgente.

“Ele me agrediu, me desferiu murro, soco, pontapé, me esganou”, disse a ex-mulher do parlamentar. “Ele me disse que onde não há corpo, não há crime, que ‘eu posso fazer qualquer coisa com você’”, afirmou. “Aquilo era o machismo puro, o sentimento de posse.”

A ex-mulher disse também que Lira a usou como laranja.

“Ele abriu uma empresa com meu nome e até hoje não tenho vida fiscal.

Leia os principais trechos da entrevista:

A senhora entrou com um pedido de medida protetiva contra o deputado em outubro do ano passado. Por que fez isso?

Por causa de ofensas que ele me fez, por pessoas me procurando pedindo para eu mudar depoimentos, meus filhos [que estão com 14 e 21 anos] sendo usados contra mim. Ele fez alienação parental com os meninos. Não foi uma violência só física, como aconteceu anos atrás, foi psicológica, o que passo até hoje. É muito constrangedor.

Neste caso e no que acusa Lira de injúria no STF, a senhora anexou novamente as fotos do processo de lesão corporal que moveu contra o deputado, de 2006. Por que esse movimento só agora?

Porque existe uma coisa chamada consciência. Posso ter feito aquilo [mudar depoimento] na época porque, se não o fizesse, ele disse que iria tomar meus filhos de mim, porque quem tem o poder é ele e faz o que quer e desfaz. Ele disse: se você não desmentir isso, tiro os meninos de você. E agora eu estou sem os meus filhos porque ele tomou isso de mim.

O que aconteceu em 2006?

É muito doloroso lembrar. Porque ele era o pai dos meus filhos, saiu de casa porque já estava com uma pessoa há anos e aguentei aquela situação. De repente, saiu de casa, meu filho com 23 dias de nascido.

Ele foi à minha casa, quando abri a porta, me agrediu, me desferiu murro, soco, pontapé, me esganou. A minha sorte foi a babá do mais velho, que ouviu meus gritos e ligou para a minha mãe, que apareceu lá, mas eu estava desfalecendo já. Muito apanhada. Ele me chutou no chão, mas não queria falar disso porque dói tanto lembrar.

A situação toda durou 40 minutos. Ele parava, me xingava, me chamava de vagabunda e de outros nomes horríveis. Aquilo era o machismo puro, o sentimento de posse, que acho que tem até hoje. Tudo tem que estar no domínio dele, no comando dele, a arrogância e a prepotência. Ele é assim.

(…)

O deputado já tinha tido esse tipo de comportamento?

Só gritos, xingamentos, isso sim. Ele sempre foi destemperado, explosivo, mas nunca pensei que pudesse chegar a isso. A gente acha que vai acontecer, aí você recua, ou se cala, se tranca, corre, vai para o banheiro para não chegar às vias de fato. Porque ele é muito estúpido, quem conhece sabe, é ignorante. A sensação de que o poder dá mais força a ele.

E por que a senhora mudou o seu depoimento depois?

Porque fui ameaçada, coagida. Se depusesse dizendo o que tinha acontecido, ele ia tirar os meninos de mim. Ele foi muito claro. Depois disso, fiquei péssima. Imagina uma mulher ter que se calar diante de tudo o que falou e ser passada de mentirosa. Eu posso hoje até responder pela minha mentira e estou aqui. Mas prefiro ter a minha consciência limpa do que carregar isso que carrego até hoje. Da minha família contra mim, defendendo ele. Ninguém quer mais falar mais nada. Eu perdi meus filhos do mesmo jeito. Hoje não tenho mais nada.

(…)

Como foi feita essa ameaça?

Ele sempre manda alguém dar um recado ou fazer alguma coisa, dar um telefonema. Mas nesse caso ele foi lá na minha casa, entrou sem eu saber, acho que ninguém nem sabe disso, vai saber agora, em primeira mão, e me chamou para conversar e disse: “Veja bem o que você vai dizer, que eu resolvo a sua vida, mas você tem que me livrar disso”. Eu disse não, mas é o certo. Eu vou mentir? Aí ele deu um tapa na mesa e disse “ou você fala o que eu quero ou você vai perder os meninos porque quem manda aqui sou eu, o que eu quiser eu faço e aconteço. Ou você faz isso, ou nunca mais você vai ver seus filhos”.

Quando foi isso?

Uns dias antes de eu ser ouvida. A partir disso, meu advogado sumiu. E aí foram me buscar em casa, o motorista com o segurança e fui até lá. Eu fui levada. O advogado que me acompanhou foi do escritório dele, que defendia ele, disse o que era para eu falar ou quando falar. Eu era cutucada por debaixo da mesa. Depois disso, fiquei destruída porque não era eu ali. Foi muito constrangedor. Então não vou mais mentir em relação a isso. Entrei em depressão, fiquei sem norte.

(…)

A senhora também testemunhou em processos de corrupção envolvendo Lira, como o da Taturana, que mirou em esquemas de desvios na Assembleia Legislativa de Alagoas quando ele era deputado estadual. O que disse?

Que eu via os malotes de dinheiro chegando, via tudo. As reuniões, tudo que rolava, mas ele mandava eu sair. Ele dizia que o dinheiro vinha de venda de fazendas, gados, ou que era para ele comprar fazenda, que tinha recebido dinheiro de fulano. Às vezes ele me mandava contar para ver se estava certo.

A senhora também já afirmou que foi usada como laranja por Lira. Como foi isso?

Fui usada como laranja por ele. Foi uma empresa que ele me colocou como laranja junto com a esposa de outro deputado na época. Depois disso, eu não tenho mais vida fiscal, tributária. Respondo a causas trabalhistas, não posso ter conta em banco, nada.

E o esquema na Assembleia, como foi?

Foi um esquema que a gente recebia, como várias pessoas, e ninguém ia trabalhar. Ele que me colocou lá, era o primeiro secretário. Eu estava lotada no gabinete dele e já era casada com ele. Ele tirou empréstimos inclusive usando nomes de outras pessoas, como o meu, usando como pagamento o meu salário.

(…)

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