A anestesista Carolina Pereira Bernardes diz nunca ter sofrido racismo em seus 30 anos de vida, até o dia 7 de junho, quando teria sido chamada por um obstetra de “negrinha”, em pleno serviço, na Santa Casa de Barretos, em São Paulo. Ela afirma ainda estar sendo perseguida após denunciar o profissional, que nega as acusações.
Nascida e criada em Barretos, Carolina narra que estava de plantão naquele domingo quando o obstetra Fernando Carvalho Jorge a solicitou para uma cirurgia de cesariana. Ela, no entanto, conta que antes precisava realizar um procedimento numa paciente com fratura, mas que o médico não gostou de sua recusa e a acusou de negligência:
Carolina diz que, após o trabalho, fez um boletim de ocorrência. Ela relata que não foi chamada por algum representante da Santa Casa ou pelo médico para uma conversa, e que o hospital ainda pediu sua substituição:
— Me senti muito humilhada, chorei muito. É o tipo de situação que você não acredita que está passando, ainda mais no ambiente de trabalho.
Carolina conta que encontra forças nos amigos para continuar trabalhando.
— Não estou errada. Não sou eu que deveria sair. E ainda ouvi gente comentando que eu estava querendo aparecer. Só quero que ele seja julgado e pague dentro da lei para que ele não faça isso com outras pessoas e que outros pensem duas vezes antes de se comportar dessa maneira.
O caso segue na Delegacia da Mulher de Barretos. Ao Extra, a delegada Silvana explicou que Carolina registrou o boletim de ocorrência, mas que o inquérito não foi instaurado por falta de testemunhas.
— A ação depende disso. A Carolina tem que vir à delegacia pedir a abertura do inquérito. Ela tem 6 meses para apresentar testemunhas — explicou a delegada.
O advogado de Carolina, Gilberto Theodoro, informou que está reunindo documentos e testemunhas para apresentar à delegada.
Obstetra nega todas as acusações
O obstetra Fernando Carvalho Jorge, de 38 anos, nega todas as acusações de Carolina. Ele diz que implorou para a anestesista atendê-lo e que filmou toda a conversa entre os dois.
— Quando ela soube que eu gravei, fez essa queixa de injúria racial para me coagir. Dois dias depois do ocorrido, um colega dela disse que, se eu tocasse o assunto pra frente, ela ia me processar. Eu tenho carta de cirurgiões reclamando que ela vem se recusando a fazer vários procedimentos — afirma o médico, que aluga uma sala na Santa Casa para atender pacientes.
Fernando, no entanto, disse que não poderia ainda divulgar as imagens nem as cartas das supostas reclamações. Ele disse que sabe de “pelo menos seis reclamações verbais à diretoria da Santa Casa”.
— Estou sofrendo, sendo caluniado. Ela colocou em risco a vida de duas pessoas: a da mãe e a do filho.
Diante da situação, o responsável pelo setor de compras da Santa Casa, Tiago Soares de Oliveira Vidal, escreveu ofício pedindo a substituição de Carolina para “preservá-la até que os fatos sejam esclarecidos”. Segundo a assessoria da Santa Casa, o documento, no entanto, não chegou à Cooperativa dos Anestesiologistas de Ribeirão Preto porque o interventor do Hospital, Eduardo Petrov, que estava fora no dia do ocorrido, não concordou com o pedido. Segundo a assessoria, “alguém fotografou o documento e o enviou”:
— A Dra. Carolina possui uma denúncia de omissão de socorro e coincidentemente, na mesma época, ela fez essa denúncia de uma possível injúria racial. Então ficou uma discussão entre médicos. Foi aberta uma sindicância interna, em que vários profissionais já foram ouvidos, e o Hospital vai apresentar os relatos ao Ministério Público. O Hospital não tem poder para punir um dos dois e nem tem essa intenção — disse ao Extra a assessora da Santa Casa, Vera Godoy, que também não apresentou a suposta reclamação a Carolina.
A Cooperativa informou que recebeu o documento, mas que não acatou ao pedido de afastamento porque o documento não tem a assinatura do interventor da Santa Casa.
Fonte: Extra