Envolvida nas investigações da Operação Lava Jato, a construtora Mendes Júnior vai sair da obra da Transposição do Rio São Francisco. A empreiteira apresentou o pedido ao Ministério da Integração Nacional em junho e a pasta afirmou que analisa, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), como fará a substituição da empresa. O governo federal frisou que, apesar da decisão da Mendes Júnior, a obra, já atrasada em seis anos, não está parada.
“Estamos buscando fazer um processo de transição sem que haja prejuízo de prazo. O otimismo é que nós vamos encontrar uma solução. A obra não está parada”, afirmou o ministro Helder Barbalho em nota enviada pela assessoria de imprensa da pasta.
O ministério tem dois contratos com a Mendes Júnior para construção das estruturas de engenharia da primeira etapa do eixo norte da transposição, um trecho de 140 quilômetros de extensão entre Cabrobó, no Sertão de Pernambuco e o início do reservatório de Jati, no Ceará. São três estações de bombeamento, canais, reservatórios e túnel. Essa etapa está com 87,7% de avanço.
Embora a Mendes Júnior tenha decidido deixar o empreendimento, a Integração Nacional continua prometendo a conclusão da transposição para o fim do ano. O argumento do governo federal é que os repasses financeiros mensais para o projeto aumentaram em até 43% desde maio, quando, já contando os eixos norte e leste, 87,4% estavam concluídos.
A construção do canal da transposição começou em 2007, com previsão inicial de acabar três anos depois, já levando água para 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, todos vítimas da seca constantemente. As obras se prolongam até hoje. Em quase 10 anos, o orçamento passou de R$ 4,5 milhões para R$ 8,2 milhões.
Em Pernambuco, além do problema na própria Transposição, há ainda o Ramal do Agreste, que vai levar a água do eixo leste para a Adutora do Agreste. Sem isso, o canal não ajuda essa região de Pernambuco. Orçada em R$ 1,2 bilhão, a obra já foi de responsabilidade do Ministério da Integração, passou para o governo estadual e depoisvoltou para a gestão federal, sem dar andamento à obra. A adutora, no entanto, não está em situação muito melhor; a construção, iniciada em 2013, está em ritmo lento.
OUTROS PROBLEMAS NA CONSTRUTORA – Com problemas financeiros e para a obtenção de crédito após o envolvimento na Lava Jato, a Mendes Júnior já deixou outras obras no Estado. Uma delas é o Corredor Leste-Oeste, obra de mobilidade previsto para a Copa do Mundo de dois anos atrás e que nunca ficou pronto; agora, com dois terminais integrados e estações de BRT (Bus Rapid Transit) ainda sem conclusão, será necessário fazer uma nova licitação. Outra é a requalificação de um trecho de 30,7 quilômetros da BR-101 na Região Metropolitana do Recife. A ex-Controladoria Geral da União (atual Ministério da Transparência) declarou a empreiteira inidônea e a empresa terá que passar dois anos sem assinar novos contratos. (Jamildo Melo)