Mensagens mostram PM acobertando traficantes: “A gente não mexe em nada, nem se aperreie”

MPPE denunciou cinco PMs por participação na quadrilha dos “Gêmeos de Santo Amaro”, que atua no tráfico de drogas no centro do Recife

Por: Felipe Resk, do DP
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Armas apreendidas na segunda fase da Operação Blindados (Divulgação/PCPE)

Cinco policiais militares foram denunciados por envolvimento na quadrilha dos traficantes Thiago e Bruno Teixeira de Oliveira, mais conhecidos como os “Gêmeos de Santo Amaro”. A organização atua no centro do Recife e também estaria ligada a homicídios na região.

Segundo o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), os PMs “prestavam total apoio à referida organização criminosa”. Os serviços incluem proteger os traficantes, informá-los sobre ações policiais, colocar viaturas à disposição dos criminosos e até deixar de fazer flagrantes nas áreas dominadas pelo bando. A denúncia foi oferecida no dia 19 de dezembro.
O grupo foi alvo da Operação Blindados, deflagrada pela Polícia Civil, em novembro. A descoberta da participação dos policiais aconteceu após a quebra do sigilo telefônicos dos “Gêmeos de Santo Amaro”, que foram presos anteriormente, em janeiro.

Uma dessas mensagens, atribuída ao PM Rayner Thainan Ferreira Santos, de 31 anos, mostra o agente acobertando os negócios dos traficantes, de acordo com a promotoria.

“Agora, a minha equipe é eu e o Galego, mas nem se preocupe, nada mudou. O Galego já está alinhado, já. A gente não mexe em nada lá, nem se aperreie”, diz trecho da transcrição. “Agora, um negócio que eu ia falar contigo [é] para a turma dar uma diminuída na maconha, pô. Toda vez, a gente passa ali. Também é tirar a gente de otário, tá ligado?”.

De acordo com a investigação, “Galego” seria o apelido de Arthur Luiz Sampaio, de 33 anos, que também é PM e fazia dupla com Rayner nas ruas. Ambos foram denunciados pelo MPPE por crime de organização criminosa.
Já em outra mensagem, também atribuída a Rayner, o interlocutor pede para um dos “Gêmeos” lhe dar um quilo de maconha. Segundo a promotoria, o favor serviria para o agente cumprir a meta de produtividade no batalhão.
“Eu lembro que tu falou para mim que tem uns quilos mofado e pá. Eu queria que tu deixasse 1 kg para mim dessa… Desse preto aí, que tu tem mofado, velho, que não serve mais para nada. Que é para eu apresentar, tá ligado? Para eu bater minha meta, entendeu?”.
Em interrogatório, Rayner afirmou que sempre trabalhou no 16° Batalhão da PMPE, mas negou participação na quadrilha e alegou que o telefone grampeado não era dele. Também afirmou que só conhecia o traficante por “já tê-lo abordado, quando de serviço”.
Outros denunciados
Ainda de acordo com o MPPE, o único policial que atuaria diretamente no tráfico de drogas era Ivison Francisco Alves Júnior, de 42 anos. A ele, é atribuída uma mensagem em que o interlocutor propõe uma parceria para “venderem cocaína e ficarem ricos”. O PM está preso por ter sido flagrado escoltando uma carga roubada.
Também foram denunciados os policiais militares José Tarcísio de Carvalho Pereira, de 42 anos, e Valter Mendonça de Azevedo, de 49, que é acusado de repassar informações privilegiadas e ajudar os traficantes na compra de munições e acessórios de armas de fogo.
A denúncia incluiu, ainda, o chamado “núcleo civil”, formado por outros seis contadores, distribuidores e traficantes de drogas. Entre eles, estão Sales Vinicíus Barros de França Silva, de 22 anos, e Lázaro Henrique Barros de França, que são filhos de um dos principais gerentes do bando.
No documento, a promotora Henriqueta de Belli Leite de Albuquerque também pediu a prisão preventiva de todos os acusados – exceto de uma mulher que é primária e está grávida.

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