Mesmo raro, câncer infantil é 1ª causa de morte por doença até 19 anos

Leucemia é o câncer infantil de maior prevalência, seguida pelos tumores do sistema nervoso central

Por: Jane Fernandes

Chances de cura do câncer infantil variam de 70% a 80%
Chances de cura do câncer infantil variam de 70% a 80% – 

Expressão referente a uma série de tumores que podem acometer crianças e adolescentes, o câncer infantil é considerado um tipo raro, mas significativo nas estatísticas de mortalidade. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam esse grupo de neoplasias como a doença que mais provoca morte em brasileiros com idade entre 0 e 19 anos.

Segundo a oncopediatra Luciana Nunes, do Hospital Santa Izabel, a leucemia é o câncer infantil de maior prevalência, seguida pelos tumores do sistema nervoso central e pelos linfomas, que se revezam na ocupação do segundo e terceiro lugar do ranking. “Mas existem outros que são muito importantes, como os tumores abdominais, os neuroblastomas, os sarcomas de partes moles, os tumores ósseos que são os osteossarcomas e os tumores de células germinativas”, completa.

A leucemia afeta a produção de glóbulos brancos na medula óssea e ocorre com diferentes níveis de gravidade, já os tumores do sistema nervoso central (SNC) e os linfomas podem atingir diferentes partes do corpo. No primeiro caso, o tumor pode atingir tecidos do cérebro e/ou da medula espinhal. Os linfomas surgem nos gânglios linfáticos, presentes em todo o corpo, mas os gânglios maiores se localizam no pescoço, tórax e barriga, fazendo com que sejam áreas mais atingidas.

Apesar da liderança como causa de morte provocada por doença entre crianças e adolescentes, as chances de cura do câncer infantil variam de 70% a 80%, considerando uma média geral. Luciana explica que essa posição não significa alta letalidade dos tumores incluídos no câncer infantil – embora alguns tipos sejam especialmente agressivos e de cura difícil -, e sim é resultado do maior controle das doenças infectocontagiosas, com redução expressiva das mortes geradas por elas.

“Para mim, o tumor do sistema nervoso central desafia muito, porque além de todo o problema do câncer em si, do tratamento, da quimioterapia, ele é um tumor que debilita muito a criança por causa da cirurgia. Boa parte desses tumores precisam do tratamento cirúrgico e a cirurgia muitas vezes acaba trazendo muitas sequelas e isso frequentemente é o que mais impacta a qualidade de vida dos pacientes a longo prazo”, comenta.

Enquanto o câncer em adultos está associado a uma série de fatores de risco, possibilitando a adoção de hábitos de vida capazes de auxiliar na prevenção, as neoplasias infantis não são preveníveis.

“Recentemente a gente tem observado que algumas famílias têm um risco maior de câncer familiar e que podem estar associados a alguns cânceres infantis também”, diz médica, acrescentando que cerca de 10% dos casos pediátricos ocorrem em famílias com esse tipo de predisposição. Ela comenta que existem alguns estudos, ainda não conclusivos, sobre um risco aumentado de alguns tipos de câncer infantil, a exemplo do neuroblastoma, em crianças geradas por fertilização in vitro.

Para a oncopediatra, além do diagnóstico precoce – fundamental tanto em pacientes pediátricos quanto adultos -, as chances de cura do câncer infantil são fortemente influenciadas pela disponibilidade de serviços com médicos experientes e equipe multidisciplinar bem articulada. “É muito importante que o paciente esteja em um centro de referência em oncologia pediátrica”, reforça.

O Santa Izabel é um dos centros de referência e foi lá que Arthur Navarro, de 8 anos, concluiu seu tratamento de leucemia linfóide aguda tipo B recentemente. De acordo com a mãe dele, Diana Navarro, o diagnóstico ocorreu em maio de 2021, após uma suspeita levantada em exames de rotina. “O laboratório me ligou, perguntando se ele estava internado, eu disse que não. Eles pediram para falar com o pediatra dele. O pediatra me ligou, pediu novos exames e me mandou para um hematologista”, recorda.

“Ele apresentava cansaço e manchas roxas na pele, mas não associei a nada. Achei que o cansaço fosse falta de exercícios físicos, já que estávamos na pandemia. E as marchas porque ele sempre se batia”, conta Diana. Ela conta que tudo aconteceu muito rapidamente, pois os exames foram feitos numa quarta-feira, refeitos na quinta e na sexta-feira, Arthur já foi internado.

No início, o menino não entendia muito bem os motivos para estar internado, mas a mãe e os médicos explicaram que precisavam consertar a “fábrica de sangue” dele e então Arthur foi aprendendo a lidar com o tratamento. Tanto o menino quanto a mãe contaram com acompanhamento psicológico para atravessar todo o período, que incluiu vivenciar efeitos colaterais, mas isso ficou para trás, pois a última sessão de quimioterapia dele ocorreu em dezembro do ano passado.

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