“Meu erro foi acreditar em você”: Fritz Thyssen, o financiador de Hitler 

No começo, Fritz acreditava que o Adolf poderia tirar a Alemanha da ruína, contudo, o cenário mudou após a Noite dos Cristais Quebrados

Rodrigo Trespach
Fritz Thyssen em imagem
Fritz Thyssen em imagem – Domínio Público

Hoje é difícil pensar em qualquer evento histórico e dissociá-lo das trajetórias de vida tanto dos protagonistas quanto dos coadjuvantes. Dessa forma, entender como nazismo e Holocausto foram possíveis passa pelo conhecimento de biografias e a vasta trama de enredos individuais.

Para além dos principais personagens do sombrio período do Terceiro Reich (1933-1945), selecionamos três nomes pouco conhecidos que servem de exemplo de como seus roteiros de vida, somados aos de outros, levou a Alemanha e a humanidade até a catástrofe.

A história do primeiro deles, você conhece agora.

Crítico de Weimar

Nacionalista convicto, Fritz Thyssen (1873-1951) era um produto típico da Europa do final do século 19 e começo do século 20. Herdeiro de um dos industriais mais ricos da Alemanha, ele estudou em diversas cidades europeias e, após um curto período de serviço no Exército alemão, assumiu vários cargos no grupo de empresas que o pai criara no começo dos anos 1890, no vale do Ruhr – a Thyssen explorava minas de carvão e minério de ferro e produzia aço.

Em 1900, Fritz se casou com a filha de um dono de fábrica. Com a derrota alemã na Primeira Guerra e a ocupação do Ruhr por tropas francesas e belgas, ele se tornou um ativista da resistência passiva e defensor da restauração da monarquia, sendo inclusive preso e julgado por uma corte francesa.

Crítico da República de Weimar (1919-1933), que ele considerava um desastre, viu em Hitler um meio de barrar o crescimento do comunismo e salvar a Alemanha de uma catástrofe. Naquele ano, por meio do general Erich Ludendorff (1865-1937), Fritz doou ao Partido Nazista 100 mil marcos em ouro.

Pintura do livro “Adolf Hitler – Fotos da vida do líder” //Crédito – Getty Images

 

Ele ainda ajudou Hitler na compra da Casa Marrom, sede do Partido Nazista, e no financiamento de suas campanhas eleitorais. Em uma década, as contribuições chegaram a 1 milhão de marcos. Em 1931, ele entrou para o Partido Nazista.

Propriedade privada

No ano seguinte, convidou Hitler para falar aos industriais. O líder nazista falou a um seleto grupo, garantiu um governo forte, defendeu a propriedade privada e o combate ao comunismo.

Bastou para que Hitler conseguisse o apoio de que o partido precisava para as eleições de 1932. “Estou firmemente convencido de que somente este homem pode salvar a Alemanha da ruína e da desgraça”, afirmou Fritz.

A ascensão dos nazistas ao poder favoreceu a Thyssen. Fritz foi nomeado conselheiro do Estado prussiano, próximo a Göring, que defendia uma linha menos “à esquerda” para o nazismo, e se elegeu para o Reichstag.

À medida que Hitler passou a controlar o Estado e a economia alemã da mesma forma que o comunismo na URSS, porém, a relação de Fritz com o Führer começou a ruir. Inquietava-o também o anticatolicismo nazista, assim como o antissemitismo.

O industrial ficou profundamente chocado com a Noite dos Cristais, em 1938; “os judeus foram roubados e torturados de maneira covarde e brutal”, escreveu ele. Após o Pacto Molotov-Ribbentrop, Fritz fugiu para a Suíça e enviou uma carta a Hitler, em dezembro de 1939.

“Minha consciência está limpa”, começava a missiva, “me sinto livre de qualquer culpa. Meu único erro foi acreditar em você”. A perseguição ao cristianismo, aos padres e a “profanação das igrejas” eram injustificáveis e precisavam parar.

Pediu a Hitler que o escutasse e ouviria a “voz de uma nação atormentada”, clamou pela restauração da liberdade e por humanidade. Um Führer irado ordenou o confisco de seus bens e a cassação da cidadania alemã.

Em 1940, Fritz se refugiou na França, onde escreveu Eu Financiei Hitler, publicado no ano seguinte na Inglaterra. Capturado pelo governo colaboracionista de Vichy e entregue a Gestapo, foi enviado para a Alemanha, onde passou por vários campos de concentração.

Com o fim da guerra, foi preso pelos Aliados, passou por um processo de desnazificação, sendo solto em 1948. Morreu no ano seguinte, na Argentina.


Personagens do Terceiro Reich

Rodrigo Trespach é autor de Personagens do Terceiro Reich ― A história dos principais nomes do nazismo e da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

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Personagens do Terceiro Reich, de Rodrigo Trespach (2020) / Crédito: Divulgação / Editora 106

Em uma nova abordagem, o autor revela detalhes de um dos tempos mais sombrios da História, a partir da biografia de diversas pessoas cujas trajetórias se cruzaram neste período.

Da ascensão do regime nazista até a vitória dos Aliados, Trespach revela os principais nomes que possuíam relação ― direta ou indiretamente ― com o Terceiro Reich.

Dentre os personagens citados é possível encontrar: Goebbels, a cabeça da propaganda nazista; Himmler, o líder da SS; Mengele, o sádico médico; Keitel, o conselheiro; Bonhoeffer, o teólogo da resistência; e Stauffenberg, o oficial antinazista.

Trespach explica, ainda, fatos poucos mencionados nos livros de História, como o uso de trabalho escravo por parte de empresas alemãs, durante o regime nazista na Alemanha.

 

 

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