Milei provoca crise inédita com Brasil e Itamaraty está em alerta

“Se Milei agredir o presidente brasileiro no Brasil, não se descarta até a retirada do representante diplomático do nosso país na Argentina”, diz Marcia Carmo

Lula e Milei
Lula e Milei (Foto: Ricardo Stuckert / PR | Agustin Marcarian/Reuters)
Por: Marcia Carmo

O presidente da Argentina, Javier Milei, estará neste fim de semana em Camboriú, em Santa Catarina, para participar de evento da direita radical com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Eles falarão na Conferência Política da Ação Conservadora (CPAC), que nasceu no início dos anos setenta nos Estados Unidos. Ao participar do encontro com os Bolsonaro e, além disso, não comparecer à reunião do Mercosul, na segunda-feira (8), em Assunção, no Paraguai, Milei opta por intensificar o confronto com o presidente Lula, “ignorando os interesses da Argentina”, segundo analistas argentinos. Milei desembarcará no Brasil após ter ampliado seus ataques contra o Chefe de Estado brasileiro – “comunista”, “corrupto”, “esquerdinha com ego inflado”, disse em entrevista ao canal LN+, de Buenos Aires. Lula passou 580 dias na prisão, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a sentença, por entender que as provas eram armadas e porque Lula não teve direito de se defender. O cárcere de Lula foi considerado “um erro histórico”, o que é ignorado por Milei.

Nesta semana, do lado brasileiro, a decisão foi a de não responder aos novos ataques de Milei, depois que o presidente Lula já lhe tinha exigido um pedido de desculpas a ele e ao Brasil (na entrevista, Milei, exaltado, disse que era ele quem merecia essas desculpas por entender que o governo brasileiro apoiou seu adversário político Sergio Massa na corrida à Casa Rosada).

As atitudes de Milei geram uma crise sem precedentes entre a Argentina e o Brasil, deixando o Itamaraty em alerta e atento ao discurso que ele fará, neste fim de semana, em Camboriú. Se Milei agredir o presidente brasileiro, no Brasil, não se descarta uma crise diplomática com a chamada para consultas do embaixador brasileiro, Julio Bitelli, e – em (muito) último caso – até a retirada do representante diplomático do nosso país na Argentina. Somente no início do século passado os dois países tiveram uma crise grave. Nas últimas décadas, a parceria entre os dois países cresceu, incluindo políticas comuns para as áreas de comércio, direitos humanos, cultura, entre outros. Mas seis meses após tomar posse, os discursos de campanha de Milei não mudaram e a relação entre os principais sócios do Mercosul e principais parceiros na América do Sul corre perigo de retrocesso.

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