Ministério Público começa a investigar abandono do Teatro Valdemar de Oliveira
Promotor destaca a importância da proteção do patrimônio cultural; teatro está abandonado desde 2023
Rômulo Chico/ DP Foto |
O Ministério Público de Pernambuco se pronunciou a respeito da situação de abandono do Teatro Valdemar de Oliveira, um dos mais tradicionais do estado, que está fechado desde 2020 e abandonado desde 2023.
Em portaria divulgada no Diário Oficial do MPPE na última quinta-feira (16) e assinada pelo promotor Sérgio Gadelha Souto, foi divulgada a instauração de procedimento administrativo para investigar o caso.
No documento, o promotor destaca a importância da proteção do patrimônio cultural como obrigação imposta ao poder público, com a colaboração da comunidade, independentemente do tombamento, que ele descreve como apenas uma das ferramentoas de acautelamento e preservação.
Ele destaca ainda que “determinados bens podem vir a ser determinados bens podem vir a ser reconhecidos como de relevância histórico-cultural, ainda que não sejam portadores de grandeza, excepcionalidade e monumentalidade, mas que sejam referência à memória da cidade”.
A denúncia foi feita pelo grupo João Teimoso, representado pelo diretor geral Oséas de Moraes, também coordenador do Movimento Guerrilha Cultural, que entrou com o pedido de tombamento do patrimônio em dezembro de 2022.
Na manifesção ao MPPE, o grupo de teatro havia reportado que o Valdemar de Oliveira estava sofrendo uma série de depredações, roubos e invasões que começaram ainda no começo da pandemia, em 2020, quando o espaço foi fechado.
Ao Diario, Oséas falou sobre o objetivo da denúncia. “A nossa intenção é preservar a memória do TAP e do Valdemar de Oliveira, que faz parte da história não só da gente do teatro, mas de Pernambuco e do Brasil. Não vai ser um incêndio e a depredação que impedirão o teatro de se reerguer. Acreditamos na reconstrução dele e que os governos vão chegar junto com suas responsabilidades”, afirmou.
“Estamos fazendo o mesmo caminho feito com o Teatro do Parque, quando entramos em uma ação no MPPE entre 2015 e 2016 e, após duas audiências, as obras começaram a andar”, lembrou o diretor do grupo João Teimoso.
A situação de abandono se acentuou em 6 de fevereiro de 2024, com o incêndio que devastou a estrutura já abandonada do teatro, tomando conta da sala de espetáculos, a biblioteca Samuel Campelo (nome de um dos principais artistas do teatro pernambucano e fundador do grupo Gente Nossa, precursor do TAP), que continha textos e livros sobre o teatro, revistas estrangeiras, coleções, correspondências e enciclopédias e documentos da época do Nosso Teatro.
Foto: Arquivo |
A HISTÓRIA
Localizado na Praça Oswaldo Cruz, a casa foi inaugurada com o nome de Nosso Teatro, em 1971, fundada pelo grupo Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). O coletivo que deu à luz ao espaço e de importância inestimável para a cultura do estado através das décadas foi criado em 1941 pelo médico, escritor, ator e músico recifense Valdemar de Oliveira. Com o seu falecimento, em abril de 1977, o nome do equipamento cultural foi alterado para Teatro Valdemar de Oliveira no dia 23 do mês seguinte.
O TAP foi durante anos referendado por todo o Brasil pelo seu trabalho de profissionalização de atores e diálogo com múltiplas experimentações e inovações na cena teatral da época, mantendo as atividades da sua sede durante todas as últimas décadas desde a inauguração, mesmo enfrentando grandes desafios pelo caminho. Um deles foi um primeiro incêndio ocorrido em outubro de 1980, provocado por um curto-circuito na luz negra do palco e que começou pelas cortinas, se alastrando pela sala principal.