Ministro fraco fortalece a crise
Recessão, com uma queda no PIB de 1,9% no trimestre; inflação de quase 10% ao ano e ainda sem sinal de declínio; contas públicas tão desequilibradas que o governo acabou encaminhando uma inédita proposta de Orçamento com déficit ao Congresso – não são poucos os problemas econômicos pelos quais o Brasil está passando neste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
O governo, entretanto, parece não achar suficientes os componentes de crise: nas últimas semanas, a própria presidente e alguns de seus principais auxiliares deixaram evidentes sinais de fraqueza do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vencido em embates no Planalto. Rumores sobre a demissão do ministro e mudanças na política econômica alimentaram o mercado especulativo nos últimos dias, fazendo o dólar disparar e ações na Bolsa subirem e descerem aos sabores dos últimos fatos – ou boatos.
Sem conseguir reduzir significativamente os gastos do governo, com medidas do ajuste fiscal bombardeadas no Congresso até pelo PT da presidente e a recessão derrubando a arrecadação, Levy vem perdendo a batalha e o discurso pelo equilíbrio das contas. O fogo da fritura aumentou com a preparação da proposta de Orçamento do governo para 2016, onde os sinais do Planalto indicaram divergências entre os ministros da Fazenda e do Planejamento.
Levy defendia a redução de gastos para equilibrar as despesas com as receitas em queda; Nelson Barbosa queria equilibrar a conta com o aumento de impostos – a proposta da nova CPMF, o antigo imposto do cheque com nova roupagem, foi gerada nos gabinetes do Planejamento. O novo imposto, felizmente, parece ter sido sepultado pela própria Dilma, três dias depois de ter dado sinais de que podia ser ressuscitado. E a semana começou com o governo enviando ao Congresso uma proposta orçamentária com déficit – pelo menos, R$ 30 bilhões estão faltando para a receita ficar do tamanho da despesa.
Tudo indica que o ministro da Fazenda, principal fiador do ajuste fiscal e da política econômica do governo Dilma, saiu derrotado nos dois episódios. Economista respeitado, Levy é bem visto pelo setor produtivo – apesar das reclamações dos empresários sobre os aumentos de impostos. Sua saída comprometeria a credibilidade do governo nessa área, onde ele já está muito mal das pernas. Uma das principais razões para a recessão é a falta de confiança de empresários e consumidores.
Nessas duas semanas, em vez de fortalecer seu principal ministro e a política econômica, a presidente Dilma só deu sinais desencontrados, deixando perplexos aqueles que tentam entender a estratégia econômica do governo. Para enfrentar e superar a recessão, o Brasil precisa de políticas claras e o equilíbrio nas contas do governo, compromissos do ministro Levy. Pode estar ruim com ele e certamente não vai melhorar sem ele – mas não pode haver cenário pior do que um ministro da Fazenda fraco em plena crise econômica.