Missa do vaqueiro em defesa do seu nome

Por Roberto Pereira – para o Jornal do Commercio

A Missa do Vaqueiro, assim batizada desde o seu nascimento, em 1970, é um ato da liturgia católica, que se realiza anualmente, sempre com orações e muita fé, em sufrágio da alma de Raimundo Jacó e que costuma contar com os vaqueiros da região, reunidos a céu aberto, no sítio Lages, zona rural de Serrita, sertão pernambucano onde o sol escaldante faz o calor aquecer os corações sofridos pelo choro da ausência do vaqueiro Jacó.

A origem desta celebração decorre da comoção causada pela barbárie impune em decorrência do assassinato do vaqueiro Raimundo Jacó, encontrado morto em 1954, em pleno mês de julho, no sítio Lages onde hoje se encontra o Parque Nacional do Vaqueiro.

Nos primeiros anos, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, participou, até o seu desenlace, cantando e encantando com a magia da sua voz, louvando o seu primo Jacó, a quem ele, reverenciando o seu espírito, elevava, com os seus aboios, a figura emblemática do sertão, o vaqueiro, em especial a Raimundo Jacó.

Destaque para os shows de grandes cantores contratados para a parte profana da liturgia, e que promovem o cometimento espiritual para os que encontram, na música, os seus encantos.

Como compreender, minha gente, que, agora, 54 anos depois, possam políticos desprevenidos e desavisados, tentar mudar o nome do evento, numa agressão de lesa-cultura aos que lutam pela preservação dos nomes que dão relevo aos eventos, às ruas, às avenidas, aos monumentos, às instituições, etc.

A Missa do Vaqueiro, que é de autoria do padre João Câncio, patrono da Fundação que leva o seu nome e tem como acervo principal a Missa do Vaqueiro, é Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco, num reconhecimento do Estado à grandeza do evento, numa incorporação à argamassa da cultura do nosso povo, além de ser com este nome batismal um produto turístico de Pernambuco para o mundo.

Por que mudar o nome da missa para a Festa de Jacó? Compreende-se que a liturgia em questão, quanto mais se chamar por seu nome de origem, a Missa do Vaqueiro, quanto mais será a Festa de Jacó, porque sendo do vaqueiro, é também de Jacó, e quanto mais missa, mais festa.

Gonzaga tinha em Raimundo Jacó o grande vaqueiro, o grande aboiador, capaz de conduzir o gado na paisagem entre matos e matas. A sua canção, A Morte do Vaqueiro, é um grito de saudade, homenageando o primo Jacó.

Assim canta, no início da sua composição, o inesquecível Rei do Baião:

Numa tarde bem tristonha

Gado muge sem parar

Lamentando seu vaqueiro

Que não vem mais aboiar

Não vem mais aboiar

Tão dolente a cantar.

Que a Missa do Vaqueiro conserve o seu nome de origem, mantendo em nós o encanto de uma liturgia que reza preces em defesa de um espírito tão do Sertão e tão do nosso coração!

Roberto Pereira é ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo

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