Mistério de anos: O esqueleto enterrado com um pássaro na boca descoberto em uma caverna
Na década de 1960, na Polônia, um cadáver de uma criança em condições inusitadas instigaram os pesquisadores — que em 2021 decidiram reexaminar a descoberta
Na caverna Tunel Wielki, localizada no sul da Polônia, um esqueleto inusitado chamou atenção do arqueólogo Waldemar Chmielewski, que inspecionava a antiga região. Ainda que o cadáver tenha sido encontrado há mais de 50 anos, em expedições que ocorreram entre 1967 e 1968, estudos recentes revelaram mais detalhes sobre o caso.
O cadáver impressionou os estudiosos por um detalhe estranho: o corpo havia sido enterrado com um pássaro tentilhão em sua boca. Além da localização bastante incomum, visto que não havia nenhum outro enterro na caverna.
Datação por radiocarbono realizada por equipes da Universidade de Varsóvia e da Universidade Jaguelônica, na Polônia, revelou que o esqueleto pertencia a uma menina que morreu entre 10 e 12 anos de idade, há cerca de 300 anos.
Um dos autores do estudo, Michał Wojenka, do Instituto de Arqueologia da universidade polonesa, apontou as características insólitas em um artigo publicado no jornal alemão Prehistoric Journal, no final de maio de 2021, repercutido pela Live Science.
“Os enterros em cavernas geralmente estão ausentes dos períodos históricos na Europa”, diz trecho da pesquisa. Os pesquisadores ainda enfatizaram que desde a Idade Média, os europeus deixaram de realizar enterros em cavernas e optaram por cemitérios.
“Consequentemente, a descoberta da inumação pós-medieval de uma criança enterrada com pelo menos uma cabeça de pássaro colocada na boca na caverna Tunel Wielki é um achado excepcional.”
Um mistério de 300 anos
Além da locação incomum, a presença do pássaro na boca da criança morta também chamou atenção. Nenhum outro item foi encontrado na caverna, dificultando a compreensão da cena antiga. “Entre muitas culturas, as almas das crianças também foram concebidas na forma de pequenos pássaros”, disseram os especialistas.
“No entanto, no período em questão, os pássaros nunca foram depositados em túmulos, muito menos colocados na boca do falecido. O enigma do sepultamento de uma criança única da caverna Tunel Wielki não pode ser totalmente explicado”, acrescentaram.
A causa da morte do esqueleto também é um enigma que permanece em aberto. Análises não apontaram a presença de traumas, lesões ou doenças que ajudassem a entender como a vítima morreu em tão pouca idade.
Informações coletadas através de amostras de DNA, entretanto, sugerem que a menina era de uma área ao norte da Polônia, bem distante de onde foi enterrada. Assim, os pesquisadores, acreditam que ela nascera na Finlândia ou ainda na Carélia.
Uma hipótese é levantada
Seguindo pela direção de que a garota pertencia a culturas da Finlândia ou Carélia, a equipe relacionou sua morte com os conflitos de 1655 a 1657. No período, o rei Carlos X Gustavo da Suécia liderava uma ocupação no país europeu.
Entre muitos soldados presentes do exército do monarca, havia homens da Carélia e Finlândia. “Os soldados, em sua maioria de baixa patente, eram comumente acompanhados por esposas, amantes e às vezes criadas”, escreveram os autores.
Seria possível então, que a menina encontrada na caverna, tenha sido uma acompanhante de um combatente e, por razão desconhecida, tenha morrido em conflito. Revivendo tradições antigas da Carélia, do século 19, era bastante comum que as pessoas que perdessem a vida em florestas fossem enterradas no mesmo local.
“Historicamente, esse costume parece enraizado em concepções cosmológicas de uma floresta como sendo um cemitério”, explicaram em trecho da pesquisa.
Uma importante evidência que sustenta a teoria é o fato de que alguns soldados e suas famílias estão enterrados no Castelo de Ojców, que fica nas proximidades da caverna Tunel Wielki. A garota só teria sido deixada na gruta por ter morrido em situação hostil, em meio às árvores.