Na estação, como de costume, ele comprou um bilhete de trem para Ploiesti. Tudo seguia à risca o que ele costumava a fazer havia anos. Mas não foi o que aconteceu.

À noite, a família começou a se preocupar. Vasile não retornou. Semanas depois, nenhum sinal do fazendeiro. A casa foi tomada por um silêncio devastador, só cortado com a visita de parentes e amigos para prestar solidariedade.

Os esforços para localizar o paradeiro de Vasile foram em vão. Pistas surgiam e sumiam com a mesma velocidade.

Porém, misteriosamente, 30 anos depois, em 29 de agosto de 2021, o romeno voltou para casa. Incrivelmente, com a mesma roupa com a qual sumira e com o bilhete do trem em um dos bolsos do casaco.

Um carro parou diante da casa do fazendeiro, e Vasile saltou. Antes que alguém pudesse perguntar qualquer coisa, o motorista arrancou, deixando uma nuvem de poeira, o que impossibilitou que alguém anotasse a placa e o tipo do veículo.

Familiares ficaram chocados com a aquela figura de volta diante deles, como se o tempo não tivesse passado.

“Onde você esteve todo esse tempo?”, perguntou a filha, de acordo com reportagem da România TV News.

“Em casa. Sempre estive em casa”, rebateu o idoso, de 93 anos.

Mesmo após três décadas de desaparecimento, para Vasile parecia que haviam se passado apenas algumas horas.

A alegria pelo retorno se misturou com inquietação. O que teria acontecido com Vasile nesses 30 anos?

“Você está bem, papai?”, indagou a filha.

“Sim, estou bem. Só um pouco cansado”, respondeu ele.

Apesar da fragilidade da idade, o corpo do fazendeiro não mostrava qualquer sinal de abuso ou desnutrição, rejeitando a teoria de que pudesse ter estado em cativeiro. Sua saúde era compatível com a idade.

Os dias se passaram, e Vasile continuava sem memória dos últimos 30 anos. A história chamou bastante atenção da imprensa e era assunto constante entre moradores de Bacau e de cidades vizinhas. Algumas teorias surgiram:

• Vasile decidiu, de um dia para o outro, deixar a vida que tinha para trás. Encontrou um lugar para recomeçar onde ninguém o conhecia e não regressou à família original. Criou novos laços familiares até que um dia acabou “despejado”. Mas por que retornara com a mesma roupa e com o bilhete de trem daquele fatídico dia de 1991?
• O fazendeiro foi vítima de sequestro. Mas como explicar a ausência de sinais de maus-tratos? Talvez tivesse, de alguma forma, sido “integrado” ao lar dos sequestradores, teorizaram alguns. Com a memória de Vasile debilitada, os captores se sentiram seguros para “devolver” o idoso.
• Vasile foi alvo de algum tipo de experiência científica. Num país em que muitos desapareceram durante o regime brutal de Ceaușescu, histórias de programas secretos do governo eram recorrentes entre a população, especialmente fora da capital, Bucareste.
• O desaparecimento de Vasile estava ligado aos mistérios do bosque Hoia Baciu, situado nas proximidades de Cluj-Napoca, na Transilvânia. A região, famosa por abrigar fenômenos aparentemente inexplicáveis, ficou conhecida como o “Triângulo das Bermudas da Transilvânia”. A localidade teria sido cenário de muitos desaparecimentos, avistamentos de óvnis e eventos paranormais. Comentava-se que algumas pessoas que entravam na mata experimentavam uma sensação de congelamento do tempo, saindo com a sensação de que haviam passado alguns minutos no bosque quando, na verdade, tinham estado lá por horas, dias ou mais tempo. Alguns moradores disseram ter visto “luzes estranhas” no céu na noite em que Vasile retornou para casa.

Vasile continuava a viver com estranha normalidade. Repetia a todos que não havia saído de casa.

Aos poucos, a história do desaparecimento e do retorno de Vasile foi esfriando na mídia, para quem parecia claro que o caso nunca seria explicado. A saúde do fazendeiro foi se deteriorando. Os esquecimentos se tornaram mais frequentes. O romeno começou a se esquecer da filha e volta e meia era visto olhando fixamente para o bilhete de trem de 1991.

Numa manhã de outono, a filha encontrou Vasile morto na sua cama. O fazendeiro morreu dormindo, levando com ele todas as respostas para o mistério que, ainda hoje, quase dois anos após a sua morte, reaparece em rodas de conversa em Bacau e, certamente, será passado de geração para geração. Novas teorias, provavelmente, vão surgir.