Morre Fréderic Le Play, precursor da Sociologia

Por: Ana Carolina Jucá

Foi pioneiro no estudo da vida operária e da estrutura familiar; suas ideias inspiram doutrinas da direita

Pierre-Guillaume Frédéric Le Play, um dos fundadores da Sociologia e das pesquisas sobre as estruturas familiares, morre em Paris em 13 de maio de 1882. Sociólogo e economista de fortes convicções cristãs, Le Play foi dos pioneiros em estudar a condição operária. O historiador e sociólogo Emmanuel Todd não esconde a dívida em relação a ele no que diz respeito aos trabalhos sobre as estruturas familiares.

Nascido em La Rivière-Saint Sauver, na Normandia, em 1806. Diplomado pela Escola Politécnica, Le Play torna-se engenheiro de minas. Jovem ainda, se apaixona pelo mundo operário e viaja por toda a Europa, a pé na maior parte das vezes, para estudar as condições de vida dos trabalhadores, em particular dos mineiros, no começo da Revolução Industrial. Começa sua vida profissional lecionando na Escola de Minas. Foi encarregado de reorganizar as minas do Oural em 1850.

Publica em 1855 um livro monumental: “Os Operários Europeus” e, em 1864, “A Reforma Social”.

O período se prestava a esse gênero de estudos. Estava-se sob o Segundo Império e, de Napoleão III a Victor Hugo, passando pelos pintores Honoré Daumier e Jean-François Millet e o romancista Eugène Sue, as elites francesas e europeias eram sensíveis aos dramas da condição operária e em busca de soluções.

Note-se que esta compaixão não duraria. Paradoxalmente, ela se transformaria em temor e desprezo no final do século XIX sob a IIIª República. Críticos diziam que o escritor Émile Zola analisaria a condição operária como um entomologista examina os insetos. Quanto aos pintores impressionistas, em voga a partir dos anos 1870, preferiam os temas bucólicos às questões sociais.

Le Play, se prende em suas pesquisas in loco a observação minuciosa de um pequeno número de fatos deles extraindo analises de âmbito geral. Viria a considerar que os conflitos sociais são devidos aos mal-entendidos ideológicos resultantes da Revolução Francesa. Condena os “falsos dogmas” de 1789 e das “Luzes” sobre a bondade original do homem e a igualdade natural. Condena ao mesmo tempo a ideia segundo a qual a coesão social pode ser restabelecida pela ação do Estado e da revolução social.
A esses princípios que impregnavam o pensamento tradicional da esquerda, ele opõe uma concepção que coloca à frente a responsabilidade individual, a ética e o direito como fundamentos da harmonia social.

Le Play defendia, de resto, uma sociedade democrática, um regime parlamentar, uma economia de livre-mercado aberta para o mundo e uma atividade estimulada pela concorrência.

O sociólogo viria ao cabo de suas análises a considerar a família como o fundamento das sociedades humanas e sua principal instância.

Preconizava empresas organizadas sobre o modelo familiar e atribuía ao Estado a missão de preservar acima de tudo esse modelo, segundo os princípios editados desde a Alta Antiguidade, os Dez Mandamentos transmitido por Moisés ao povo hebreu.

Recomendava para as empresas do mundo industrial uma organização patriarcal inspirado no modelo familiar tradicional.

Esta ideia, longe do melhor de sua obra, seria retomada pela direita, por exemplo, pela Ação Francesa, um movimento monarquista de extrema-direita, no começo do século XX.

O “corporativismo” da Itália de Benito Mussolini encontraria inspiração no modelo do sociólogo francês.

Coberto de honrarias, torna-se conselheiro de Estado em 1855 depois senador de 1867 a 1870 no final do II Império. Até sua morte, recebeu em sua mesa pessoas de todas as tendências políticas e sociais.

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