Morre John Locke, o pai do liberalismo

Ana carolina Jucá
Pensador influenciou nomes como Rousseau, Voltaire, revolucionários franceses e norte-americanos
John Locke, amplamente reconhecido como “pai do Liberalismo”, morre em 28 de outubro de 1704 em Harlow, oeste da Inglaterra. O filósofo e medico inglês é considerado um dos principais empiristas britânicos e formuladores da teoria do contrato social. Sua obra teve grande impacto sobre o desenvolvimento da epistemologia e da filosofia política, influenciando nomes como Voltaire e Rousseau bem como os revolucionários franceses.
A teoria da mente é amiúde citada como origem das concepções de identidade e do ‘self’, figurando nos trabalhos posteriores de outros filósofos. Foi o primeiro a definir o ‘self’ por meio da continuidade da consciência. Ao contrário da filosofia pré-cartesiana, defendia que nascemos sem ideias inatas e que o conhecimento é determinado apenas pela experiência derivada das percepções sensoriais.Wikimedia Commons

Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, tendo crescido numa área rural perto de Bristol. Em 1647, foi enviado à prestigiosa Westminster School em Londres. Diplomou-se em medicina em 1674, trabalhando intensamente com cientistas e pensadores como Robert Boyle, Thomas Willis e Robert Hooke.

Passou a se envolver com política em 1672. Sete anos depois, escreveu a maior parte dos Dois Tratados sobre o Governo, em que expôs idéias sobre o direito natural e governo, consideradas bastante revolucionárias para aquele período da história.
Em 1683, na Holanda, redigiu as Cartas sobre a Tolerância. Somente voltou para casa após a Revolução Gloriosa. Na Inglaterra, o Ensaio acerca do Entendimento Humano, os Dois Tratados sobre o Governo Civil e as Cartas sobre a Tolerância foram publicados em rápida sucessão.
Locke exerceu profunda influência sobre a filosofia política, em especial, sobre o moderno liberalismo ao separar os domínios da Igreja e do Estado. Suas reflexões sobre liberdade e contrato social influenciaram mais tarde Alexander Hamilton, James Madison, Thomas Jefferson e outros “pais fundadores” dos Estados Unidos.
Contudo, a maior influência de Locke foi ao campo da epistemologia. Seu Ensaio sobre o Entendimento Humano (1690) marca o começo da moderna concepção de subjetividade. Escrevendo suas Cartas sobre a Tolerância (1689–92) em seguida às Guerras de Religião, formulou uma clássica reflexão sobre a tolerância religiosa, em que dizia que a religião não pode ser imposta pela violência e que isto levaria a mais desordem social.
Críticos de Locke, além de o acusarem de hipocrisia por escrever para justificar sua defesa da liberdade dos capitalistas ingleses, também o acusaram de e de racismo. Locke era investidor no mercado britânico de escravos negros por meio da Royal African Company. Foi também secretário do Conselho de Comércio e Plantações e membro da Direção do Comércio.
Ideologia
Locke usa a expressão propriedade no sentido amplo e estrito. No sentido amplo, cobre uma ampla gama de interesses e aspirações humanas. Mais estritamente, refere-se a bens materiais, dizendo tratar-se de direito natural e derivada do trabalho. Dizia que a natureza por si só confere pouco valor à sociedade e que o labor despendido na criação de bens atribuem-lhe o verdadeiro valor.
Acreditava que a “propriedade precede aos governos” e que este “não pode dispor dela arbitrariamente”. Marx criticou mais tarde a teoria da propriedade de Locke.
Ao contrário de Thomas Hobbes, Locke acreditava que a natureza humana é caracterizada pela razão e tolerância. Contudo, como Hobbes, acreditava que ela levava o homem a ser egoísta. “Num estado natural todas as pessoas são iguais e independentes e todos possuem o direito natural de defender sua vida, saúde, liberdade e bens”.
O trabalho cria propriedade, mas é preciso estabelecer limites para a sua acumulação, ou seja, a capacidade do homem em produzir e consumir. De acordo com Locke, propriedade ociosa é desperdício e uma ofensa à natureza. No entanto, com a introdução de bens “duráveis” o homem pode trocar excesso de bens “perecíveis” por bens que possam durar mais e isto “não é ofensa à natureza”.
A teoria geral de valor e preço de Locke é a teoria da oferta e demanda, apresentada numa carta a um membro do Parlamento britânico em 1691. Oferta é quantidade e demanda é renda. “O preço de qualquer produto sobe ou baixa na proporção de compradores e vendedores” e “o que regula os preços (dos bens) nada mais é que a quantidade em relação à renda”.

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