Morre pintor Frans Hals, mestre do retratismo
Frans Hals, pintor da escola barroca holandesa, um dos grandes mestres na arte do retrato, more em Haarlem, na Holanda, em 10 de agosto de 1666. Desperta grande admiração até os dias atuais pelo brilhantismo na representação da luz e liberdade no manejo dos pincéis.
A escassez de documentos faz com que sua personalidade e vida permaneçam obscuras. Há varias datas hipotéticas sobre seu nascimento, sendo certo que nasceu na cidade flamenga de Antuérpia (atualmente na Bélgica). Com a queda da cidade pelas mãos de tropas espanholas durante a Guerra dos 80 Anos, muda-se com sua família para Haarlem, por onde viveu pelo resto de sua vida.
Estudos mais recentes afastaram a ideia de que o pintor tinha uma vida libertina e um incorrigível vício pelo álcool. Hals pertencia à Associação de Oratória de Wijngaertranken e à milicia cívica de São Jorge. Era também membro da câmara de reitores e presidente desde 1644 do grêmio de pintores de Haarlem.
É admitido no ateliê do pintor flamenco Karel van Mander que também fugia do assédio espanhol. A academia desse mestre dedicava-se à técnica maneirista. Todavia, no final do século XVI, devido à influência da pintura italiana, Hals desenvolve um estilo de certa inspiração clássica.
Sua emancipação artística se dá quando alcança certa maturidade. Coincide com seu ingresso na Sint-Lucasgilde, a guilda de São Lucas em 1610, célebre grêmio de artistas de Haarlem. A tela mais antiga de Hals é o retrato de Jacobus Zaffius (1611; Museu Frans Hals de Haarlem).
Em 1610 contrai matrimônio com Anneke Hermansz. Alguns historiadores documentaram que Hals teve de comparecer ante os tribunais por maus tratos à sua mulher. A união durou pouco já que Anneke morreu em 1616, dando dois filhos ao pintor. Em 1617, após uma viagem fugaz a Antuérpia, casou-se com Lysbeth Reyniers com quem teve oito filhos.
A tradição retratista holandesa alcança seu apogeu com Frans Hals, conseguindo tirá-la do imobilismo e retratando suas figuras em movimento. Sua grande contribuição veio em 1616 com o retrato coletivo Banquete de Oficiais da Milícia Cívica de São Jorge. A partir desse quadro, as encomendas abundam, tanto de particulares como de instituições. Além de pintar, trabalhou como marchand, restaurador de arte e professor de pintura.
A partir de 1640, uma nova guinada na moda do retrato se observa nos países nórdicos. Começam a aparecer retratos com ares de distinção e nobreza, destacando-se as caras roupagens de vivo colorido e pinceladas muito detalhistas. Isto repercutiu sensivelmente nos pedidos ao artista que pintava à maneira de esboço e com colorido contido.
Hals ensaia abrir novos caminhos e abre um ateliê por volta de 1650. Porém o empreendimento foi pouco afortunado e em 1652 suas economias vão ao fundo do poço. É obrigado a entregar a um banqueiro seus pertences em troca de dívidas. Todavia, a cidade em reconhecimento o ajuda em seus gastos, proporcionando-lhe moradia gratuita.
Acreditou-se com ligeireza que Hals não possuía técnica muito apurada e que pintava sem correções ou desenhos preparativos. No entanto, estudos científicos e técnicos demonstram o contrario. Às vezes o esboço era feito com giz ou pintava sobre uma camada base cinza ou rosa, para em seguida completar o quadro por fases. Isto demonstra que Hals utilizava seu virtuosismo desde o início da tela. A ausência de linhas delimitadoras ou de desenho preparatório aparece com mais frequência nas obras da maturidade do pintor.
Hals manifestou durante sua vida uma tremenda audácia e uma grande coragem que se transferiram para as suas telas. Tinha a capacidade de perceber a psicologia do personagem. Diferentemente de outros retratistas contemporâneos, não fazia diferença se era por encomenda ou não. Utilizava a mesma diligência e precisão em qualquer de suas obras.
No começo do século XVII a vitalidade dos retratos de Hals já se destacava. Theodorus Schrevelius ressaltava que sua obra refletia “tal potência e vida” que o pintor “parecia alcançar o natural com seus pincéis” Séculos depois, Vincent van Gogh escrevia ao seu irmão Theo: “Que alegria é olhar Frans Hals, quão diferente é sua pintura onde tudo está cuidadosamente composto”.
Hals preferiu não dar acabamento definitivo aos seus quadros, como faziam quase todos os seus contemporâneos, pois imitava a vitalidade de seus retratados usando manchas, linhas, gotas, grandes pinceladas de cor, que conformavam os detalhes.
Somente no século XIX é que essa técnica teve seguidores, particularmente no Impressionismo. Pode-se considerar Hals como um precursor ao usar técnica impressionista nos quadros das milícias ou nos retratos dos regentes do asilo de Haarlem.
Fonte: Ópera Mundi