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Divulgação/PCPE |
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) incluiu cerca de 60 trocas de mensagens, obtidas após interceptação telefônica, na denúncia por associação criminosa contra cinco policiais militares. Os PMs são acusados de integrar a quadrilha dos traficantes Thiago e Bruno Teixeira de Oliveira, os chamados “Gêmeos de Santo Amaro”, que atua no Centro do Recife e também estaria ligada a homicídios na região.
A participação dos policiais foi descoberta após a apreensão dos celulares dos “Gêmeos de Santo Amaro”. Os PMs foram alvo da segunda fase da Operação Blindados, deflagrada no fim de novembro, e tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça. Eles alegam inocência.
Metade das conversas incluídas na denúncia é atribuída ao PM Rayner Thainan Ferreira Santos, de 31 anos, que corresponderia ao contato salvo como “Junior” no celular dos traficantes, de acordo com a investigação. As mensagens citadas tratam de diferentes assuntos que vão desde acordo para acobertar comércio ilegal de drogas a pedidos de favor aos criminosos.
Em uma delas, o interlocutor pede maconha para bater a meta de apreensão no batalhão. “Meu mano, vê só, eu lembro que tu falou para mim que tem uns quilos mofado e pá. Eu queria que tu deixasse 1 kg para mim dessa… Desse preto aí, que tu tem mofado, velho, que não serve mais para nada. Que é para eu apresentar, tá ligado?”, diz a transcrição.
Em outra, Rayner teria dado dicas ao criminoso caso alguém do bando fosse preso, segundo o MPPE. “E aí, boy. Alerta tua galera, teus bebês, para quando for pego… Pronto, esse Gate de hoje que pegou, o Gate do Gordão, meu irmão, os caras não pegam como a gente pega”, registra.
A transcrição segue: “Ele não faz acordo como a gente faz, mas se ligar, cair na linha e fizer um acordo do dinheiro na hora ali, para liberar na hora, só perder as drogas e o boy não rodar. Eles negociam, pô. E tu pode até cantar. É só dizer, (…) deixa eu fazer uma ligação aí, para vocês cair na linha com o pessoal. Aí, o pessoal desenrola. Vacilou. Era para eles ter ligado pra tu, pô. Aí, tu caia na linha e falava com eles”.
Em interrogatório, Rayner negou participação na quadrilha e disse que o celular apontado pela investigação não seria seu.
“Essa é a hora de ganhar dinheiro”
O único policial que atuaria diretamente no tráfico de drogas seria Ivison Francisco Alves Júnior, de 42 anos, de acordo com a promotoria. A ele, são atribuídas 14 conversas, que tratam principalmente da implantação de um esquema para vender drogas, em parceria com um dos traficantes do grupo.
“Tô dizendo a tu! Isso é o louco de verdade. Ela é pura, pura, pura. Os dois caras que pegaram ficaram doidos”, registra uma das mensagens do traficante. Ao que o PM responde: “Então essa é a hora de ganhar dinheiro, né. Primão, sabendo ganhar, essa é a hora de ganhar dinheiro”.
O traficante ainda conclui. “A dificuldade hoje é arrumar um químico nosso que os caras, quando sabem que o produto é bom, querem ganhar em cima”.
Os outros PMs denunciados são Valter Mendonça de Azevedo, de 49 anos, José Tarcísio de Carvalho Pereira, de 42, e Arthur Luiz Sampaio, de 33. Esse último era parceiro de rua de Rayner e teria sido citado pelo colega nas conversas interceptadas.
Na avaliação do MPPE, que ofereceu denúncia contra o grupo no dia 19 de dezembro, os policiais “prestavam total apoio à referida organização criminosa”. Os serviços incluiam proteção, informações privilegiadas e até colocar viaturas da corporação à disposição dos criminosos.
O documento, assinado pela promotora Henriqueta de Belli Leite de Albuquerque, também incluiu o chamado “núcleo civil” do bando. Esse setor seria composto por seis pessoas, que atuavam como contadores, distribuidores e traficantes.
Entre eles, estão Sales Vinicíus Barros de França Silva, de 22 anos, e Lázaro Henrique Barros de França, que são filhos de um dos principais gerentes da facção.