Na barriga em 1995, torcedores verão Fla-Flu decidir campeonato pela primeira vez
A estudante Marina Côrtes e Carvalho, de 21 anos, é uma representante dessa turma. Ela até “estava” naquele Maracanã lotado com 120 mil pessoas em 25 de junho de 1995 — na barriga da mãe, a tricolor Pauline Baranda, em seu quinto mês de gestação. E foi outra barriga que, na mesma noite, decretou para qual time ela iria torcer. O gol inusitado de Renato Gaúcho deu a vitória ao Fluminense e também a Pauline: ela havia apostado com o então marido, o flamenguista Cosme, que o campeão seria o clube da filha.
— Eu sei que, se eu perdesse, não ia cumprir a aposta — diverte-se Pauline, neta de um tricolor fervoroso, daqueles que, na hora do jogo, não largavam o radinho de pilha por nada.
A aposentada de 51 anos conta que deixou Cosme do outro lado da arquibancada do Maracanã para acompanhar aquela final em que o Tricolor era o azarão.
— Esse título é o mais importante da minha vida — assegura Pauline, ignorando conquistas maiores, como os brasileiros de 2010 e 2012.
A paixão pelo Fluminense chegou intacta à terceira geração da família. Fã do zagueiro bonitão Henrique, a filha Marina puxou a mãe no que diz respeito à frequência com que vai aos jogos: grande, mesmo quando são fora do Rio. A estudante lembra que a avó lhe contava sobre emoção de 1995, mas sua lembrança mais viva é de decepção: a derrota para a LDU na final da Libertadores de 2008, também no Maracanã.
— Já fui até a Argentina acompanhar o Fluminense na Libertadores — orgulha-se Marina: — Mas essa será a primeira final de Fla-Flu que vou ver.
Renato quase batizou flamenguista em 95
Renato quase batizou flamenguista em 95
Outra história pro trás do gol de barriga de Renato, em 1995, é a do flamenguista das fotos, que estava dentro da barriga da mãe, a tricolor Maria de Fátima Rocha, no dia do último Fla-Flu decisivo em um Estadual. A intenção da mãe era nomear o filho como Renato, em homenagem ao ídolo. Dez dias depois do título, o parto e o nascimento. Inexplicavelmente, mesmo com a euforia do título, a mãe tricolor resolveu trocar: o filho se chamaria Leonardo.
— Para mim teria sido uma honra, já que o Renato é ídolo — admite Leonardo.
Se a mãe não mudasse de planos, o filho talvez seguisse sua paixão: hoje ele é Flamengo, decisão que veio anos depois, com o título de 2001 sobre o Vasco, gol de Petkovic.
Em 1995, grávida, Maria de Fátima não foi ao jogo no Maracanã. Assistiu com amigos tricolores em uma festa em Cascadura que só sairia de fato caso o título viesse. O resultado final garantiu o churrasco, e menos de suas semanas, depois Leonardo veio ao mundo sem lembrança daquela tarde. Mesmo assim, não esquece:
— O Flu é engasgado. Sinto que perdi aquele jogo, mesmo estando na barriga da minha mãe — garante.
Aos 22 anos, o estudante ainda avalia se vai ao jogo no Maracanã. Prefere ir no segundo duelo. Não por receio de que em jogos decisivos o rival se saia melhor.
Apostando em Guerrero, Leonardo está otimista depois de três anos sem título e um elenco que impõe respeito. Mesmo com o pai flamenguista, o jovem teve autonomia para escolher o clube do coração. Nenhuma barriga conseguiu influenciar.
Memórias de um gol de braço (?)
Para os mais novos, as memórias do emblemático Fla-Flu de 1995 viraram história de família. Nascida em outubro daquele ano, Larissa Conti traduz de forma fiel como as impressões daquele clássico foram passadas adiante. O pai, Claudio Barros, lhe “apresentou” Renato Gaúcho quando o ex-jogador treinava o Fluminense na final da Libertadores de 2008, contra a LDU.
“Se o Renato Gaúcho estivesse jogando, a gente já teria ganhado essa final”, disse para a filha. Depois da derrota, Larissa foi ver o que o então treinador havia feito em 1995 na internet.
—Eu, que não tinha nem ideia do porque daquele comentário, logo perguntei o que ele queria dizer. Meu pai explicou em seguida toda a jogada do famoso gol de barriga, que decidiu o Carioca de 95 — conta.
Cláudio relatou que depois de o Fluminense sofrer o empate em 2 a 2 no segundo tempo, com nove jogadores em campo, Renato Gaúcho completou chute de Aílton e provocou explosão no Maracanã. O próprio tricolor suspeitou que gol de barriga foi de braço.
— Não sei se essa bola ia entrar, mas pra ter certeza, Renato surgiu perto da trave e deu aquela ajeitadinha com a barriga pra garantir a entrada da bola. Na hora eu fiquei na dúvida se o lance foi legal, porque tive a impressão dele ter conduzido com o braço, mas depois que o juiz validou o gol, gritei muito — brinca.