Neandertais tinham rituais fúnebres e enterravam seus mortos

Conclusão é de estudo que investigou restos mortais de criança que viveu há 41 mil anos

 (crédito: Pierre Andrieu/AFP)
(crédito: Pierre Andrieu/AFP)

Uma pesquisa publicada na revista especializada Scientific Reports, reforça a tese da prática de sepultamento por neandertais. Uma equipe internacional multidisciplinar estudou os restos de uma criança, morta há 41 mil anos, enterrados no importante sítio pré-histórico de La Ferrassie, no sudoeste da França, que poderá ser a palavra final sobre o tema. Apesar de terem encontrado dezenas de esqueletos de mulheres e homens neandertais na Europa e Ásia, com sinais claros de terem sido enterrados, os arqueólogos mantêm um certo ceticismo quanto à prática, que contradiz a imagem primitiva que os neandertais carregam há muito tempo.

“É uma história de caçador de tesouros!”, disse à agência de notícias France Presse (AFP) o paleontólogo Antoine Balzeau, do Centro Nacional para a Pesquisa Científica francês (CNRS). Ele lidera o estudo ao lado de Asier Gómez Olivencia, da Universidade do País Basco (Espanha).

Recentemente, vasculhando as coleções do Museu do Homem de Paris onde trabalha, Balzeau encontrou uma caixa com os restos ósseos da criança neandertal — um menino de 2 anos de idade —, escavados, em 1973, em um refúgio rochoso de La Ferrassie. Na época em que foi localizado, o esqueleto do garoto não teve o contexto geológico estudado.

A caixa, onde os restos mortais da criança se encontravam, também continha o misterioso dente de um adulto, sem nenhuma descrição, mas com um número.

Com essa pista, Antoine Balzeau foi ao Museu Nacional de Arqueologia de Saint-Germain, em Laye (oeste de Paris), onde os restos das antigas escavações ficam armazenados. “Havia dezenas de cadernos, caixas, relatórios… Abri o primeiro e em um minuto encontrei a descrição do dente”, contou o paleontólogo à AFP, assinalando que o achado tinha sua origem exata.

A equipe de Balzeau revisou, então, todo material que havia recolhido da caixa de escavação onde encontrou o corpo do menino e o dente, retirando de lá 47 novos corpos humanos que não haviam sido identificados.

O passo seguinte do grupo de cientistas foi retornar a La Ferrassie para entender melhor o que tinha em mãos. A camada de sedimentos onde encontraram o menino tinha 60 mil anos e o corpo do bebê, 41 mil. “O que demonstra que cavaram para colocá-lo ali e cobriram-no depois”, observou Antoine Balzeau.

Análise geológica

Depois de encontrar sete corpos diferentes, as hipóteses de um enterro em La Ferrassie eram plausíveis, “Mas, não passavam de meras especulações, na ausência de uma análise geológica que comprovasse que o que havia ali era uma sepultura”, explicou o especialista.

A partir daí, com o uso de conjunto de técnicas modernas, foi possível avançar. “Pela primeira vez, de forma clara, estamos diante de um enterro”, atestou Balzeau, acrescentando: “Muitos arqueólogos se opõem, ainda hoje, à ideia de que os neandertais enterravam seus mortos porque não tínhamos a capacidade de comprovar isso. Mas, também, porque existe um julgamento de valor com o Homo sapiens.”

“Pensamos que o Homo sapiens era superior ao Neandertal e, a partir desse preconceito, estudamos a história, quando o que tem que ser feito é começar pelos dados arqueológicos”, finalizou.

Fonte: Correio Braziliense

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