No princípio, Moura, agora João

Opinião

Governador biônico nos anos 70, Moura Cavalcanti sabia como ninguém exercer o poder com autoridade e plenitude. Exibia também com afinco, andando sob a proteção de batedores, sirenes barulhentas ligadas para chamar a atenção e forte aparato de segurança pessoal. Não é dele a frase, mas caia como uma luva nele a lição de Agamenon Magalhães: ninguém governa governador.

Moura sentiu cedo a sedução pelo poder. Aos 20 anos, foi prefeito de sua cidade natal, Macaparana, na Zona da Mata. Entre 1950 e 1954, concluiu o curso de Direito e chegou a ser procurador do Estado. Seu mentor político, Osvaldo Cordeiro de Farias, de linha tão dura quanto a dele, o aproximou do então presidente Jânio Quadros, por quem foi nomeado governador do Território do Amapá. De volta a Pernambuco, foi representante do Estado no Conselho Deliberativo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, em seguida secretário da Administração e da Coordenação Política durante o governo de Paulo Guerra.

José Francisco Moura Cavalcanti ascendeu ao plano federal em 1970 no Governo Médici, que o nomeou presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a seguir ocupou o Ministério da Agricultura entre 1973 e 1974. Três meses após deixar o Ministério foi indicado governador de Pernambuco (ARENA) pelo então presidente Ernesto Geisel. Audacioso e empreendedor, formou uma equipe de jovens auxiliares destinados a revolucionar a história de Pernambuco.

Entre os quadros que projetou, José Jorge de Vasconcelos, Joaquim Francisco, Antônio Morais, Gustavo Krause, Carlos Wilson e Luiz Otávio Cavalcanti, ou seja, pelas suas mãos dois políticos chegaram a governador: Joaquim e Krause, e um a ministro: José Jorge. Moura, portanto, não apenas sabia exercer o poder, mas fomentar uma geração de gestores com uma visão de futuro invejável.

Em seu Governo, lançou a pedra fundamental de Porto de Suape, construiu o Centro de Convenções e iniciou o TIP – Terminal Integrado de Passageiros, que só foi concluído anos depois pelo então governador Gustavo Krause, seu sobrinho e afilhado político, livrando o centro do Recife já saturado de uma estrutura antiquada e ridícula, que servia de terminal rodoviário intermunicipal sem as mínimas condições.

Mais de quatro décadas depois, Eduardo Campos se encarregou também de moldar quadros. Fez Geraldo e Paulo Câmara, sem o tino dos discípulos de Moura. Com a sua morte, João Campos, seu herdeiro político, com apenas 27 anos de idade, eleito prefeito do Recife dá sinais de que será protagonista de uma outra categoria de quadros: os menudos da sua geração estão chegando para governar com ele o Recife.

Com a única exceção de Carlos Muniz, já cinquentão, todos os integrantes da equipe de transição revelados, ontem, por João Campos, são da plumagem do futuro, a geração dente de leite que o jovem prefeito aposta. Oxalá, tenha a mesma sorte de Moura, o mesmo tino e senso de oportunismo para propiciar ao Recife a abertura da janela de um amanhã mais próspero e menos desigual.

Por: Magno Martins

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