Número de taxistas candidatos a vereador dobra no Rio

Rafael Soares

Após irem às ruas e pararem a cidade em protestos contra o Uber, taxistas se organizam para tornar o aplicativo ilegal na Câmara dos Vereadores. Um levantamento do EXTRA, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revela que o número de taxistas candidatos a vereador no Rio dobrou em relação a 2012, quando o Uber ainda não havia chegado à cidade.

A categoria foi a que registrou maior aumento percentual de candidatos em relação à última eleição municipal. Hoje, são 15 candidatos. Em comum entre eles, o projeto de proibir o aplicativo no Rio.

Já os candidatos a integrarem a chamada “bancada da bala’’ — policiais militares e civis — diminuíram. Os que se definem como empresários saltaram de 110, em 2012, para 127, agora.

Entre os candidatos taxistas a uma vaga na Câmara dos Vereadores, está André de Oliveira, o André do Táxi (Solidariedade), o principal articulador dos protestos contra o Uber. Em 2014, apoiado pelo ex-secretário estadual de Transportes e hoje candidato a prefeito Carlos Osorio (PSDB), tentou vaga na Assembleia, sem sucesso.

— Toda vez que há uma calamidade, é normal que as vítimas se juntem. O Uber tem provocado uma calamidade na vida de muitas famílias de taxistas — defende André.

A campanha dos candidatos taxistas foca sobretudo no eleitorado da categoria e seus familiares. Para o taxista e candidato Ricardo Pereira (PRP), os postulantes da categoria disputam o voto de cerca de 400 mil pessoas.

— São permissionários, motoristas auxiliares e suas famílias. Minha campanha foca nesse eleitor, que está se sentindo abandonado.

Além da proibição do Uber, os taxistas propõem até o aumento da frota da cidade, que já chegou a 30 mil carros, e o aumento do preço da corrida.

— O Rio tem um dos táxis mais baratos do país — diz Lorenz Melo (PDT).

Menos policiais nas ruas

Para o cientista político da PUC-Rio César Romero Jacob, o aumento de candidatos taxistas após a chegada do Uber ao Rio é natural.

Se a crise na categoria levou mais taxistas às urnas, o mesmo não pode ser dito dos agentes da Segurança: o número de candidatos, por exemplo, que declararam ao TSE serem policiais diminuiu em quatro anos. Passou de 51 para 46. No pleito atual, disputam o voto do eleitor 37 PMs e nove policiais civis.

Alguns deles, entretanto, são mais reconhecidos quando estão sem farda. Caso de Marcos Falcon (PP), subtenente da PM e presidente da Portela:

— Hoje, a Guarda Municipal tem sete mil homens no Rio. O ideal seria que fossem 12 mil. Vou lutar por isso.

Campanha no batalhão

Outro candidato vindo das fileiras da PM aposta no corpo a corpo com agentes para angariar apoiadores. Em duas ocasiões, nos dias 10 e 15 de setembro, o major Elitusalem Gomes de Freitas, candidato a vereador pelo PP, postou em sua página no Facebook fotografias de visitas que fez ao 22º BPM (Maré) e ao 41º BPM (Irajá). Nas imagens, ele aparece ao lado de policiais fardados dentro das unidades.

As visitas já estão na mira da Coordenadoria de Fiscalização da Propaganda Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Rio. Marcello Rubioli, juiz do TRE-RJ, diz que é proibido fazer campanha em prédios públicos. O candidato será notificado e pode até ser punido com a cassação do registro e inelegibilidade por oito anos. Procurado pelo EXTRA, Elitusalem não foi encontrado.

Promessas:

Pedro Paulo

No debate do último dia 9, o candidato Pedro Paulo (PMDB), apoiado pelo atual prefeito Eduardo Paes, declarou ser contra a legalização do Uber: “Sou contra o Uber, porque não acredito no Uber”, disse Pedro Paulo. Num vídeo que circula nas redes sociais, o candidato também afirma que “o Uber não vai funcionar no Rio”.

Osorio

A fala de Pedro Paulo foi criticada por Carlos Osorio (PSDB) no debate. “Você agora vem falar que é contra o Uber. Essa prefeitura lavou as mãos e deixou essa confusão nas ruas”, disse ele. Na semana passada, Osorio prometeu regulamentar o aplicativo: “A regulamentação vai ajudar a controlar uma situação que não está boa para ninguém.

Jandira

No dia do debate, os perfis de Jandira Feghali (PCdoB) e Marcelo Freixo (PSOL) no Twitter publicaram textos em que os candidatos se diziam a favor da regulamentação do aplicativo. “Proibir o Uber é um erro, Pedro Paulo. Tem que haver regulação, para não haver competição desleal. São todos chefes de família!”, escreveu Jandira.

Freixo

“O Uber é um serviço importante e uma fonte de renda para milhares de pessoas, mas precisa ser regulamentado e fiscalizado, para garantir os direitos dos motoristas e usuários”, diz o texto postado na rede social de Marcelo Freixo. Na ocasião, Indio da Costa (PSD) e Flávio Bolsonaro (PSC) não se posicionaram sobre o tema.

Equiparar preços

Entre as propostas mais ousadas dos candidatos taxistas para a categoria, está a de Ricardo Pereira de equiparar os preços do Uber ao táxi. De acordo com o candidato, essa é “a única forma de os taxistas não falirem”. Pereira também defende a transformação de todos os motoristas auxiliares em permissionários.

Fiscalização

Lorenz Melo aposta numa proposta que pode ser impopular entre os taxistas para melhorar a imagem da categoria perante a sociedade: o aumento no número de fiscais. “São poucos fiscais para muitos carros. Isso afeta a qualidade do serviço. O taxista também tem que fazer cursos, se profissionalizar”, defende.

Confira os perfis

 

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