Número de testes realizados para covid-19 caiu 97% este ano na Bahia

Número de testes realizados para covid-19 caiu 97% este ano na Bahia
(Arisson Marinho/Arquivo CORREIO)

Aproximação do verão preocupa especialistas e Ministério da Saúde recomenda volta do uso de máscaras

Todo mundo conhece alguém que ficou gripado ou teve sintomas de gripe nos últimos meses. Difícil é encontrar quem fez o teste para saber se era covid-19. Segundo o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA), no primeiro semestre do ano a unidade processava, em média, cinco mil amostras para testagem do vírus por dia. Mas, nos últimos meses, o número caiu para cerca de mil testes por semana, o que representa uma queda de 97% no processo de detecção do coronavírus no estado.

A redução nos números da testagem preocupa principalmente em um momento em que a novas subvariantes da Ômicron, como a BQ.1, estão se disseminando pelo país. Além disso, no caso específico da Bahia, a aproximação do verão significa mais turistas, festas e aglomerações na capital e outros polos de visitação do estado. O avanço da covid-19 fez a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde (MS), voltar a recomendar o uso de máscaras de proteção.

A nota técnica divulgada pelo órgão no domingo (13) orienta que a população volte a usar a proteção em ambientes fechados, mal ventilados, com aglomerações e em unidades de saúde. A recomendação se estende para pessoas que tiveram contato com infectados e para quem tem comorbidades, pessoas imunossuprimidas, idosos e gestantes.

Entre 6 e 11 de novembro foram notificados 57.825 casos e 314 mortes por covid-19 no país. A média móvel nacional dos sete últimos dias é de 8.448 diagnósticos diários, o que representa um aumento de 120% se comparado com a semana anterior. A média de óbitos teve crescimento de 28%, com 46 mortes, frente a 36.

Na Bahia, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), nesta segunda-feira (14), na semana entre 06 e 12 de novembro 1.012 novos casos de covid-19 foram registrados, sendo 833 ativos, e cinco mortes notificadas. Ontem, o estado contabilizou 1.105 casos ativos e outros 478 aguardando confirmação. Já as taxas de ocupação de leitos de enfermaria e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para adultos estão em 12% e 35%, respectivamente. A Sesab agora só divulga boletins de casos de covid  semanais, a cada segunda-feira.

Cenário estável, mas… 
No momento, a Sesab considera a situação da pandemia sob controle na Bahia. Mas, através dos dados, é possível notar que entre janeiro e novembro deste ano houve aumento de 11% nos casos confirmados de covid-19.

A coordenadora do Centro de Operações de Emergência em Saúde, Priscila Macedo, explica que, em média, estão sendo registrados 250 novos casos da doença por dia no estado, quantidade inferior aos números do primeiro semestre. Ainda assim, ela pediu que a população tenha cautela e não descuide das medidas de proteção.

“O cenário é de controle, mas também de alerta. A nova subvariante da Ômicron [BQ.1] aumentou muito o número de casos de covid na Europa. E é algo que nos preocupa. Nessa época do ano temos um turismo mais intenso, maior circulação de pessoas, os festejos de Natal e Réveillon e as festividades de verão, o que causa muitas aglomerações”, explicou.

Ainda de acordo com Priscila Macedo, o número de testes RT-PCR caiu muito no estado. “E é através dele que fazemos o sequenciamento do material genético e conseguimos identificar o vírus. Na prática, as pessoas têm subestimado a doença ou então deixaram de fazer a testagem porque os sintomas são leves. É muito importante que as pessoas continuem fazendo o teste sempre que surgir a suspeita de covid”, afirma a cordenadora.

A diretora da Vigilância Epidemiológica do Estado, Márcia São Pedro, também reforça a importância da testagem: “As pessoas estão testando menos e quando testam fazem através do chamado ‘teste rápido’. Nesse modelo não conseguimos fazer o sequenciamento genético, que é muito importante para o diagnóstico preciso da doença”.

Quem apresentar sintomas gripais, adverte a diretora, deve procurar uma unidade de saúde.

Sintomas
A estudante Juliana Oliveira, 24 anos, teve sintomas gripais há cerca de dois meses, mas não fez teste para covid. Na família, outras pessoas tiveram dor de garganta, constipação e febre. Juliana contou que está elaborando programação para aproveitar Salvador com as primas que vão chegar de São Paulo.

“Estamos chegando no período que tem muitas festas em Salvador, eventos privados e festas de largo e de rua. Algumas não acontecem desde o início da pandemia, então, eu acredito que vai estar tudo lotado. Eu não fiz teste, porque os sintomas foram leves. Acredito que foi rinite, além disso, como tomei todas as doses, me sinto mais segura”.

Justamente por conta da chegada do verão, o Conselho Estadual de Saúde da Bahia (CES-BA) recomendou ao governo do estado e às prefeituras que voltem a exigir o comprovante de vacinação em espaços de grande concentração de pessoas, como aeroportos, academias e restaurantes.

Marcos Sampaio, presidente da entidade, lembra que mais de sete milhões de baianos ainda não completaram o esquema vacinal. “Precisamos entrar numa fase de prevenção. No momento em que o passaporte de vacina deixou de ser exigido, as pessoas foram desmotivadas a se imunizar”.

Cenário nacional
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o oncologista Dráuzio Varella criticou a maneira como a pandemia foi conduzida, disse que as medidas de proteção foram abandonadas muito rápido e que é favorável a volta do uso das máscaras. “Os casos estão aumentando, o vírus está circulando novamente e nós paramos muito cedo de usar máscaras em ambientes fechados”, afirmou Dráuzio.

A covid-19 está avançando rápido em 22 estados, recuou em quatro e a Bahia foi o único local onde os dados estão estabilizados. Na semana passada, a Secretaria de Saúde de São Paulo confirmou a primeira morte de uma paciente infectada pela subvariante BQ.1. A mulher tinha 72 anos e comorbidades. Existem outros casos confirmados no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Na Bahia, ainda não há registros de casos da nova cepa.

A BQ.1 tem as mesmas características da Ômicron. Especialistas explicam que ela tem predileção pela garganta, ao contrário da variante Delta, que fica mais concentrada nos pulmões. A BQ.1 causa sintomas como dor de garganta, congestão nasal e febre, entre outros.  Apesar da alta transmissibilidade, as taxas de letalidade e internação são baixas.

Diagnóstico positivo cresce de 3% para 17% no setor privado

O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) divulgou que entre 8 e 29 de outubro, a positividade de testes para covid-19 aumentou de 3% para 17%, com base em testes realizados em laboratórios particulares do país. Segundo a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), a taxa de resultados positivos saltou de 3,7% no começo de outubro para 23% na primeira semana de novembro.

Em Salvador, unidades privadas começaram a registrar aumento na demanda, afirma o diretor do Laboratório Jaime Cerqueira, Bruno Cerqueira. “Estamos com um aumento crescente de coletas e de positivos. Tivemos um incremento de três a quatro vezes de pacientes para o exame RT-PCR para covid, com cerca de 25% de positividade”.

A diretora médica do Laboratório LPC, Daniela Lima, reveça que a procura por testes voltou a subir no início de novembro, mas em um patamar inferior ao primeiro semestre do ano.

“Mais do que o número de testes realizados, o que vem chamando atenção no Laboratório LPC é a taxa de positividade dos testes, que subiu de 10% no terceiro trimestre de 2022 para 24% na primeira semana de novembro. No primeiro semestre chegou a 42%”.

Ela enfatizou a importância do teste para evitar a disseminação da doença.

Na Bahia, ainda de acordo com dados da Sesab, mais de 11 milhões de pessoas se vacinaram contra a covid-19, o que chega a 92.07% do público total. Mas, somente 7,5 milhões (58,93%) tomaram dose de reforço (3ª ou 4ª) contra a doença.

Infectologista alerta para aumento de casos no verão baiano

O infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, detentor da Diagnoson a+ na Bahia, afirma que o aumento nos casos da covid-19, apesar de ser um fenômeno em todo o Brasil, pode causar um maior número de positivados na Bahia.

“Como é uma variante nova, circulando muito nos Estados Unidos e Europa, acho que a Bahia é um lugar muito exposto porque recebe muito turista, então o pessoal de fora traz essas novas variantes”, diz o especialista.

Segundo ele, a positividade dos testes feitos nas unidades da Diagnoson a+ de Salvador saiu de 7,7% no início de outubro, para 40% somente nos 14 dias de novembro. O número de testes realizados também aumentou 40% nesse período. O especialista destacou que é difícil comparar os dados por semestre, mas que eles registraram vários picos de casos da covid-19 ao longo do ano.  “Já tivemos vários picos, como em janeiro, abril e junho, toda vez que entrava uma variante nova no Brasil”.

Celso Granato ressaltou que agora é o momento de as pessoas voltarem a usar máscara em ambiente fechado, como em transporte público, salas de aula e shoppings, sendo importante optar pela máscara cirúrgica. Também é importante que a população que esteja com sintomas gripais faça o teste para detectar se está infectado com a covid-19, visto que a gripe, o coronavírus e uma série de outros vírus respiratórios tem sintomas parecidos.

“Tenho visto muitas pessoas contaminadas com o a covid e achando que é resfriado, mas só tem como saber se fizer o teste. Então, é importante que as pessoas com sintomas gripais e que tiveram contato com pessoas infectadas com a covid façam o teste, até porque o remédio e o tratamento de casa dessas doenças respiratórias são diferentes”, explica.

O médico reforçou que as pessoas precisam procurar as unidades de saúde para receber a dose de reforço da vacina contra o coronavírus.

A recomendação de Celso Granato está em consonância com opiniões de especialistas de todo o mundo. Por conta  do aumento de casos de covid-19, as autoridades sanitárias internacionais  alertam para o fato das novas cepas do vírus serem mais resistentes, daí a importância da imunização em massa

Tire dúvidas sobre a subvariante B Q.1 

1. Esse é o momento de quem deixou de usar máscara voltar a fazer uso do instrumento de proteção? 

– Deve-se voltar a usar máscara em ambientes de saúde, nos locais de aglomeração e cada pessoa deve fazer a gestão individual de risco. Ou seja, se a pessoa não tomou todas as doses ou possui comorbidades, deve usar constantemente a máscara e agora é mais importante ainda.

2. É importante que pessoas que não tomaram a vacina contra a covid-19 procurem os postos de vacinação?

– É essencial tomar a quarta dose da vacina e quem não tomou a terceira ainda deve correr para se imunizar. Também é importante vacinar o maior número possível de crianças porque enquanto elas não forem imunizadas, teremos mais variantes circulando.

3. O que uma pessoa que apresente sintomas deve fazer? 

– Os sintomas são parecidos com os da variante Ômicron: febre alta, dor de cabeça e às vezes sintomas gripais. Nas pessoas vacinadas, os sintomas podem passar despercebidos, mas caso haja persistência, é preciso consultar um médico e fazer a testagem.

Fonte: Celso Sant’Anna, médico pediatra e especialista em Alergia e Imunopatologia

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