Nunes ouve calado novo ataque de Bolsonaro à lisura da eleição de 2026
Após o primeiro evento de campanha juntos, a cinco dias do segundo turno, Ricardo Nunes (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) deram entrevista à imprensa e, enquanto o ex-presidente voltava a colocar em dúvida o resultado da eleição de 2022, o prefeito se manteve em silêncio e evitou comentar as declarações.
Na tarde desta terça-feira (22), Bolsonaro repetiu a tese de que houve alguma espécie de fraude ou manipulação no pleito, o que já foi desmentido pela Justiça Eleitoral.
Na ocasião, Bolsonaro foi derrotado por Lula (PT) e se tornou o primeiro presidente a perder uma reeleição.
Questionado se concordava com a declaração do padrinho, Nunes desconversou e, em seguida, se retirou da entrevista. “Tudo pode ser analisado, mas eu não acompanhei esses casos com relação à votação”, disse o prefeito.
Em seguida, sob orientação da sua assessoria, Nunes pediu licença e se retirou da entrevista com jornalistas. Ele afirmou que já tinha outro compromisso, uma sabatina na GloboNews.
Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no ano passado, Bolsonaro não poderá figurar nas urnas eletrônicas pelo menos até 2030.
Ele foi condenado por abuso de poder político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação sob acusação de difundir mentiras sobre o processo eleitoral em reunião com embaixadores e utilizar eleitoralmente o evento de comemoração do Bicentenário da Independência.
O ex-presidente e o prefeito de São Paulo estiveram juntos em almoço em uma churrascaria no Morumbi (zona oeste) que reuniu mais de 400 políticos e empresários. Foi o primeiro compromisso conjunto deles na campanha.
Questionado sobre como recebia o apoio de Bolsonaro considerando o negacionismo e o golpismo do ex-presidente, Nunes afirmou que o endosso era importante e defendeu a vacinação, mas evitou falar sobre tentativa de golpe, afirmando que concordava com o padrinho em temas como liberdade econômica.
“O apoio de Bolsonaro é de suma importância, é o maior líder da direita do nosso país”, iniciou Nunes.
“Com relação a vacinação, São Paulo foi a capital mundial da vacina, nós recebemos a vacina, a gente tem muita tranquilidade do trabalho que a gente desenvolveu aqui. As questões que o presidente Bolsonaro defende têm muito alinhamento com o que eu defendo: liberdade econômica, com relação à questão de diminuição de impostos. Tem várias questões que a gente tem um alinhamento muito parecido”, completou Nunes.
Desde o início de 2020, quando o coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, Bolsonaro sempre minimizou os impactos da pandemia. Como presidente, propagou discurso negacionista e usou palavras histeria e fantasia para classificar a reação da população e da imprensa ao vírus.
Bolsonaro também distribuiu remédios ineficazes contra a doença, incentivou aglomerações, atuou contra a compra de vacinas, espalhou informações falsas sobre a Covid-19 e fez campanhas de desobediência a medidas de proteção, como o uso de máscaras.
Nesta terça-feira, como de costume, o prefeito minimizou a ausência do seu padrinho ao longo da campanha, lembrando que Bolsonaro esteve em sua convenção eleitoral, no início de agosto, antes da campanha, e que indicou o candidato a vice na chapa, o policial bolsonarista Ricardo Mello Araújo (PL).
Tanto Nunes quanto Bolsonaro também mencionaram as viagens do ex-presidente em campanha pelo país para justificar a visita tardia a São Paulo.
“Agradeço ao [ex-]presidente Bolsonaro vir aqui participar desse evento. E agradeço a participação dele durante a campanha, logicamente considerando que, em muitos momentos, ele não podia estar aqui no dia a dia, porque estava correndo vários estados e cidades”, disse Nunes.
Bolsonaro, por sua vez, declarou que sua “agenda era bastante múltipla”. “Você está colaborando muitas vezes de forma mais distante um pouco, o Mello Araújo é o candidato aqui a vice”, afirmou o ex-presidente sobre sua participação.
“Só pode fazer o gol se alguém passa a bola, e eu joguei no meio de campo. Estou feliz com resultado. São Paulo terá quatro anos de bom governo, bem entrosado com o governo do estado”, resumiu.
Bolsonaro foi indiciado neste ano pela Polícia Federal em inquéritos sobre as joias e a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19.
Além desses casos, Bolsonaro é alvo de outras investigações, que apuram os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de Direito, incluindo os ataques de 8 de janeiro de 2023.
Parte dessas apurações está no âmbito do inquérito das milícias digitais relatado pelo ministro Alexandre de Moraes (STF) e instaurado em 2021, que podem em tese resultar na condenação de Bolsonaro em diferentes frentes.
Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, Bolsonaro poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.
Carolina Linhares/Victória Cócolo/Folhapress