O fantástico mundo de Dudu Campos
Por Noelia Brito, advogada e procuradora do Recife
Quem vê as recentes entrevistas ou assiste ao programa de TV do Partido do candidato à presidência da República, Dudu Campos, não tem a menor dúvida de que este habita num universo paralelo àquele habitado pelo governado de Pernambuco, Eduardo Campos.
No fantástico mundo de Dudu, as crianças estudam em escolas integrais com o mesmo padrão das escolas suíças onde, por coincidência, estudou o apresentador Jô Soares, que o entrevistou ontem, para delírio da duduzada.
Já na vida real, onde vive o governador de Pernambuco, as crianças estudam em escolas que alagam ao menor sinal de chuva e onde as chamadas escolas de referência, além de estarem sendo municipalizadas, transferidas, para prefeituras que mal podem manter suas próprias escolas, ainda sofrem pela má conservação, falta de estrutura mínima e assédio moral contra professores que não conseguem atingir metas, num sistema que se mostra tão ineficiente que, segundo matéria postada aqui mesmo pelo Blog de Jamildo, em agosto passado, nem com aumento substancial de repasses federais consegue melhorias significativas no Ideb.
Após fiscalizar a secretaria de Educação de Eduardo Campos e as secretarias municipais para onde o governador está transferindo as escolas estaduais, a CGU constatou que o Ministério da Educação aumentou os repasses entre 2009 e 2011, para os municípios pernambucanos, de R$ 1,68 bilhão para R$ 2,38 bilhões. Entretanto, o Ideb, que mede a qualidade do ensino, só cresceu de 3,35 para 3,55.
Já na rede estadual, a disparidade não foi menos gritante. Sob a batuta de Eduardo Campos, que a tudo acompanha através de suas famosas reuniões de monitoramento e de seus meritocratas, que receberam um aumento de repasses do governo federal para melhoria da Educação dos pernambucanos da ordem de 36,25%, no mesmo período, ou seja, entre 2009 e 2011, o Ideb só cresceu 7,07%. Quem quiser conferir, a matéria é do repórter Paulo Veras e foi publicada em 1º de agosto.
Mas no fantástico mundo de Dudu, há outras, digamos assim, idiossincrasias que o distanciam de seu alterego, o governador de Pernambuco. No universo paralelo de Dudu, onde se apregoa a boa e Nova Política, reeleição é prática das velhas raposas, estas em franca extinção e sujeitas à temporada de caça, já aberta por decreto do jovial Dudu e neófito Dudu.
Já na vida real, onde o governador Eduardo Campos habita e convive e interage, na maior camaradagem, com as raposas mais felpudas e até com raposinhas imberbes, reeleição não só é da própria natureza do poder político exercido pelas burocracias partidárias e pelas oligarquias familiares e políticas, das quais Eduardo herdou, não só o próprio partido que preside, mas a linhagem política, como também é moeda de troca, a ponto de jamais ter sido motivo para qualquer pudor seu no apoio dado às sucessivas reeleições do atual presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, seu aliado de todas as horas, o pedetista Guilherme Uchoa. Também partiu de um aliado fiel de Eduardo Campos, o deputado estadual Claudiano Martins, do PSDB, a inviabilização da PEC que impediria o quinto mandato de Uchoa à frente da ALEPE, com a retirada de sua assinatura, ontem, ao projeto. O próprio Eduardo, aliás, não viu problema em utilizar do instituto da reeleição para se ver reconduzido ao Palácio do Campos das Princesas.
Dudu Campos, por ora, surfa nas ondas tranquilas da falta de oposição. Quando tiver que se confrontar com seu maior opositor, o governador Eduardo Campos, é que veremos como irá se safar.