Ó ladroeira, por que estás tão triste?

Carlos Brickmann

A divulgação das delações premiadas dos diretores da Odebrecht tumultuou a estratégia dos políticos já condenados pela Operação Lava Jato, e por três motivos. Primeiro, porque confirma mais uma vez seu envolvimento em práticas sem amparo legal, no financiamento de campanhas, na estruturação do partido e na rápida ascensão das fortunas pessoais. Segundo, porque, embora toque também em dirigentes de outros partidos hoje no poder, deixa brechas para que se alegue que, nesses casos, tudo foi feito dentro da lei (quem levou os principais tiros foram políticos importantes, de alto escalão, mas que podem ser descartados e substituídos – o processo de fritura dos amigos, aliás, já começou). Terceiro, porque se esperava que as delações provassem que político é tudo igual, permitindo que se tentasse a libertação dos poucos presos diante da impossibilidade de investigar, julgar, condenar e prender as multidões de suspeitos de iguais crimes.

 

A estratégia dos condenados e seus aliados não está totalmente errada: suas diferenças morais diante dos demais delatados, se as há, são de gradação, não de comportamento. Mas, para efeito político, a gradação ganha força; e os crimes, digamos, menores, deixam de justificar os maiores. Mesmo assim, não há motivo para a tristeza dos corruptos já julgados. O Supremo não é um tribunal penal; dificilmente terá condições de julgar, em prazo aceitável, todos que caírem em suas malhas. Se a lei for mudada, para que ninguém deixe de ser julgado, os condenados terão boa chance de recorrer.

Para eles, talvez amanhã vá ser outro dia.

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