O misterioso desaparecimento do inventor da metralhadora

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No início da década de 1880, os moradores da Rua Bargate, na cidade de Southampton, sul da Inglaterra, tinham razões de sobra para reclamar de um de seus vizinhos.

Do porão embaixo do bar de William Cantelo, disparos eram ouvidos incessantemente.
Um dia, Cantelo anunciou a seus filhos – que também eram engenheiros – que havia aperfeiçoado o seu novo invento: a metralhadora automática, uma arma que usava a energia do recuo para recarregar a bala seguinte. O objeto disparava continuamente até que as munições terminassem. A descoberta era revolucionária.Engenheiro naval, Cantelo fazia experimentos com um novo tipo de arma. O objeto, entretanto, intrigava os ouvintes, pois disparava em rápida frequência.

Cantelo, então, empacotou a arma e partiu com ela, supostamente para vendê-la. Ele fazia viagens frenquentes para vender coisas usadas na indústria naval.

Foi a última vez em que ele foi visto.

O outro inventor

Anos depois, em 1916, milhares de jovens europeus matavam uns aos outros com metralhadoras na Primeira Guerra Mundial.

O invento havia revolucionado os confrontos em campo: as técnicas usadas pela infantaria nos séculos anteriores se tornaram inúteis.

Como resultado, os exércitos recuaram para suas trincheiras enquanto os generais tentavam, em vão, entender como poderiam superar essa nova arma de guerra.

Entretanto, o homem por trás da criação da máquina mortal, em 1884, foi enterrado discretamente em um cemitério ao sul de Londres. Morreu com muito dinheiro e recebeu honras de Cavaleiro do Reino Unido.

Ainda que o monumento em seu local de repouso seja grande e impactante, não há nenhuma indicação do que ele inventou. Mas seu nome está grafado ali em letrais garrafais: Sir Hiram Maxim – não William Cantelo.

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Sir Hiram Maxim virou até o nome da invenção que dispara rápido e se alimenta de uma cinta de balas. A metralhadora Maxim era a arma preferida no final do século 19 e no início do 20, responsável por trazer ao negócio de matar pessoas uma eficiência industrial.

Mas o que aconteceu com William Cantelo?

O que sabemos dele remonta a uma coluna em um jornal local da década de 1930, quando várias testemunhas ainda estavam vivas.

O artigo está ilustrado com uma fotografia de Cantelo.

Quando os filhos de Cantelo viram a foto de Maxim em um jornal, ficaram assustados: a imagem era idêntica à de seu pai.

Eles o buscaram, então, até encontrá-lo em uma estação de trem de Waterloo, em Londres, e gritaram “pai”. Segundo contaram, tentaram aproximar-se dele, mas a composição partiu antes de qualquer contato mais íntimo.

Um dos problemas foi que tanto Cantelo quanto Maxim tinham barba no estilo vitoriano, que tornava difícil o reconhecimento de rostos: muitos homens daquela época pareciam uma mistura de Charles Darwin e Papai Noel. Provavelmente, a fotografia que apareceu no jornal foi a de Cantelo, não de Maxim.

Encontros

Cantelo, de qualquer forma, sumiu do mapa.

Sua família contratou um detetive particular para buscá-lo. As pistas o teriam levado aos Estados Unidos, mas logo ele perdeu o rastro.

Sabe-se que houve uma retirada de muito dinheiro de sua conta bancária, mas esse banco deixou de existir faz tempo.

Um morreu rico e com título de nobre; o outro caiu no esquecimento após um sumiço repentino.

Mas Cantelo e Maxim teriam se conhecido? Há indícios que sim.

A filha de outro engenheiro naval de Southampton, chamado Philip Branon, escreveu uma carta contando que Maxim tinha ido à cidade ver um propulsor que seu pai havia inventado.

O pai dela, entretanto, havia dito a seus empregados que não lhe mostrassem o objeto uma vez que Maxim, disse a filha de Branon, “tinha reputação de ser um ladrão de ideias”.

Teria Cantelo sido vítima de plágio? Maxim foi o verdadeiro inventor da metralhadora ou roubou o projeto de outro engenheiro? Por que Cantelo decidiu sumir?

A verdadeira história permanece até hoje um mistério digno de Sherlock Holmes.

Fonte: BBC Brasil

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