O mundo nas mãos de um “aprendiz”

Presidente fez juramento ao lado da fam¡lia

Presidente fez juramento ao lado da fam¡liaFoto: AFP

Ao decidir em junho de 2015 se candidatar à presidência dos Estados Unidos, o excêntrico e bilionário Donald J. Trump, 70 anos, o mais velho presidente a assumir o cargo, nem imaginaria surpreender o mundo, ao desmentir as pesquisas de opinião que não lhe indicavam como vencedor do pleito, e se tornar o 45º presidente. O objetivo ensaiado por quatro vezes em anos anteriores (1998, 2000, 2004 e 2012), enfim, tornou-se uma realidade em novembro de 2016. Nessa sexta-feira, apesar dos protestos que marcaram Washingnton, Trump tomou posse e, já em seu discurso inaugural, mostrou ao que veio. Ele falou para os seus eleitores e praticamente confirmou o tom que dará à maior potêncial mundial: protecionismo populista para os próximos quatros anos.

No comando da maior potência mundial e no domínio de um dos maiores arsenais nucleares, Trump deixa o mundo em alerta. Sua excentricidade aliada à impulsividade, somadas a doses exacerbadas de egocentrismo são características nada peculiares de um presidente norte-americano, até então. Sem dúvida, o empresário-presidente não traduz nem de longe o perfil de líderes mundiais, nem tão pouco seus antecessores.

Polêmico, o também ex-apresentador do reality show O Aprendiz, que o tornou popular, tem ideias controversas, por exemplo, ao defender a construção de um muro na fronteira com o México ou ainda a ameaça em expulsar cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais no país. Propostas que o tornaram, durante a campanha presidencial, um exímio “animal político”, mesmo sem ter a mínima experiência. Seria de fato, um aprendiz, o novo presidente dos Estados Unidos?

Nos seus discursos, frases, claramente pertubadoras e provocativas, fez e faz alardes. Provoca quase que diariamente os adversários e a imprensa, utilizando-se de uma comunicação dirigida por meio do Twitter. Há quem diga que ditará os “caracteres” de seu governo pela rede social. Tanto que recentemente, a CIA , a agência de inteligência americana, o alertou em relação a possibilidade de diminuir as sanções com a Rússia e o aconselhou a ter cuidado com o que diz. A CIA o repreendeu por ele ter comparado o serviço secreto dos EUA à Alemanha nazista.

Tais declarações foram ditas em meio a divulgação de um relatório que afirmava a ingerência da Rússia no resultado das eleições de 8 de novembro a favor de Trump, por meio de espionagem e pirataria. O que logicamente foi negado por Trump e o presidente russo, Vladimir Putin.

Ainda não satisfeito, afinetou também as relações comerciais com a segunda maior potência mundial, a China, ameaçando impor uma elevada taxa de importação aos produtos chineses, gerando um ambiente hostil e de incertezas. Seu estilo assusta e causa temor a governantes e ao mercado.

Ao que veio e ao que pretende, eis a dúvida. Nem os especialistas renomados apostam como se dará a virada desta página na história política norte-americana. Há quem defenda que ele será refém de suas propostas avassaladoras. Não conseguirá colocá-las em prática, por vários fatores.

A verdade é que ninguém aposta como será seu governo. Dizem que seu ego exacerbado e seu humor em constante mutações tenderia a comandar sua gestão. Um outro ponto, tanto quanto importante, seria o embate ao se deparar com um forte “muro” junto aos seus próprios correlegionários republicanos, que não comungam de suas ideias mirabolantes, nem tão pouco de sua simpática aproximação com o presidente da Rússia Vladimir Putin, nem suas ameaças de romper alianças comerciais importantes com outros países.

Nova ordem mundial ao avesso

Ele nega, mas suas propostas nas áreas de política internacional não são nada animadoras, caso sejam concretizadas. Enquanto o mundo abraça a globalização, ele promete reduzir o comércio mundial ao ameaçar retirar os Estados Unidos de dois importantes acordos comerciais: o Acordo Transpacífico (TPP), entre 12 países e que ainda não entrou em vigor, e o Acordo Norte-Americano de Livre Cércio (Nafta), com o México e o Canadá. Mais: ameaça punir empresas americanas que investirem no exterior, tirando empregos do país. Não se sabe como essas ameaças poderão se tornar reais. Um presidente americano tem muito poder, mas esbarra em uma série de garantias constitucionais e envolve debates no Legislativo e no Judiciário.

A própria força da democracia dos Estados Unidos, capaz de levar um azarão à Casa Branca tem também seus instrumentos para evitar certos, digamos, desvios de rota. A pressão de Trump, porém, já começou a dar frutos. A montadora americana Ford desistiu recentemente de construir uma fábrica no México e se comprometeu em aumentar sua unidade em Detroit. A BMW, por sua vez, quer continuar com seu projeto no mesmo país vizinho. Trump já alertou: aumentará os impostos de qualquer empresa que, segundo ele, “cruzar a fronteira”.

Ameaçados também estão o sistema de saúde criado pelo ex-presidente Barack Obama, chamado de Obamacare, e a retomada das relações diplomáticas com Cuba. Obama ainda tentou reunir lideranças para evitar o desmonte de seu projeto de saúde, que colocou no sistema 20 milhões de pessoas que antes não tinha auxílio (não há saúde pública nos Estrados Unidos). O fim do Obamacare é questão de honra para Trump. Com, Cuba, ainda há dúvida, mas o tom engrossou.

E quando o mundo pede mais ações na área de meio ambiente, Trump promete incentivar a energia fóssil e dar fim à guerra contra o carvão, ao abrir territórios federais para a perfuração e a mineração, além de permitir o acesso às principais veias de petróleo, gás natural, carvão e urânio. Ao que tudo indica, se tais ideias receberem a canetada poderosa de Donald Trump, as coisas tendem a ficar ainda mais “fora da nova ordem mundial”, como cantava Caetano Veloso.

Estados Unidos em primeiro lugar

O multimilionário Donald Trump prestou juramento na sexta-feira como o 45° presidente dos Estados Unidos e anunciou, em seu discurso inaugural, marcado por um forte tom protecionista, que todas as decisões de Washington serão orientadas a priorizar o país. “A partir deste dia, uma nova visão governará nossa pátria. A partir deste dia, os Estados Unidos vêm em primeiro lugar”, disse Trump em seu discurso de 20 minutos, reafirmando, pouco depois, que “carnificina americana terminou”.

Trump, que pretende deportar entre dois e três milhões de imigrantes em situação irregular e construir um muro nos 3.200 km de fronteira com o México, também enumerou em seu discurso “duas regras simples: compre [produtos] americanos e empregue [funcionários] americanos”. Ele foi aplaudido várias vezes por milhares de simpatizantes vindos de todo o país. “Não estamos meramente transferindo o poder de um governo a outro, de um partido a outro. Estamos transferindo o poder de Washington DC e devolvendo-o a vocês, o povo”, disse.

Ele lamentou que o país “enriqueça as indústrias estrangeiras” e “subsidie exércitos estrangeiros”. “Defendemos as fronteiras de outros países, enquanto nos negamos a defender as nossas (…) Devemos proteger nossas fronteiras dos estragos de outros países que fabricam nossos produtos, roubam nossas empresas e destroem nossos empregos”, acrescentou. Na cerimônia de posse, celebrada nas escadarias em frente ao Capitólio, sede do Congresso americano, também prestou juramento mais cedo o novo vice-presidente, Mike Pence.

Presidente fez juramento ao lado da fam¡lia

Presidente fez juramento ao lado da fam¡lia

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