O que Padre Airton tem que não pode sair do hospital e voltar ao presídio?

Por André Beltrão — Há mais de três semanas, o padre Airton freire de Lima, de 68 anos, foi internado no Real Hospital Português, na área central do Recife. Réu na Justiça em dois processos por crimes sexuais, o religioso conseguiu o direito de deixar o presídio, em Arcoverde, no Sertão, onde estava desde o início de julho, alegando “grave problema de saúde”. Desde então, está sob custódia policial, o que mostra que ele não é um “paciente comum”.

Falou-se em “princípio de Acidente Vascular Cerebral (AVC) ” e em “hipertensão arterial”. Mas, em nenhum momento, até agora, nem a equipe médica nem a unidade de saúde esclareceram: Afinal, qual o problema de saúde tem o sacerdote, que é investigado por ao menos cinco estupros? Realmente, ele não pode ficar preso?

Ontem, o nosso site publicou uma matéria, com exclusividade, informando que a ordem no hospital é de “sigilo” a respeito da saúde do padre. As pessoas evitam comentar a situação dele.

Duas testemunhas contaram ter presenciado o momento em que o provedor do Português, Alberto Ferreira da Costa, deu um “ultimato” à equipe médica do padre, para que ele saísse da unidade.

Dono da construtora Rio Ave, Ferreira da Costa disse aos médicos do padre, segundo as testemunhas: “Não vai melhorar, não é? Vai ficar residindo no hospital, Padre Airton?”

Alberto Ferreira da Costa, fundador da Rio Ave | Foto: Bosco Lacerda

Assim como outras potências da economia pernambucana, a empresa do provedor contribuiu com recursos vultuosos para as obras assistenciais da Fundação terra, fundada pelo religioso há quase 40 anos.

Essa informação sobre o “ultimato” também foi objeto do Blog Dellas, da jornalista Terezinha Nunes, no mesmo dia. A matéria de Terezinha Nunes foi mais além e disse que havia informações de que padre Airton tinha andado pelos corredores do hospital, provocando reações negativas na diretoria.

Informações apurada pelo nosso site apontam que a juíza de Buíque, Ingrid Miranda, não está nada satisfeita com a demora para resolução do problema do padre. Ela é a responsável por todo o caso do escândalo sexual que envolve padre Airton e dois funcionários dele.

Mesmo diante de tantas questões levantadas ou discutidas, as informações concretas e oficiais ainda estão na estaca zero. Procurada pelo nosso site, a assessoria de comunicação do Real Hospital Português enviou uma nota e não disse o principal: qual a doença do padre? Quando ele pode ter alta?

Na nota, a assessoria de comunicação do hospital disse que a “Instituição não tem autorização para divulgar informações acerca do seu estado de saúde”.

O Português informou apenas que “o paciente em questão está internado por recomendação médica”.

Também declarou que a “administração do Real Hospital Português não interfere na conduta clínica dispensada aos pacientes atendidos em suas instalações”.

O hospital informou que “todas as condutas terapêuticas, bem como a realização de procedimentos e a concessão de altas, somente são definidas pelas equipes médicas”.

Diante da repercussão da matéria do nosso site, o médico Marco Magalhães, responsável pelo acompanhamento do religioso, afirmou que “repudiava” a informação de que a direção do Português tinha dado o ultimato para a saída do padre.

Em nota, o médico Marco Magalhães nega ultimato do RHP

O profissional de saúde declarou, por nota, que “jamais foi pressionado a apressar a alta do paciente nem adotar qualquer conduta que contrarie a boa prática da medicina”.

O médico disse, ainda, que seriam “insinuações” as informações de que o padre estaria usando problemas de saúde para não voltar para a prisão.

Marcos Magalhães disse na nota que padre Airton vai precisar passar por uma “cirurgia de alto risco” por causa de “complicações delicadas”.

Mais uma vez, a equipe médica não informou qual seria essa “cirurgia de alto risco” nem quando ela será realizada. Também não explicou quais são as “complicações delicadas” da saúde do padre.

Vale lembrar que essa possível cirurgia “de alto risco” só foi falada após as matérias públicas questionando a situação de saúde do padre.

Seria interessante, o quanto antes, que as autoridades médicas, da polícia e do Judiciário esclareçam, o mais rápido possível, a situação do fundador da Fundação Terra. Até agora, muito se falou, mas pouco foi dito. A sociedade merece uma explicação.

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