Conheça mais de Arthur Rimbaud, esse grande poeta-menino que incendiou a literatura e queimou sua própria existência.
“A verdadeira vida está ausente. Não estamos no mundo.” – escreveu Arthur Rimbaud, o gênio precoce que revolucionou a poesia antes de abandonar a literatura e mergulhar no desconhecido.
Nascido em 1854, em Charleville, França, Rimbaud era um menino prodígio, um aluno brilhante com uma mente inquieta e rebelde. Criado por uma mãe rígida e um pai ausente, ele buscava escapar dos grilhões da província e sonhava com uma vida grandiosa. Escreveu seus primeiros poemas ainda adolescente e, aos 16 anos, criou O Barco Ébrio, onde já anunciava sua travessia em águas turbulentas:
“Eu vi os céus se rasgarem em clarões, e as marés,
E os recifes, e os redemoinhos;
E muitas vezes, coisas inefáveis eu vi
No fundo dos abismos!”
Foi um visionário da palavra, experimentando imagens, ritmos e sinestesias como ninguém antes dele. Criou a teoria do poeta como “vidente”, alguém que, pelo desregramento absoluto dos sentidos, mergulha na escuridão para encontrar a luz.
O amor louco com Verlaine
Em 1871, aos 17 anos, Rimbaud enviou suas poesias a Paul Verlaine, já um poeta consagrado. Fascinado pelo jovem gênio, Verlaine o convida a Paris. O encontro entre os dois resultou em uma relação apaixonada e tumultuada, feita de embriaguez, excessos e violência.
“Beije-me outra vez!
Dê-me tudo o que for amoroso!
Nada é demais quando os beijos são febris!”
Juntos, eles se embrenham no absinto, no haxixe, na busca desenfreada pelo prazer e pelo abismo. Mas a paixão se transforma em tragédia. Em 1873, em um acesso de fúria e desespero, Verlaine dispara dois tiros contra Rimbaud, ferindo-o no pulso. Preso e condenado, Verlaine é forçado a deixar o amante. Esse período marca a escrita do sombrio Uma Temporada no Inferno, onde Rimbaud sentencia:
“Um belo dia, eu dei à beleza um tapa na cara.”
Aos 20 anos, sem explicações, sem despedidas, Rimbaud abandona a poesia. Nunca mais escreveria versos. Parte para Londres, depois para Chipre, Egito, Etiópia, e se reinventa como mercador, explorador, traficante de armas. Vive no calor sufocante do Chifre da África, trocando os delírios da poesia por uma vida dura e solitária.
“O que me importam as boas palavras de conforto,
As promessas de felicidade futura?”
Longe da Europa, ele acumula riqueza, mas sua saúde se deteriora. Em 1891, acometido por um câncer no joelho, retorna à França. A perna é amputada, e, entre dores lancinantes e febres delirantes, ele pronuncia suas últimas palavras: “Vou para o Paraíso, com as mãos nos bolsos.”
Morre aos 37 anos, em Marselha, encerrando uma trajetória relâmpago, intensa e enigmática.
Rimbaud, o meteoro eterno
O menino prodígio, o poeta errante, o amante de Verlaine, o mercador na África – Rimbaud foi tudo e foi nada. Sua poesia, porém, permaneceu, ardendo como fogo indomável. Suas palavras ainda ecoam, sempre atuais, sempre insubmissas, sempre vivas:
“Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos.
— E eu a achei amarga.
— E eu a amaldiçoei.”