Obstetrícia: falta de leitos preocupa entidades e pacientes na Bahia

Na última semana, Cristiano e Manuela Silva fizeram uma verdadeira peregrinação em busca de uma vaga em hospitais privados de Salvador para realizar o parto do primeiro filho do casal.

650x375_1353605

A primeira tentativa foi no dia 2, no Hospital Português, mas, por falta de leito de obstetrícia e UTI neonatal disponível, não foi possível agendar a cesariana. A busca terminou quarta-feira, quando ela conseguiu uma vaga no Hospital Santo Amaro. “Passamos a terça-feira toda na rua. Fomos a mais três hospitais e nada. Ela nem dormiu de tanta preocupação”, disse Cristiano.

O problema de falta de leitos de obstetrícia e de UTI neonatal nos hospitais privados enfrentado pelo casal é comum e preocupante, segundo entidades da classe médica e representantes das unidades particulares de saúde.

De acordo com o presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (Ahseb), Ricardo Costa, o número de leitos de obstetrícia e de UTI neonatal na rede privada de Salvador reduziu cerca de 90 vagas nos últimos cinco anos, o que corresponde a 20% do total.

Hoje, o número de leitos destas áreas é da ordem de 316, sendo 225 obstétricos (147 cirúrgicos e 70 clínicos) e 126 de UTI neonatal, segundo dados do  Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde.

“Temos um déficit, que é perceptível. O motivo é simples: o valor que o convênio paga não é satisfatório para os hospitais”, explicou Costa.

Repasse

O dirigente diz  que os planos de saúde  não repassam para os hospitais o valor real dos gastos, o que acaba gerando prejuízo: “As unidades fecham os leitos de obstetrícia e ofertam para outras especialidades, de maior remuneração, como oncologia”.

Costa diz que os hospitais gastam, em média, R$ 3.500 por paciente na maternidade. No entanto, ele ressalta, os planos repassam entre R$ 2.500 e 3.000.

Em nota, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde) – representante dos planos de saúde – informou que as operadores vinculadas à associação “estão entre as que melhor remuneram hospitais”.

Ainda segundo a nota, “cada operadora de plano de saúde possui condições específicas de remuneração a fornecedores e prestadores e serviço”. A Fenasaúde conta com 31 operadoras de planos de saúde associadas.

Comissão

Outra paciente que enfrentou a falta de leitos de UTI neonatal foi a jornalista Carolina Mendonça. “Minha cesariana foi remarcada de segunda para quarta-feira. Liguei para outros três hospitais para um caso de urgência, mas nenhum tinha leitos disponíveis”, contou ela.

Terça-feira, a operação foi novamente adiada. Aflita, ela conseguiu a vaga para a quarta por meio de seu obstetra, que atua no Português.

Em virtude desta situação, representantes da classe médica, professores universitários e membros de hospitais privados formaram uma comissão para analisar este déficit de leitos e buscar soluções.

O vice-presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia (Sogiba), Wigberto Azevedo, diz que a situação é preocupante.

“Há grande demanda de partos e estes leitos não atendem. Se o bebê precisar de internamento neonatal, há grande probabilidade de não haver vaga, o que põe em risco a vida da criança”, afirmou.

Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Associação Bahiana de Medicina (ABM) e  Universidade Federal da Bahia (Ufba) também integram a comissão.

Fonte: A Tarde

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *