Onde Raquel está errando

Opinião

A governadora Raquel Lyra (PSDB) recebeu, mais uma vez, uma péssima avaliação no ranking dos 27 governadores rastreado pelo Atlas Intel e divulgado no sábado passado. Entre os nove do Nordeste, apareceu na lanterninha. No geral, é a terceira pior do País, ganhando apenas dos desastrosos governadores Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, e Wilson Lima, do Amazonas (União Brasil).

Nos últimos seis meses, Raquel inverteu a ordem de governar – do Interior para a capital. A estratégia é restaurar sua imagem nos grotões, a partir de um conjunto de obras, como estradas, partindo do raciocínio de que o eleitor interiorano cobra menos, se conforma com o pouco que recebe, enquanto o que está no Recife e Região Metropolitana é muito mais exigente.

Tem uma certa lógica, mas governar é, antes de tudo, delegar. O que se ouve nos bastidores é que Raquel não confia em ninguém e por isso mesmo é extremamente centralizadora. Quem quer controlar tudo, acaba não fazendo nada, porque a máquina do Estado é gigante e engole quem escolhe esta janela para o sucesso administrativo. O Governo de Raquel é Raquel, gira em torno dela e das redes sociais, seu território de gestão colorida.

Não há um só secretário que se destaque, ou que fale pelo menos. Todos têm pavor da chefona, morrem de medo de levar gritos. E ela não grita, berra, já me contaram secretários que deixaram o Governo. Ninguém governa sozinho. Governo bem-sucedido é resultado de uma equipe harmônica, competente, falando a mesma linguagem, vestindo a camisa da gestão, trabalhando com elevado espírito público e devoção.

Não se vê isso no Governo Raquel. Na sua obra clássica e primorosa “O Príncipe”, Maquiavel fala do exercício do poder pelo governante como algo fundamental para a questão da conquista e preservação do Estado, cabendo ao bom rei (ou bom príncipe) ser dotado de virtude e fortuna, sabendo como bem articulá-las.

Enquanto a virtú dizia respeito às habilidades ou virtudes necessárias ao governante, a fortuna tratava-se da sorte, do acaso, da condição dada pelas circunstâncias da vida. Para Maquiavel, quando um príncipe deixa tudo por conta da sorte, ele se arruína logo que ela muda. Sem equipe, sem delegar, sem confiar, Raquel não pode jogar suas apostas nos búzios.

Feliz é o príncipe, segundo Maquiavel, que ajusta seu modo de proceder aos tempos, e é infeliz aquele cujo proceder não se ajusta aos tempos. Raquel não pode continuar governando com empáfia e autoritarismo. Tem que entender que a atividade de gestão é política, e política, tal como arquitetura, exige um compasso de espera, de paciência, resiliência e até ternura.

Dinheiro não é tudo – Tenho ouvido de aliados de Raquel, e até de cientistas políticos, que a governadora irá superar o inferno astral de sua gestão porque está com o cofre recheado e tem muitas obras acontecendo, ou por vir, que lhe darão visibilidade. Mais uma vez, digo que há uma lógica nesse raciocínio. Mas não adianta ter uma botija se não se der ao exercício da política. E na política, ela tem errado demais. Brigou com o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, perdeu as duas indicações para o Tribunal de Contas, levou a pior nas investidas para trazer o MDB e o PDT, que foram parar nos braços de João Campos.

Do Blog do Magno Martins

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