Opinião: A transposição do São Francisco e a Ferrovia Transnordestina

Por: *Gilson Alves

O fenômeno da seca no Nordeste do Brasil, sabemos todos, é cíclico e periódico. As promessas vazias da maioria esmagadora da classe política brasileira (também sabemos!) repetem-se cíclica e periodicamente e, neste caso, com a precisão do calendário eleitoral, ou seja, a cada dois anos.

Ambos os “fenômenos” trazem consigo sofrimento, dor, revolta e atraso. Dito isto, passemos a comentar primeiramente sobre o denominado Sistema Coletivo de Abastecimento D’água do Sítio Angico Torto, área rural situada em Verdejante/PE, pequeno município encravado no Sertão Central de Pernambuco.

De início, para a exata compreensão do tema abordado neste modesto artigo, far-se-á indispensável que o Governo do Estado, o egrégio TCE (Tribunal de Contas de Pernambuco), o colendo TCU (Tribunal de Contas da União) e, ainda, o Ministério da Integração Nacional e a Codevasf, manifestem-se a respeito e, de preferência, trazendo às informações oficiais respeitantes à sobredita obra.

Senão vejamos. A construção desse Sistema Coletivo de Abastecimento D’água, para atender à comunidade do Sítio Angico Torto, teve início há quase uma década e foi precedida, à época, de afixação de placa alusiva à obra com destaque para os timbres do Ministério da Integração Nacional e da Codevasf.

Lamentavelmente, por fas et ne fas,   dita obra jamais foi concluída, não se sabendo, em verdade, nem mesmo qual a empresa ou órgão estatal responsável pelo serviço inconcluso, nem quanto de recursos públicos foram gastos desde então, permanecendo, a apontada e desassistida comunidade, castigada pela seca, no aguardo sine die da efetiva conclusão desse importante benefício.

Não obstante (e “noves fora o interesse da comunidade”), essa obra já foi objeto de diversos “atos públicos de inaugurações”, com a presença de vários políticos, notadamente de candidatos a cargos públicos de nível municipal e estadual, e guardadas as devidas quadras, assemelha-se, lastimavelmente, a duas outras que são – ou deveriam ser – tocadas a passos largos pelo Poder Público – os canais da transposição do rio São Francisco e a Ferrovia Transnordestina, ainda hoje inconclusas e praticamente abandonadas depois que verdadeiras fortunas do contribuinte brasileiro foram empregadas e lançadas ao “sabor” das empresas consorciadas – que se revezam paulatinamente – e ao “som” dos acordes dissonante dos editais, contratos licitatórios e dos convenientes termos aditivos de caráter ad eternum. 

Certo é que a cada ciclo eleitoral se repetem as manipulações e os engodos dos governantes, perpetuando-se o estado de miséria, necessidade e vulnerabilidade dos moradores da região nordestina, em especial do sertanejo habitante do semiárido, servindo a expectativa quanto à conclusão dessas obras mencionadas e alardeadas como “redentoras”, mais como promessa vil e vã em troca de votos do que como realidade a beneficiar o povo nordestino, mostrando-se inadiável que providências sejam tomadas para a rigorosa apuração dos entraves técnicos, financeiros, burocráticos e/ou políticos que estão a inviabilizar a execução definitiva do Sistema Coletivo de Abastecimento de Água do Sítio Angico Torto e, sobretudo,   vedando-se que tal obra, a exemplo das duas outras mencionadas, continuem sendo utilizadas, mormente, em épocas de eleições, como ilusão política para ludibriar a esperança e a boa-fé do povo sertanejo.

*Gilson Alves é advogado na cidade de Salgueiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *