Opinião: CPI acendeu a luz vermelha no Planalto

Jornalista Tereza Cruvinel afirma que o depoimento do ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten revelou sinais de que o “Planalto e o bolsonarismo entraram em desespero”. “Em cada depoimento, a CPI colhe mais e mais elementos demonstradores de que o governo foi não apenas omisso mas cometeu crimes contra a vida dos brasileiros”, avalia

Ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten
Ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten (Foto: Edilson Rodrigues – Agência Senado)

Fabio Wajngarten mentiu muito mas entregou o principal para a CPI: o governo não comprou em tempo vacinas da Pfizer porque não quis. Passou dois meses sem responder a uma oferta. E com isso, muitos dos que morreram poderiam ter se salvado.

A prisão do mentiroso teria sido legal mas não teria sido politicamente oportuno dar munição ao bolsonarismo em seu momento de maior desespero desde o início da CPI. Seria alimentar o vitimismo e a histeria contra “o tribunal de exceção”, contra a prisão de quem não foi julgado. O presidente Omar Aziz estava certo. A proposta do senador Humberto Costa foi salvadora: enviando as provas do mentiral para o Ministério Público, a CPI evitou a prisão mas não foi complacente. Ficou o aviso para os próximos depoentes.

Evitou-se também o racha da CPI. Se o senador Renan Calheiros insistisse na prisão com o apoio de uma eventual maioria da comissão, uma consequência poderia ser a renúncia de Aziz. E isso poderia ser o fim da CPI.

Mas o assunto aqui são os sinais de que o Planalto e o bolsonarismo entraram em desespero. Um deles, a ida da deputada Carla Zambeli ao Senado para tirar satisfação com Renan. Outro, o aparecimento do senador Flavio Bolsonaro, para substituir a desorientada tropinha de choque do governo. Transtornado, partiu para o ataque a Renan, chamando-o de vagabundo. Ouviu que vagamento é quem rouba dos funcionários e vai colher com isso mais uma representação no Conselho de Ética por falta de decoro.

No Palácio, Bolsonaro cobrou respeito e repetiu que só Deus o tira da cadeira.

O desespero vem do óbvio. Em cada depoimento, a CPI colhe mais e mais elementos demonstradores de que o governo foi não apenas omisso mas cometeu crimes contra a vida dos brasileiros: sabotou as medidas que poderiam conter a disseminação do vírus, como o uso de máscaras e o isolamento; estimulou as aglomerações e a livre circulação, seja para trabalhar ou para qualquer fim. E para isso, acenou com uma cenoura, a cloroquina.

 Mais grave, sabotou a vacinação. Criou caso com a Coronavac do Butantã, a “vaxina”, e deixou de comprar a Pfizer quando teve a oportunidade ainda em agosto. Sim, a carta apresentada por Wajngarten é de 12 de setembro mas a primeira oferta foi feita em agosto. Carlos Murilo, representante da empresa, deve dizer isso hoje. E tudo isso por uma aposta cruel e irresponsável na tese da imunidade de rebanho por contágio.

Mas há coisas mal compreendidas sobre o comportamento de Wajngarten na CPI. Por que mentiu tanto para proteger Bolsonaro se já está fora do governo, se não tem sequer o emprego e algum poder a defender? Por que não posou de bom moço, entregou a carta-prova e tirou o corpo fora, desvinculando-se do governo, dizendo não concordar com as posturas negacionistas e tal, na linha do que fez Barra Torres, o presidente da Anvisa, na terça-feira?

Por que, depois de ter dito na entrevista à Veja, que a vacina da Phizer não foi comprada por incompetência do ministério da Saúde, ao tempo de Pazuello,  ontem  atuou também de forma a preservar o ex-ministro?

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