Pais de bebê morto após médica não prestar socorro são amparados em enterro

Corpo de Breno foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju
Corpo de Breno foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju Foto: Carolina Heringer
Carolina Heringer e Gabriela Viana

O bebê Breno Rodrigues Duarte da Silva, de 1 ano e sete meses, que morreu após uma médica não prestar socorro, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, foi sepultado na tarde desta quinta-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Norte. O menino morreu na manhã desta quarta-feira. Breno foi enterrado por volta das 16h.

Familiares e amigos acompanharam o velório e o sepultamento de Breno
Familiares e amigos acompanharam o velório e o sepultamento de Breno Foto: Carolina Heringer/EXTRA

Emocionados, os pais da criança, Rhuana Rodrigues e Felipe Duarte, vestiam camisas com o rosto do menino e com a frase “Para sempre nosso campeão”. Familiares e amigos também participaram do velório e do sepultamento e apoiaram os pais do menino. Rhuana está grávida de dois meses.

Familiares e amigos acompanharam o velório e o sepultamento de Breno
Familiares e amigos acompanharam o velório e o sepultamento de Breno Foto: Carolina Heringer/EXTRA

A médica que não socorreu Breno foi demitida da Cuidar Emergências Médicas, que presta serviços para o plano de saúde Unimed-Rio. A profissional foi acionada na manhã de quarta-feira para prestar atentimento à criança, que sofria de uma doença neurológica. Ela chegou com a ambulância no condomínio da família, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, mas foi embora com o veículo sem ver o menino, que morreu 1h30 depois.

Familiares e amigos de Felipe e Rhuana apoiaram casal
Familiares e amigos de Felipe e Rhuana apoiaram casal Foto: Carolina Heringer/EXTRA

“É uma médica que atua como prestadora de serviços em nossa empresa, há cerca de 2 anos, sem que, até a presente data, apresentasse qualquer tipo de problemas na ordem técnica e comportamental. É uma profissional treinada e habilitada para atendimentos emergenciais, com formação em anestesia. Esclarecemos que no momento não estamos divulgamos nome e CRM da médica por orientação do Cremerj. Estamos apurando o ocorrido, ressaltando que a colaboradora foi afastada de suas funções de modo definitivo. Outrossim, reiteramos o nosso repudio a atitude apresentada pela profissional”, diz nota da Cuidar Emergências Médicas.

Um vídeo gravado por câmeras de segurança do prédio mostra a médica, dentro da ambulância, rasgando papéis que seriam a guia de internação de Breno. De acordo com o pai da criança, funcionários do condomínio ouviram a profissional gritando que já tinha passado de seu horário e que por isso não iria atender à criança.

— Me falaram que ela gritava que já tinha passado do horário dela e que não era pediatra – disse o pai da criança.

O bebê sofria de uma doença neurológica que provocava epilepsias de difícil controle. Nesta quarta-feira, ele apresentou problemas de digestão, e a ambulância foi chamada para transportá-lo ao hospital.

O pequeno Breno morreu às 10h26 desta quarta-feira. O primeiro chamado para a ambulância havia sido feito às 8h20. O socorro chega ao local por volta das 9h10 e sai às 9h13. As imagens do circuito interno mostram o horário de saída como 10h13. Segundo Felipe Duarte, o computador estava com horário de verão. Ainda de acordo com ele, o socorro foi chamado pela primeira vez pela pediatra responsável pelo tratamento de Breno.

— Ele ficou sete meses internado depois do nascimento. Depois, veio para casa com o home care. Tínhamos enfermeiras 24 horas por dia dando assistência. A epilepsia dele era de difícil controle, mas vinha apresentando melhoras. Já havíamos até dado entrada na Anvisa para a liberação do canabidiol para auxiliar no tratamento. Por causa das regras do home care, não poderíamos levá-lo diretamente ao hospital. Cogitamos isso, mas a Unimed nos dizia que a ambulância estava chegando — contou.

Homenagens são feitas ao pequeno Bruno
Homenagens são feitas ao pequeno Bruno Foto: Carolina Heringer

A esposa da Felipe, Rhuana Rodrigues, está grávida de dois meses. Ela também conversou com o EXTRA e classificou o que ocorreu como “desumano”.— Agora eu vou viver com esse “se” para o resto da minha vida: se ela tivesse levado será que o meu filho estaria vivo? Ele morreu uma hora e meia depois. Dava muito tempo de ter levado ele ao hospital. É desumano. Eu abri mão da minha vida para cuidar do meu filho que era especial e agora não tenho mais o meu Breno. Ela negou socorro — disse.

A Unimed-Rio lamentou a morte do bebê e descredenciou a empresa Cuidar. A médica ainda não foi identificada. “A Unimed-Rio lamenta profundamente o falecimento do pequeno Breno Rodrigues Duarte da Silva na manhã desta quarta-feira, 7/6 e vem prestando apoio irrestrito à família nesse momento tão difícil. A cooperativa tomará todas as providências para descredenciar imediatamente o prestador “Cuidar”, pela postura inadmissível no atendimento prestado à criança. Além disso, adotará todas as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis em razão da recusa de atendimento por parte do prestador de serviço”.

O velório de Breno acontece nesta quinta-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, na Zona Norte do Rio
O velório de Breno acontece nesta quinta-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, na Zona Norte do Rio Foto: Carolina Heringer

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) instaurou sindicância para apurar a conduta da profissional. A 16ª DP (Barra da Tijuca) está investigando o caso.

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