Renato Paiva em entrevista coletiva do Bahia. Crédito: Felipe Oliveira/EC Bahia
Após passar oito jogos sem vencer – sendo seis pelo Brasileirão -, o Bahia derrotou o América-MG por 3×1, na Arena Fonte Nova, e acabou com a maré ruim. De quebra, deixou a zona de rebaixamento e voltou a respirar na Série A. Mas, ao mesmo tempo em que trouxe alívio à equipe, o resultado também veio com um momento de longo desabafo do técnico Renato Paiva.
Na entrevista coletiva ao fim da partida, o treinador elogiou a equipe e defendeu o trabalho. Segundo o próprio comandante, o tricolor atuou da mesma forma como nos últimos compromissos – mesmo que as vitórias não tenham vindo nas partidas anteriores.
“É um jogo na linha de muitos que fizemos aqui. Apesar de dizerem que não temos um padrão de jogo. Quando dizem isso, é um elogio para mim. A equipe tem uma ideia de jogo, tem feito jogos muito bons”, falou Paiva.
“Acho piada que, quando o Bahia faz exibições em que falha no gol e os goleiros defendem muito, é ineficaz. Quando Marcos faz muitas defesas, não sabe se defender. Estão sempre puxando pelo negativo. Um jogo muito bom da minha equipe, como muitos outros que fizeram aqui em casa. Uma vitória importante, três pontos, continuar a trabalhar”, completou.
Além do jejum na temporada, o Bahia vinha de apenas uma vitória nos 17 confrontos anteriores e não marcava gols há três partidas. Um cenário que fez surgir especulações sobre uma possível troca de treinador. Paiva disse ignorar boatos desse tipo, e defendeu sua continuidade na equipe. O português ainda falou em uma espécie de perseguição contra os técnicos tricolores.
“Primeiro, as únicas notícias que tenho, é meu assessor de imprensa que me manda. Não estou nas redes sociais e tento não assistir televisão. O que eu faço é focar no meu trabalho com meus jogadores. Alguém vai perguntar da reação dos jogadores no meu segundo gol? Não, é normal ninguém perguntar porque os jogadores foram me abraçar. Só olham o negativo. É melhor dizer que vem Ceni, Beccacece… Essa semana, falaram do Vitor Hugo. Foi tanta mentira que, ou me contamino com isso, me demito ou vou embora, ou continuo trabalhando. Forte, firme, como estamos fazendo”, afirmou.
Renato Paiva
“Não temos ganhado, de fato. Não temos feito exibições como queríamos, de fato. Mas temos uma ideia de jogo. O Bahia tem uma ideia de jogo muito clara. Às vezes, não conseguem colocar em prática, porque os adversários também jogam. Há constantes ataques aos treinadores que aqui sentam. Mas não é o Paiva. Todos os outros treinadores que se sentaram aqui foram alvos de ataque, e é uma pena. A nível nacional, já recebi muitos elogios. Mas aqui, ao invés de defender, me atacam. É uma pena”
Por outro lado, o técnico afirmou que vê com naturalidade a pressão da torcida. Mais uma vez, foram exibidas faixas na arquibancada da Fonte Nova pedindo a saída do comandante. Ele chamou para si a responsabilidade e valorizou a presença dos torcedores no jogo.
“Não tenho reação, é normal. Quando a equipe está há muito tempo sem ganhar, é normal que a torcida peça a saída. O que quero dizer à torcida: extraordinário estarem 34 mil pessoas aqui quando estamos na zona de rebaixamento. Continuam a surpreender. Podem continuar pedindo minha saída. E xingar, vaiar. Mas não façam aos jogadores, eles têm sido fantásticos. Deixem os jogadores jogarem. Estando a equipe em zona de rebaixamento e ver o estádio com essa moldura humana apoiando a equipe é absolutamente fantástico”, comentou.
O resultado positivo tirou o Bahia do Z4, mas a situação ainda é incômoda. O Esquadrão tem os mesmos 18 pontos do Santos, que abre a zona de rebaixamento, mas está à frente pelo saldo de gols. Paiva voltou a falar sobre o modelo de jogo, e disse que há um tempo de adaptação dos recém-contratados às suas ideias. Agora com o elenco completo, o treinador falou em ‘somar vitórias’.
“Eu não trouxe essa ideia de jogo há pouco. Trouxe desde que cheguei. Não tenho culpa de que os jogadores chegaram aos poucos. A ideia está a crescer e se sedimentar. Chegaram dois em pré-temporada. Ratão e Gilberto estão em pré-temporada. Não existem milagres. Finalmente começamos a ter semanas livres para trabalhar. Ter o elenco pronto e continuar a trabalhar. O que queremos é somar vitórias. Costumam dizer que o Bahia estava sem ganhar há vários jogos, mas parece que o Bahia só perdeu. O Bahia tem empates também. Foi somando. Eu, sentado aqui, sou alvo muito fácil”, afirmou.
O próximo compromisso do Bahia será diante do Atlético-MG, fora de casa. O Esquadrão visita o Galo no Mineirão no domingo (13), às 11h, pela 19ª e última rodada do primeiro turno.
Confira outros trechos da entrevista coletiva de Renato Paiva:
Importância de Gilberto e Cándido
São dois jogadores de muita qualidade. Dois jogadores que quisemos contratar para equilibrar o elenco e fazer os outros que têm qualidade também, como [Matheus] Bahia e Cicinho têm, crescerem e ajudarem a equipe. Em termos ofensivos, são muito fortes. Em termos defensivos, tiveram bem. Vamos seguir tentando jogar desta forma. Não sei se será uma continuidade ou não, o Campeonato Brasileiro não dá margem para isso. Às vezes, uns ganham, outras perdem. Hoje, toda gente esperava que o São Paulo ganhasse, o Atlético-MG não ganhava nos últimos jogos e ganhou… O Vasco ganhou. Enfim. É o Campeonato Brasileiro. Mas são dois bons reforços.
Acevedo no banco
Viu o jogo que Rezende fez?! Jogo mais ofensivo. O Nico, em questões de cansaço, notamos que nos últimos tem perdido muita bola, tem errado muito passe, e Rezende dava critério ofensivo diferente. Só isso.
Reforços
Quando não havia reforços, batiam em mim. Se de fato vocês identificam uma melhoria de qualidade, é porque de fato esses jogadores faziam falta. Tivemos plantel limitado, até por lesões. Os reforços, tentamos eu e o Carlos Santoro, que somos os mais atacados, trabalhamos todos os dias. Nós tomamos decisões. É muito mais fácil sentar, pegar um microfone e falar do trabalho dos outros. Vamos agradar a todos? Não. Vamos errar? Vamos. O que fizemos foi olhar o que precisávamos e buscar qualidade. Um elenco mais compacto em termos de soluções, mais equilibrado em termos de qualidade.
A ideia é impor seu estilo aos adversários ou se adaptar?
Muito boa pergunta. Normalmente o que queremos fazer é 30% – 70%. Trinta de adaptação ao adversário e setenta de meu estilo de jogo. Mas isso é o que eu planejo, preparo, em função das forças e fraquezas do meu adversário. Mas o Bahia não joga sozinho. Às vezes, as coisas não saem como gostaríamos. Cada jogo tem um contexto. Temos que tomar decisões. Hoje a ideia era essa. Uma equipe com um homem circulando na frente da defesa. Um 4-3-3 com suas dinâmicas. Pontas fortes no um contra um. Meias criativos, com envolvimentos, chegadas. Hoje, conseguimos de fato aproximar muito daquilo que eu quero.