Para escapar da seca, apicultores transferem colmeias

Por conta da seca, produção de mel na região do Araripe caiu de 1.800 toneladas para 70 toneladas entre 2011 e 2012

Raquel Freitas
Como os custos para sair de um estado para outro são altos, produtores chegam a ratear os gastos com outros apicultores para baratear operação

Para escapar da estiagem que abate a região do Araripe, no Sertão do Estado, desde 2012, os produtores de mel fazem a migração forçada de colmeias para outros estados. O transporte acontece para lugares onde as chuvas são mais frequentes e a florada satisfatória, fatores que influenciam a produção apícola. Responsável 90% da produção de mel do Estado, a região produtiva vem sofrendo severamente com os efeitos da seca. Somente Araripina, que concentra 73% do que é fabricado no polo, viu sua produção cair de 1.800 toneladas para 70 toneladas entre 2011 e 2012.

Apesar de o quadro ser delicado, projeções apontam para retomada da cadeia aos antigos patamares. De 2004 a 2014, a atividade gerou R$ 71 milhões para a economia de Pernambuco.“A seca tem dado uma crise grande. Até 2011 chovia acima da média e conseguíamos produzir 10 toneladas por ano. Com a estiagem, caímos para mil quilos. Uma queda brusca”, lamenta um dos produtores da região, Moacir Rodrigues. Para reverter o quadro, as colmeias de Moacir percorrem cerca de 700 quilômetros até o Maranhão. “O custo para transportar os 500 enxames chega a ser de R$ 40 mil, repercutindo numa produção de cinco toneladas de mel”, frisou. Para se ter ideia, em 2011, a produção dele feita no Estado chegava a 27 toneladas.

Assim como Oliveira, o também empresário do ramo de mel Edmilson de Sousa migra sua produção no intuito de recuperar os índices produtivos. “A minha é de, atualmente, duas toneladas, bem inferior ao que eu chegava a fazer em 2011, quando produzia 14 toneladas”, comparou. Como os custos para sair de um estado para outro são altos, Sousa buscou ratear os valores dos gastos com quatro produtores. Gastaram R$ 11 mil para manter as colmeias por seis meses no estado vizinho.

Na visão do presidente do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Gabriel Maciel, com a La Niña (fenômeno natural que provoca chuvas no Nordeste e seca no Sudeste) configurada em 60% é possível que a quadra chuvosa esteja mais perto de acontecer e que essa situação seja revertida. “Estabelecendo esse quadro, a previsão é que a produção local soerga e comecemos a exportar nos próximos dois anos”, explicou. Estados Unidos e União Europeia estão na mira da economia local.

A venda para o mercado internacional, contudo, é o maior entrave da atividade. Estado como Piauí, por exemplo, compra esse mel bruto e exporta de lá para outros mercados, impactando a nossa balança comercial. “Entretanto, o Estado vem trabalhando para reverter essa situação. Para atender as exigências legais e conquistar a certificação do Ministério da Agricultura (Mapa), investimentos foram feitos no Centro Vocacional Tecnológico do Mel, no município de Trindade. As casas do mel de Bodocó e Ouricuri também recebem investimentos para revitalização, de modo que, no futuro, emitam o certificado de Estabelecimento relacionado ao SIF (certificação do Mapa)”, disse Maciel, ressaltando que 80% dos projetos estão concluídos. As certificações são fundamentais para efetivar a exportação.

Analista do Sebrae em Araripina, Rossana Webster diz que a iniciativa fará com que o processamento da produção pernambucana seja efetuado aqui e não precise ir para outras localidades antes de sair do País. “Acontece da seguinte forma: o mel bruto é enviado para o Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, retornando para o porto de Suape ou seguindo via Pecém. A ideia é que, após conseguir o selo, o mel processado aqui entre na pauta de exportação do Estado”, detalha.

Folharesume
Produtores da região apícola estão tendo que migrar as colmeias para outros estados em busca de chuvas mais frequentes e floradas, fatores que influenciam diretamente na produção do mel. De 2004 a 2014, a atividade gerou R$ 71 milhões para a economia de Pernambuco.

Fonte: FolhaPE

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