Dando sequência a série de análises dos 16 políticos convidados para opinar sobre o que representou o ano de 2024 e a expectativa para o ano que se aproxima, a vice-presidente nacional do Solidariedade, Marília Arraes, jogou pesado. Afirmou que os pernambucanos sofreram mais um ano perdido com a gestão de Raquel Lyra (PSDB).
“A governadora persegue adversários políticos, ao ponto de criar um documento oficial que se configurou uma verdadeira “Lista de Schindler”, qualificando prefeitos e municípios de acordo com sua posição política em relação ao governo, quando deveria se inteirar sobre a realidade social e histórica de cada região. A gestora visivelmente não conhece Pernambuco”, afirmou. Confira abaixo o texto na íntegra.
O que passou e o que virá: retrospectiva de 2024 e perspectivas para 2025
Por Marília Arraes*
Traduzir as contradições de 2024 em algumas linhas não é tarefa simples. Foi um ano de relações de barbárie intensificadas, impactando o mundo, reverberando no Brasil, no Nordeste e em Pernambuco, amplificadas pela disseminação veloz de informações nas plataformas digitais. Essas dinâmicas seguirão vigorosas em 2025.
Na luta política, denunciamos a miséria, a concentração de riquezas e a indiferença de setores da elite econômica e política. Nosso desafio é construir alternativas que enfrentem essas questões com coragem e clareza.
Assistimos a uma batalha intensa entre um Congresso superpoderoso, sem predominância ideológica clara, e um governo progressista desafiado a implementar um programa popular e democrático. Foi também o ano em que se investigou a tentativa frustrada de golpe realizada ano passado, que resultou na prisão de alguns seus articuladores, inclusive um general 4 estrelas, fora os mandados de prisão que estão por vir, expondo fragilidades institucionais e nossa responsabilidade contínua em consolidar nossa jovem democracia.
Adicionalmente, a proposta de novo pacote fiscal do Governo Federal desagradou a vários setores. Considero normal a reação do “mercado”, usualmente um motor reator a mudanças, mas que se acomoda em caso de êxito na economia. Escutamos, porém, críticas de setores populares, contra cortes no orçamento, incluindo o aumento real do salário mínimo e benefícios sociais. A tensão expõe a dificuldade de equilibrar demandas sociais com restrições econômicas.
Há pouco mais de uma década, alertávamos para o “ovo da serpente” do fascismo, iniciado com a “crise de representatividade”, que nada mais era do que o incentivo à rejeição e à desilusão com a política. Hoje, vemos a escalada da extrema direita global, marcada pela reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos, com reflexos claros no Brasil e no mundo. É urgente que agentes políticos promovam a união em torno de ideais democráticos, cada vez mais, buscando amenizar os extremismos.
Tragédias globais marcaram 2024 e tendem a piorar em 2025. A guerra entre Rússia e Ucrânia ultrapassou 1 milhão de mortos, enquanto o conflito Israel-Palestina tirou mais de 50 mil vidas. Na Síria, após 13 anos de guerra, as mortes superaram 507 mil, incluindo mais de 600 apenas nesse mês de dezembro de 2024. Esses episódios simbolizam a desintegração política global.
Diante disso, é urgente superar divergências e firmar compromissos inadiáveis com as questões que afetam diretamente a vida do povo. Sem isso, não haverá trégua ou concórdia.
No Recife, vimos um exemplo positivo de articulação política. A frente progressista liderada por João Campos garantiu uma vitória histórica, reflexo de entregas como gestor e sua habilidade em unir lideranças.
Em Pernambuco, contudo, enfrentamos mais um ano perdido. A governadora persegue adversários políticos – ao ponto de criar um documento oficial que se configurou uma verdadeira “Lista de Schindler”, qualificando prefeitos e municípios de acordo com sua posição política em relação ao governo – em vez de se inteirar sobre a realidade social e histórica de cada região, uma vez que a gestora visivelmente não conhece Pernambuco. Com a pobreza crescente nos grandes centros urbanos e o Estado perdendo a batalha para o crime organizado, além da ameaça de privatização da Compesa, a conta de tal pequenez política quem está pagando é o nosso povo, especialmente as camadas menos favorecidas.
É necessário um choque de esperança. Não um otimismo ingênuo, mas uma postura realista e esperançosa, como ensinava Ariano Suassuna: “Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso”.
Baseio minha luta nesse sonho de um futuro melhor. Um futuro em que o Brasil, o Nordeste e Pernambuco trilhem o caminho da igualdade e dignidade. Considero que as perspectivas para o cenário político dos próximos anos seguem incertas. Afirmo, contudo, seguramente que as transformações de que precisamos dependem de posturas coerentes e bom senso de líderes políticos que apontam os caminhos. Próximo ano, o desafio será ainda maior, mas acredito que é possível construir soluções concretas com projetos políticos centrados no desenvolvimento econômico atrelado à justiça social, avançando passo a passo na conscientização política crescente da população.
Que o próximo ano nos traga união, coragem e compromisso com o povo. Porque a luta por um Brasil justo, solidário e democrático não pode esperar.
*Advogada formada pela UFPE e pós-graduada em Direito Penal e Criminologia pela PUC do Rio Grande do Sul. É vice-presidente nacional do Partido Solidariedade, já foi vereadora do Recife, deputada federal e foi candidata a prefeita do Recife em 2020 e candidata a governadora de Pernambuco em 2022.
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