Do Estadão – A despeito da aliança nacional que elegeu a chapa formada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin, PT e PSB estão longe de caminhar juntos em parte das capitais brasileiras nas próximas eleições. O movimento vai na contramão de orientações do próprio presidente da República, que pediu a união dos partidos da base de governo para as eleições municipais no maior número de cidades possível.
O caso de Curitiba é o mais intrincado neste momento. Isso porque o PT aparece com três pré-candidatos, o advogado Felipe Mongruel e os deputados federais Carol Dartora e Zeca Dirceu, que atuam juntos para emplacar a tese de candidatura própria na cidade. Ao mesmo tempo, a corrente majoritária do partido, a Construindo um novo Brasil (CNB), defende que a sigla apoie o pré-candidato do PSB, o deputado federal Luciano Ducci.
Desde meados de 2007, a CNB é o campo majoritário do PT. Ela é composta por importantes lideranças do partido, como o presidente Lula e a presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann. O deputado Zeca Dirceu também faz parte da corrente.
O Diretório Municipal do PT se reuniu no sábado, 2, para deliberar sobre a posição da legenda na disputa pela prefeitura de Curitiba. Duas propostas foram apresentadas ao colegiado: “possibilidade de se construir uma política de alianças ou candidatura própria para a disputa da prefeitura de Curitiba”. Porém, nenhuma das alternativas obteve a maioria de dois terços dos votos exigida pelo estatuto do PT.
O resultado da votação foi considerado uma vitória pela ala petista contrária à aliança com Ducci. Segundo a deputada Carol Dartora, que compõe a tendência Democracia Socialista (DS), a atuação dos pré-candidatos do PT fez com que a CNB rachasse em Curitiba. “Conseguimos conquistar mais pessoas para a nossa tese de candidatura própria. Isso é uma vitória”, afirma a deputada.
Diferente da reunião do Diretório Municipal, a próxima votação para definir a posição do PT em Curitiba será aberta para todos os filiados do partido, e não apenas aos dirigentes. O encontro está previsto para o dia 7 de abril. Carol conta que vai trabalhar para convencer a militância petista da importância de uma candidatura própria em Curitiba.
“Talvez teremos que lidar com discursos extremistas na campanha. Uma frente ampla composta com alguém que tenha o perfil do Luciano Ducci vai nos deixar sem a possibilidade de polarizar a eleição, que é o que pode nos levar para o segundo turno”, argumenta a deputada, acrescentando que Ducci tem um histórico de posições contrárias ao PT, como o apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.
Segundo Carol, Ducci também já atuou contra o governo Lula. “Ele votou a favor do marco temporal (das terras indígenas). Não tem como acreditarmos que ele pode ser um aliado, que vai fazer uma aliança programática com o PT para administrar Curitiba”, disse.
Ducci rebate as críticas de que “vota contra Lula”, afirmando que possui um índice de 95% de votos favoráveis com as orientações do Executivo (em referência a um levantamento nesse sentido do site Congresso em Foco). Ele argumenta também que pertence ao partido do vice-presidente e que, por isso, “não faz sentido votar contra o governo”.
O deputado do PSB, porém, já votou contra emendas defendidas pelo governo Lula em matérias importantes, como a reforma tributária e o arcabouço fiscal. Apesar disso, Ducci votou de forma favorável ao texto-base desses projetos.
Ele ainda afirmou que a decisão sobre uma possível frente ampla em Curitiba será tomada nos próximos meses, com a chegada das convenções partidárias. “Esse é o momento de cada partido apresentar os seus nomes. O PSB tem um nome. O PT tem três. O PDT e o PSDB também têm os seus”, disse, acrescentando que a disputa em Curitiba é uma prioridade para seu partido.
Acordo nacional
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, esclarece que o partido tem acordos nacionais firmados com outras legendas progressistas. “Uma das cidades reivindicadas pelo PSB é Curitiba, em que o candidato Luciano Ducci está melhor posicionado. Precisamos do apoio do PSB em outros municípios, como Natal, Porto Alegre, Juiz de Fora. Além disso, temos de consolidar uma frente no Paraná para a disputa de 2026, para compor e consolidar apoio a reeleição do presidente Lula”.
O Diretório Municipal do PT de Curitiba, por sua vez, reforça que a decisão sobre a posição do partido na cidade será tomada no dia 7 de abril. Quanto à definição do nome, em caso de candidatura própria, ainda não está tomada a decisão”, conta o presidente do PT em Curitiba, vereador Ângelo Vanhoni. Ele ainda afirma que, no cenário de candidatura própria, é possível que haja um encontro para tratar sobre as prévias. “Isso deve acontecer apenas se não chegarmos a um consenso”.
Caso os filiados do PT em Curitiba optem por uma política de aliança, Vanhoni explica que Luciano Ducci aparece como uma possibilidade na composição de chapa. “Além de fazer parte do partido do vice-presidente, ele também aparece como bem posicionado nas últimas pesquisas eleitorais e com possibilidade de ir a um segundo turno em nossa cidade. Pelo menos, é o cenário que temos visto”, disse.
Em relação às críticas internas ao nome de Ducci, Vanhoni conta que avalia essa situação com “muita tranquilidade”. “O Brasil vive um momento de transição política para a reafirmação da democracia em nosso país. É com esse entendimento que algumas alianças estão sendo pensadas em grandes cidades e é esse o entendimento em qual tem atuado o governo federal”.
Já o presidente do PT no Paraná, deputado estadual Arilson Chiorato, conta que a prioridade do partido no Estado é eleger prefeitos alinhados com o presidente Lula, mas não, necessariamente, petistas. Ele explica ainda que a posição da Executiva estadual é pela formação de “frentes progressistas” em todas as cidades em que a composição for possível.
“Estamos em diálogo com os partidos da nossa federação (PT, PCdoB e PV), mas também com o PDT e o PSB. Também conversamos com o PSOL e a Rede. Em algumas cidades, com o PSDB e o Cidadania. Nossa prioridade é montar uma frente política para 2026, frear o bolsonarismo e o lavajatismo no Paraná”, disse.
Chiorato afirma que o cenário em Curitiba é singular, visto que quase todos os partidos progressistas possuem pelo menos um pré-candidato. “Se o partido decidir pela política de aliança, será apresentado um nome para compor com essa frente progressista. Ele pode ser o cabeça de chapa, mas não é obrigatório. O melhor colocado vai representar essa frente. Queremos criar um campo político progressista mais robusto no Estado”.
Questionado sobre a possibilidade de Ducci ser o candidato dessa possível frente ampla, Chiorato afirma que o ex-prefeito é “hoje o nome mais forte (para isso)”. “Claro que a política é muito dinâmica”, ressaltou, esclarecendo que o fato de o PSB ter pedido prioridade na disputa em Curitiba é outro fator que pesa a favor da candidata pessebista.
Divisão em Belo Horizonte, Natal e Vitória
Em São Paulo, Alckmin e o ministro Márcio França respaldam a candidatura de Tabata Amaral (PSB-SP), enquanto Lula e o PT apoiam Guilherme Boulos (PSOL-SP). Apesar da aliança em Brasília, a equipe da deputada federal descarta qualquer pacto de não agressão para poupar o candidato do PSOL. Ao contrário: afirma que Tabata criticará com a mesma veemência Boulos e o prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP) em uma tentativa de se apresentar com uma alternativa à polarização.