Geraldo foi preso pela primeira vez em fevereiro de 2002, quando foi flagrado com 12 quilos de cocaína dentro do carro que dirigia na Rodovia Castelo Branco, na região de Barueri, na Grande São Paulo.
Registros do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) mostram que ele foi condenado a sete anos e seis meses de prisão em regime fechado, por tráfico de drogas. Cerca de um ano depois, quando a sentença foi publicada, em abril de 2003, ele fugiu. Em 2005, ainda foragido, sua pena foi aumentada para 11 anos e oito meses.
Até fevereiro de 2019, quando foi capturado pela segunda vez, Geraldo construiu um patrimônio milionário, usando “laranjas”, e lavando o dinheiro oriundo do tráfico de drogas adquirindo as igrejas evangélicas. A Promotoria estima, de forma conservadora, que o pastor tenha acumulado ao menos R$ 6,1 milhões no período.
Durante os quase 16 anos que ficou foragido, ele usou documentos falsos para fundar a Assembleia de Deus Para as Nações, onde era conhecido como pastor Júnior. Segundo o MPRN, ele dividia o altar da igreja com sua companheira e cúmplice, Thaís Cristina de Araújo Soares, a pastora Thaís.
Quando foram presos, no ano passado, ambos estavam em uma casa de alto padrão, em Sorocaba, onde há uma das filiadas da congregação religiosa. Geraldo segue preso e sua companheira, segundo o MPRN, aguarda julgamento em liberdade condicional. As defesas de ambos não foram localizadas pelo Metrópoles. O espaço segue aberto para manifestações.
Prisão e “liberdade”
Cerca de nove meses após começar a cumprir sua pena de 11 anos no Centro de Progressão Penitenciária de Campinas, interior paulista, em fevereiro de 2019, Geraldo migrou para o regime semiaberto e, em abril de 2021, conseguiu o benefício da prisão domiciliar.
Em dezembro daquele ano, o juiz Emerson Tadeu Pires de Camargo, de Sorocaba, autorizou que Geraldo, mesmo cumprindo pena por tráfico de drogas, viajasse para Balneário Camboriú (SC), em janeiro de 2022.
Seis meses depois, a defesa dele solicitou à Justiça paulista que ele pudesse viajar por todo o Brasil, alegando que seu cliente estava deixando de fechar negócios e tendo “prejuízo financeiro” em uma empresa do ramo da construção civil, a GJS Construções Ltda.
Na ocasião, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) não se opôs ao pedido, alegando que as viagens não iriam prejudicar o andamento das “demais condições do benefício” e que Geraldo já havia conseguido uma autorização anterior para viajar até Santa Catarina, “sem qualquer intercorrência”.
“Ele estava foragido, voltou a cumprir pena e um juiz de São Paulo autoriza ele a viajar, durante a execução penal. Não é comum sequer deixar sair da cidade onde mora, quanto mais atravessar o país. Não é comum isso acontecer”, avaliou o promotor potiguar.
Movimentação milionária
Segundo o MPRN, o uso do CPF de Geraldo em transações só foi identificado em 2021, pouco mais de um mês após ele começar a cumprir prisão domiciliar. Com o documento, ele abriu uma conta corrente para GJS, cujo CNPJ também estava em nome do pastor. Em cinco meses, o criminoso movimentou em suas contas, como pessoa física e jurídica, pouco mais de R$ 2,2 milhões.
Como apontado na denúncia da Promotoria do Rio Grande do Norte, somente na conta de um laranja do esquema, foi identificada a movimentação de R$ 23 milhões em um período de nove anos. Segundo o MPRN, Geraldo era “o principal intermediário de comunicação entre Valdeci e os demais acusados, no que diz respeito à movimentação dos montantes ilegais”.
Geraldo, a esposa dele, Valdeci e outros dois irmãos deles foram denunciados por associação criminosa, associação ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, entre 2008 e 2023, com atuação no Rio Grande do Norte, Ceará, São Paulo e no Distrito Federal.
A Operação Plata, na qual constatou-se a compra de igrejas evangélicas para a lavagem de dinheiro, foi deflagrada no âmbito da Operação Sharks, do MPSP, em que Colorido e outros chefões do PCC são alvo de investigação por enriquecimento ilícito e tráfico internacional de drogas.