Por Claudemir Gomes*
A notícia da morte de Pelé soou como uma fake news. Afinal, um dia desses, alguém exclamou: “Pelé é imortal!”. O cineasta Aníbal Massaini Neto ouviu e tratou de imortalizar, quem já era imortal, através do filme: PELÉ ETERNO.
Os amantes do futebol, da minha geração e de outras também, que tiveram o privilégio de testemunhar um pouco de sua magia dentro das quatro linhas, sabem que, o Rei do Futebol; o Atleta do Século, ou seja, como queiram chamá-lo, é a tradução maior do encantamento provocado pela arte do esporte mais popular do planeta, cujo potencial midiático o transforma, também, num dos negócios mais rentáveis do mundo.
Em 1963, ainda menino, com 11 anos, fui surpreendido com o anúncio de um presente feito pelo meu pai: “Vamos assistir ao jogo – Sport x Santos – na Ilha do Retiro, no Recife”. A época, ainda morava em Carpina. Mal conseguia dormir. Ver o Santos de Pelé jogar era o sonho de todo garoto que gostava de futebol.
Acostumado com os jogos nas tardes dos domingos, assistir a uma partida de futebol sábado à noite era um ponto fora da curva. A Ilha do Retiro ainda não havia passado por reformas. A superlotação era inevitável. Nós – eu e meu pai – ficamos espremidos na arquibancada, por trás do gol no lado da sede social do Sport. O jogo terminou empatado em 1×1. Não sei contar a história da partida. Sei apenas que acompanhei Pelé durante todo o tempo. Meus olhos pareciam duas câmaras focadas no Rei durante os 90 minutos do jogo.
Aquele jogo foi um momento mágico. A partir dali Pelé passou a ser imortal para mim. E somente um imortal poderia alcançar a insuperável marca de 1000 gols. Acompanhar o planeta bola fazendo a contagem regressiva para o feito memorável foi incrível. O Santos cumpria sua agenda de jogos e, por pouco, o milésimo gol não aconteceu na Paraíba. O Rei queria um palco de maior visibilidade, e escolheu o Maracanã. Em 19 de novembro de 1969, num jogo com o Vasco, Pelé alcançaria a marca, até então, inimaginável: mil gols. O juiz do encontro foi Manoel Amaro, vinculado a Federação Pernambucana de Futebol. O goleiro dos mil gols foi o argentino, Edgardo Andrada.
Quarenta e cinco anos depois do jogo histórico no maior estádio do mundo, Valdir Appel, o reserva de Andrada, no Vasco, num bate papo informou no extinto restaurante Pra Vocês, nos revelou que, o argentino estava lesionado e sua participação naquele jogo era incerta. “Vivi a expectativa de ser o titular, mas o Andrada não abriu mão de jogar. Queria participar da festa de qualquer jeito”, afirmou. Apesar da boa performance que ostentou durante cinco anos no gol cruzmaltino, o argentino é mais lembrado como “o goleiro do milésimo gol de Pelé”.
O Mundial de 70 consagrou Pelé como primeiro e único. Algumas de suas jogadas são relembradas, mostradas, como momentos de inspiração de um gênio na história das Copas.
Meu primeiro contato direto, pessoal, com Pelé, foi na Copa de 82, na Espanha. Ele estava na condição de comentarista, e tinha como companhia, uma jovem linda e promissora de nome Xuxa. Mais um motivo para querer entrevistar o Rei quase todos os dias, numa praia próxima a Alicante.
Tornou-se comum encontrar Pelé nas coberturas internacionais que fiz na condição de enviado especial do Diário de Pernambuco. Em 1994 o Rei do Futebol se casou com a pernambucana, Assíria Seixas Lemos, na Igreja Episcopal Anglicana, em Recife. Passou a ser gente da gente.
Meses depois, estávamos nós, eu como enviado especial do DP, e ele, sua majestade o Rei Pelé, na condição de comentarista da Rede Globo, separados por dois degraus na tribuna de imprensa do Estádio Rose Bowl, em Los Angeles, sentindo as mesmas emoções de ver o Brasil conquistar o tetracampeonato.
Arnaldo César Coelho (analista de arbitragem); Galvão Bueno (narrador) e Pelé (comentarista). Ao meu lado, o experiente, Ney Bianchi, da revista Manchete ordenou: “Libera o choro porque até Pelé está chorando”.
Por um instante pensei que o Rei fosse mortal como todos nós.
Ledo engano.
PELÉ É ETERNO!
*Jornalista