Percentual de idosos que estudam no Recife é quase o dobro do País

Dos 7.826 alunos matriculados na EJA na capital, 535 têm idade igual ou superior a 60 anos

Nem idade nem limitações físicas impedem os idosos de voltarem às salas de aula / Foto: Alexandre Gondim/ JC Imagem

Nem idade nem limitações físicas impedem os idosos de voltarem às salas de aula

Enquanto Pernambuco luta para alfabetizar na idade certa, idosos que não tiveram oportunidade de conhecer as letras passam a ocupar cada vez mais as bancadas das salas de aula. Só no Recife, dos 7.826 alunos matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA), 535 têm idade igual ou superior a 60 anos, um percentual de 6,8%. O número é praticamente o dobro da participação dessa faixa etária em programas da EJA no País, que fica entre 3 e 4%.

É o caso de Maria José da Conceição, estudante da Escola Municipal Alto Santa Terezinha, no bairro homônimo, Zona Norte da capital. Aos 94 anos, ela viveu mais de nove décadas sem entrar em uma sala de aula. Criada por um tio para ser babá dos familiares, aos 7 anos conhecia a enxada e o trabalho pesado da roça, mas não a escola. A vontade de se alfabetizar surgiu há dois anos. Desde então, frequenta a instituição de ensino. “Já aprendi a escrever meu nome. Fiquei muito feliz com isso. Gosto demais da escola e da minha professora”, conta, orgulhosa.

Foi a necessidade de trabalhar lavando roupa para ajudar nas despesas de casa que impediu Maria Cassemira de Oliveira, 91, de frequentar a escola, como as outras crianças de sua idade. Há quatro anos, porém, ela decidiu que correria atrás do tempo perdido. A vontade de estudar é tanta que nem mesmo as complicações de saúde que a colocaram em uma cadeira de rodas a impedem de sair de casa, no Alto Santa Isabel, Zona Norte da capital, rumo à Escola Municipal Draomiro Chaves Aguiar, no mesmo bairro. “Não posso andar, mas não deixo de estudar.”

De acordo com o estudo “Síntese de Indicadores Sociais (SIS): uma análise das condições de vida da população brasileira 2016”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2005 e 2015, a população idosa (60 anos ou mais) aumentou de 9,8% para 14,3% entre os anos de 2005 e 2015. O Recife é a terceira capital com maior taxa de população idosa no Brasil, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro e de Porto Alegre. De acordo com o Censo do IBGE, em 2010, o percentual de idosos na capital pernambucana já passava de 11%.

AÇÕES

“Temos um número muito significativo de idosos no EJA, chega quase a 7%. Se trata de um público fragilizado, que precisa de ações públicas voltadas ele”, destaca Anderson Moura, supervisor da divisão de Educação de Jovens e Adultos do Recife. Na quinta-feira, dezenas de alunos se reuniram no 1º Encontro das Pessoas Idosas da EJA na capital. “É um momento importante para debater as violações impostas a esse segmento, na tentativa de garantir os direitos da população, para que cada vez mais idosos ocupem as salas de aula”, destacou Moura.

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