Perigo entre facções

Rompimento entre maiores facções do Rio e São Paulo acende alerta para confrontos

A unidade de Roraima ficou destruída após as mortes
A unidade de Roraima ficou destruída após as mortes Foto: Divulgação
Carolina Heringer

O rompimento entre as duas maiores facções criminosas do Rio e de São Paulo pode deflagar uma guerra por territórios em terras fluminenses. Após a cisão, os paulistas aliaram-se a uma das quadrilhas rivais ao grupo carioca. Fontes da área de segurança ouvidas pelo EXTRA apontam que a iminência de confrontos preocupa as autoridades do Rio.

O temor é de que o grupo de São Paulo auxilie com armas e dinheiro os novos comparsas nas disputas com as outras facções, principalmente a antiga aliada dos paulistas. Acredita-se ainda que haverá apoio para a prática de outros crimes, principalmente os roubos.

— O pessoal de São Paulo atua não só no tráfico, mas também nos crimes contra o patrimônio. A facção à qual eles se aliaram também atua muito nessa área. Com a facção antiga, o acordo ficava mais na questão financeira — explicou um policial civil.

A briga deixou dez mortos em Roraima
A briga deixou dez mortos em Roraima Foto: Divulgação

A aliança entre os maiores grupos do Rio e São Paulo existia desde 2002, quando elaboraram um estatuto juntos. O maior interesse do grupo paulista sempre foi no fornecimento de drogas e armas para os cariocas e todo o país.

— A facção de São Paulo é considerada uma grande empresa, com interesse total voltado para o lucro. O grupo do Rio que se aliou a eles terá preços de drogas extremamente competitivos e por isso a tendência é que haja grande briga pelo mercado de entorpecentes — analisa um inspetor penitenciário.

Desde o último fim de semana, cerca de cem presos da facção paulista que estão no Rio pediram transferência para unidades prisionais destinada a detentos da quadrilha à qual se associaram.

— Com a transferência, não resta dúvidas da aliança. As negociações ocorreram em presídio federal, onde estão os principais chefes — diz o inspetor.

Reflexos na fronteira

O fim do acordo entre as duas maiores facções do Rio e de São Paulo tem gerado temor em todo país. Na noite de domingo, 18 presos foram mortos em presídios de Roraima e Rondônia por causa da guerra entre os grupos.

Os detentos fizeram um buraco no muro para chegar aos desafetos
Os detentos fizeram um buraco no muro para chegar aos desafetos Foto: Divulgação

O secretário de Administração Penitenciária de São Paulo, Lourival Gomes, afirmou que o clima de harmonia que predominava entre as facções dos dois estados acabou:

— Agora a guerra recomeçou. Então, cabe a cada estado, a cada administrador, tomar as suas providências e resolver o seu problema dentro do seu estado.

O racha também deve refletir na fronteira do Brasil com o Paraguai, onde as duas facções disputam as rotas de contrabando de armas e drogas.

—A facção paulista é infinitas vezes mais forte do que os cariocas aqui na fronteira. Agora, vão querer tomar tudo. O grupo de São Paulo não gosta de fazer alianças. Eles estão junto de quem faz bons negócios. Estamos aguardando e acompanhando as informações sobre mudanças — avalia o delegado federal Edgard Paulo Marcon, adido no Paraguai.

Reflexos pelo brasil

Dez detentos foram mortos na Penitenciária Agrícola de Monte Cisto, em Boa Vista, Roraima na madrugada de anteontem após briga das facções.

Há cerca de um mês, 103 detentos da facção carioca pediram transferência para o chamado seguro, onde ficam separados, por medo dos antigos aliados do grupo paulista. A requisição foi aceita, mas não evitou o confronto.

Para chegar até os rivais, os presos da facção paulista abriram buracos nos muros e paredes das alas.

Na Penitenciária Ênio dos Santos Pinheiro, em Rondônia, outros oito presos também foram mortos por causa do fim da aliança, que já durava 14 anos. Após as mortes, 80 presos foram transferidos para evitar mais confrontos.

A morte do traficante Jorge Rafaat Toumani, na fronteira do Paraguai, marcou o início da disputa entre as facções. Outro fator apontado como possível motivo para o rompimento entre as facções é o fato de a quadrilha do Rio promover “batismos” de detentos de outros estados, dentro das unidades prisionais, alguns deles desafetos do grupo paulista. Os batismos ocorrem principalmente nos presídios do Norte e Nordeste do país.

 

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