Pesquisa brasileira facilita cuidados após implante de stent
Estudo mostra que reduzir de doze para três meses uso de remédio contra trombose após cirurgia que desobstrui veia entupida não traz prejuízos ao paciente
Desobstrução arterial: Estudo comparou pacientes que se medicaram durante três ou doze meses após implante de stent em vaso entupido (Comstock Images/Thinkstock)
Um estudo brasileiro apresentando nesta quinta-feira nos Estados Unidos pode diminuir a duração dos cuidados pós-operatórios em pacientes submetidos a uma cirurgia de desobstrução arterial. Nesse tipo de procedimento, um stent é implantado em um vaso entupido para empurrar as placas de gordura acumuladas e normalizar o fluxo sanguíneo. Depois da operação, a pessoa deve passar um ano fazendo uso de medicamentos que evitam complicações, como a trombose. Segundo as conclusões da nova pesquisa, o paciente pode tomar esses remédios durante apenas três meses, e não doze, sem prejuízos à saúde.
“A descoberta beneficia todos os pacientes que precisam parar de tomar o remédio mais cedo por algum motivo — porque têm sangramentos ou porque vão fazer alguma cirurgia, por exemplo”, disse, ao site de VEJA, Fausto Feres, especialista do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo, e coordenador do estudo. “Esse dado também tem impacto positivo no bolso dos pacientes, já que esses remédios custam cerca de 60 reais por mês.”
Stent metálico — O trabalho foi realizado com 3 119 pacientes que haviam recebido um stent farmacológico, que é feito de aço inoxidável e tem a superfície recoberta de medicamentos anticicatrizantes. Esse não é o único tipo de prótese. Outra versão é o stent metálico, implantado pela primeira vez no Brasil em 1987. Ele também é feito de aço inoxidável, mas não contém medicação em sua superfície. Em média, 25% dos pacientes que recebiam essa prótese apresentavam um processo exagerado de cicatrização, o que poderia levar a um novo caso de obstrução dos vasos. Depois desse stent, foi desenvolvido o farmacológico, que diminuiu a incidência desse problema para 2% a 3%.
A recomendação de que os pacientes tomassem remédios antiplaquetários durante doze meses, porém, continuou igual mesmo com a evolução do stent. Esses remédios afinam o sangue, evitando uma trombose decorrente de uma inflamação causada pelo material da prótese.
Evolução — O objetivo do novo estudo era descobrir se é possível diminuir o tempo de medicação em pacientes que receberam o stent farmacológico. A pesquisa foi feita entre 2010 e 2012 e envolveu participantes de 33 cidades brasileiras. Os voluntários foram acompanhados até um ano após serem submetidos a um procedimento de desobstrução arterial. Parte deles fez uso dos medicamentos contra trombose durante os três meses seguintes à cirurgia; o restante, ao longo de doze meses após o procedimento.
Segundo a pesquisa, um ano após a cirurgia, não houve diferenças significativas entre os dois grupos em relação à taxa de mortalidade, casos de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) e hemorragias mais graves. Os resultados foram divulgados em São Francisco durante o Transcatheter Cardiovascular Therapeutics (TCT), a principal conferência sobre medicina intervencionista do mundo.
De acordo com Feres, estudos que envolvam ainda mais pessoas são necessários para que os medicamentos passem a ser recomendados durante apenas três meses. “Por enquanto, o que provamos é que os novos stents são realmente muito seguros e que, se um paciente precisar interromper o tratamento com medicamentos por algum motivo, ele pode fazê-lo com a segurança de que não terá problemas decorrentes disso. Mas a pessoa precisa falar com seu médico antes de parar, já que esse tempo ainda não é uma recomendação oficial.”
Bioabsorvíveis — O stent bioabsorvível é o tipo de prótese que foi desenvolvido mais recentemente. Feito de ácido polilático, uma espécie de plástico, ele começa a ser absorvido pelo organismo seis meses após ser implantado no vaso e, em até dois anos, ele desaparece (dentro de seis a nove meses, os vasos não precisam mais de ajuda para se manter abertos).
No Brasil, ele é autorizado apenas para uso em pesquisas. Há um ano, o Hospital Dante Pazzanese realizou um procedimento inédito no mundo de desobstrução arterial com essa próstese na principal artéria do corpo de um paciente que sofria de colesterol alto.
Segundo Feres, pacientes que recebem esse stent precisam tomar medicações de seis a doze meses após a cirurgia. “Mas ainda não há estudos suficientes que provem se esses stents têm eficácia melhor ou até mesmo igual a dos stents farmacológicos”, diz.
Fonte: Veja