O brasileiro inicia a vida sexual mais cedo
O brasileiro é quem mais cedo inicia a vida sexual. Ao mesmo tempo, os adolescentes do país são os mais conscientes quanto ao uso da camisinha na primeira vez. Pelo menos é o que diz a pesquisa Durex Global Face of Sex, realizada em 37 países e que ouviu 30 mil pessoas entre 18 e 64 anos. Aqui, 66% dos entrevistados garantiram ter usado preservativo na primeira relação. E, em média, ela aconteceu aos 13 anos. Essa prática já no começo traz benefícios no futuro: aqueles que assim o fazem têm três vezes mais chances de continuar usando ao longo da vida.
No Brasil, a pesquisa ouviu 1.004 pessoas, entre homens (54%) e mulheres (46%). Apesar do alto índice de uso de preservativos, as campanhas de estímulo tendem a continuar. E, mais que isso, é preciso que a educação sexual dos adolescentes esteja além dos cartazes que mostram os riscos caso eles não se protejam. “O jovem detesta proibições e imposições. A linguagem não deve trazer palavras como prevenção, riscos. Elas são malvistas e acabam tendo uma conotação negativa. Temos que enaltecer a necessidade de mudar, somar e acrescentar. Essa linguagem ele aceita e adota”, explica Carmita Abdo, fundadora e coordenadora-geral do ProSex – Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Para a pesquisadora, o jovem é quem mobilizará os educadores sobre o que está acontecendo para que eles, a partir disso, possam lidar melhor com o conhecimento que será repassado. “Os educadores hoje estão se conscientizando de que um modelo único não se aplica, nem uma educação que seja colocada depois da iniciação sexual.”
Apesar do tabu que ainda existe em muitas famílias, o esforço atual é fazer com que os pais entendam que manter o filho bem informado sobre sexo não traz qualquer ligação com apressar a primeira vez. “A educação sexual deve começar quando a primeira pergunta sobre sexo surgir. Não adianta educar em um curso rápido e esperar que o jovem apreenda tudo aquilo que, ao longo da vida, ele foi querendo saber e não foi transmitido”, explica Carmita. Ela também diz que, ao negar uma resposta, os pais não estão negando a possibilidade de o filho se informar. “Aquela primeira pergunta que ele fez e não obteve resposta será buscada em outro lugar. Seja ela correta, seja deturpada, o adolescente vai consegui-la. Ele busca na internet, com os amigos, com pessoas que falariam de sexo com ele, já que a família não fala.”
A estudante Natália de Lima, 17 anos, diz que, na sétima série do ensino fundamental, uma das professoras apresentou noções de sexualidade e cuidados para quem fosse iniciar a vida sexual. “Vários pais discutiram na escola, achando que ela estava incentivando o sexo. Mas, hoje, é preciso começar a cuidar cedo, tanto que a vacina contra o HPV é dada a partir dos 13 anos. Porque é nessa faixa que muitos começam a descobrir a sexualidade.”
Para a adolescente, esse tipo de informação deve também ser dada em casa para evitar que a preocupação com os as relações sexuais aconteça após um problema surgir. Mas ela sabe que muitos pais têm dificuldades em conversar sobre esses assuntos. “Falar sobre isso sempre depende dos pais. Há aqueles mais conservadores, mas também os que são mais abertos. Acho que, hoje, discutir com eles sobre isso ainda é complicado. Lá fora, há muitas campanhas alertando sobre os riscos do sexo sem proteção, temos conhecimento do que pode acontecer.” O certo é que eles estão com mais canais de informação. Entretanto, esses canais nem sempre passam um esclarecimento relevante. Por isso, a negação dos pais em aceitar que, sim, os filhos farão sexo é prejudicial ao desenvolvimento deles.
Carmita Abdo explica que informar não é educar. Os adolescentes têm informações constantes sobre o uso do preservativo, mas é comum que eles se atrapalhem no momento de usá-lo na primeira vez. “Ele não sabe porque não foi falado para ele que a iniciação sexual é cheia de tropeços, já que o vídeo acessado na internet mostrava um desempenho fenomenal. Ele olha aquilo, vê como foi sua relação e pensa que não sabe fazer sexo.”
A chefe do núcleo de Diversidade da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Dhara Cristiane de Souza, diz que o importante é tratar a sexualidade dentro de um âmbito social, abordando todas as questões que envolvem o homem e a mulher e levá-las aos adolescentes. “Vivemos em uma época em que os papéis não são dependentes da genitália e os jovens precisam entender as consequências disso quando iniciam a vida sexual.” Ela explica que, atualmente, falar com eles é simples: até mesmo nos grupos de maior fervor religioso, há uma abertura para ouvir sobre os cuidados com o sexo. “O problema não está no adolescente, mas em uma sociedade machista que ainda inibe certos comportamentos. Por isso, levamos a eles a discussão sobre a responsabilidade que uma relação sexual traz, mas sem criticá-los”, completa.
O machismo, inclusive, ainda cobra do jovem do sexo masculino, já que a prática de se vangloriar a cada nova conquista ainda existe, em uma competição que causa transtornos para os dois sexos. “Ainda rola muito de os meninos ficarem se gabando de quem pegaram, da quantidade de meninas com quem ficaram”, garante Felipe Lopes, estudante de 17 anos. Para ele, esse tipo de comportamento acaba trazendo riscos, já que muitos meninos não usam o preservativo porque não acreditam que algo possa acontecer com eles. “Só que todos sabem o perigo que correm e não podem mais usar isso como desculpa.”
O diretor do Centro Educacional 01 de Planaltina, Jader Campos da Silva, garante que escutar o adolescente hoje é só uma questão de paciência, já que essa geração é mais aberta, justamente por ter tantas possibilidades de informação ao seu dispor. “Sempre trazemos palestrantes para falar sobre a temática da sexualidade, pois notamos que esse lado começa a aflorar muito cedo. As maiores dúvidas deles são sobre o risco de uma gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis, além da dor que podem sentir na primeira vez. Eles querem saber para se preparar.” Afinal, é sempre bom iniciar algo na vida tendo conhecimento prévio. “A educação deve ter a função de tornar a vida sexual mais positiva e não corrigir erros. Bom desempenho demanda experiência, e a experiência demanda tempo”, completa Carmita Abdo.
Sexualidade em números
41%
dos entrevistados disseram nunca ter tido educação sexual.
41%
obtêm informações sobre sexo em sites pornográficos; 42%, em fóruns de discussão.
57%
perderam a virgindade entre os 18 e os 25 anos. 56% não planejaram o momento de perder a virgindade.
34%
gostaram da primeira vez.
(Correio Braziliense)