PF vê elo entre inquéritos da trama golpista, ‘Abin paralela’ e fake news e estende investigações

A Polícia Federal pretende finalizar o inquérito do golpe até agosto e o das fake news até o final do ano

Polícia Federal e Mauro Cid com Jair Bolsonaro
Polícia Federal e Mauro Cid com Jair Bolsonaro (Foto: Divulgação/PF | REUTERS/Adriano Machado)
A Polícia Federal (PF) vai, segundo o jornal O Globo, adiar a conclusão do inquérito sobre a trama golpista após descobertas sobre a “Abin paralela”. Inicialmente previsto para ser encerrado em julho, o inquérito agora deve ser finalizado até agosto, devido a novas revelações feitas durante as investigações. Outro inquérito de grande relevância, o das fake news, está previsto para ser concluído até o final de 2024, após mais de cinco anos tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF).

O ministro do STF Alexandre de Moraes, relator dos três casos na Corte, autorizou na última semana o compartilhamento das provas do inquérito sobre o esquema de espionagem ilegal com as investigações da trama golpista e das fake news. Segundo o relatório da PF, há uma tese central que conecta essas três apurações: o governo Bolsonaro teria se utilizado da máquina do Estado, incluindo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Receita Federal, para obter “vantagens indevidas de ordem política e econômica”.

“Abin paralela”

No caso da “Abin paralela”, a PF identificou conversas entre dois servidores cedidos à Abin discutindo uma possível intervenção das Forças Armadas logo após o segundo turno das eleições de 2022. Esses diálogos reforçam a “premissa investigativa”, referindo-se à possibilidade de invocação do artigo 142 como justificativa para um golpe de Estado.

“Dizem que ele [Bolsonaro] vai amanhã… de repente invoca de lá”, comentou um policial federal que atuou na Abin. Para a PF, essas falas indicam “no mínimo potencial conhecimento do planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção”.

Outro diálogo revela a frustração dos envolvidos com a falta de ação de Jair Bolsonaro (PL) após sua derrota para o presidente Lula (PT). “O nosso PR imbrochável já assinou a porra do decreto?”, questiona um deles, recebendo como resposta: “Assinou nada. Tá foda essa espera, se é que vai ter alguma coisa”.

Inquérito das fake news

Novos elementos surgidos a partir do caso da Abin também impactaram o inquérito das fake news, instaurado em março de 2019 pelo ministro Dias Toffoli e depois designado a Moraes. Inicialmente, a apuração tratava de notícias fraudulentas e ameaças contra ministros do Supremo e seus familiares.

Conforme o relatório da PF, a estrutura montada na Abin fornecia munição para influenciadores digitais disseminarem fake news, visando “descredibilizar” o sistema eleitoral e produzir dossiês contra adversários do governo Bolsonaro, incluindo ministros do STF, parlamentares e jornalistas. Os investigadores descobriram mensagens em que servidores cedidos à Abin discutiam “alimentar” pessoas que postavam nas redes sociais tudo que recebiam.

“Segue o perfil do maluco que eu estou alimentando… mas usa uma conta fake, não segue com a sua não… tudo que eu estou passando ele publica… acabou de publicar mais uma”, relata um dos servidores.

Com essas descobertas, a PF continua a investigar as ramificações dos supostos esquemas e suas implicações, com a expectativa de concluir o inquérito sobre a trama golpista em agosto e o das fake news até o final de 2024.

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