Pierre Laval, líder da França de Vichy, é fuzilado em 1945
Pierre Laval, condenado à morte por um tribunal francês por alta traição na ajuda ao inimigo e na violação da segurança de Estado, foi fuzilado em 15 de outubro de 1945 por um pelotão do presídio de Fresnes.
Anos atrás, apoiara o governo de Stalin e era uma importante figura do Partido Comunista Francês. Ao longo de seu percurso político, porém, foi se tornando conservador, a ponto de, nos anos 1930, abraçar a extrema-direita, manifestando simpatia pelos nazistas. Depois da invasão alemã, sem resistência, defendeu o armistício que resultou em Vichy, acabando por ocupar o cargo de primeiro-ministro da França, durante o governo colaboracionista.
Nascido em Châteldon em 28 de junho de 1883, na família de um modesto comerciante de café, Laval, autodidata de maneiras rudes, adquire uma imensa fortuna no exercício da advocacia. Passado para a reserva durante a Primeira Guerra Mundial, torna-se em seguida campeão do pacifismo. Destaca-se nas fileiras da extrema-esquerda revolucionária antes de ser eleito em 1914 deputado socialista por Aubervilliers.
[Pierre Laval foi figura importante da França de Vichy]
Após o conflito, deixa o Partido Socialista e se reelege como socialista independente em 1924, eleições que viram a vitória do Cartel das Esquerdas. Político hábil, foi várias vezes ministro, como da Justiça no governo de Aristide Briand, em 1926, e do Trabalho, na administração Tardieu, em 1930.
Presidente do Conselho pela primeira vez de 27 de janeiro de 1931 a 16 de fevereiro de 1932, Laval foi o primeiro chefe de governo francês a visitar a Alemanha, depois da Primeira Guerra, onde teve acolhida entusiástica.
Sob a presidência de Albert Lebrun, Laval ocupou a pasta do Exterior. Nessa condição, preocupado em proteger a França contra a ameaça alemã, negociou uma aliança com a Itália de Mussolini, bem como com a União Soviética. Porém, a invasão da Etiópia pela Itália fez soçobrar sua estratégia.
Reinstalado na presidência do Conselho de junho de 1935 a janeiro de 1936, tenta remediar a crise econômica com uma política de rebaixamento dos salários. Segue-se uma queda na produção industrial da ordem de 30%, mais de 500 mil desempregados e uma vitória do Front Populaire em maio de 1936.
Pacifista inveterado, é um dos raros parlamentares a se opor à declaração de guerra à Alemanha em 1939. A vergonhosa derrota do ano seguinte parecia lhe dar razão – pelo que foi convidado pelo chefe de governo, marechal Petain, a assumir o cargo de ministro de Estado a partir de 23 de junho de 1940.
Por ter defendido obstinadamente no parlamento a entrega de plenos poderes a Petain em 10 de julho de 1940, é indicado para a vice-presidência do Conselho, tornando-se de facto o verdadeiro líder do governo de Vichy.
Intimamente convencido da inelutável vitória da Alemanha nazista, adota uma postura de nítida colaboração com o ocupante de seu país. Pétain o demite bruscamente em 13 de dezembro de 1940 e o manda prender. No entanto, o embaixador alemão Otto Abetz consegue sua libertação.
Afastado do poder, mas ainda influente, assiste em 27 de agosto de 1941 num quartel de Versalhes à formação do primeiro contingente da Legião de Voluntários Franceses que recebeu a missão de combater no front oriental a União Soviética, ao lado dos alemães.
Ocorre um atentado a tiro contra Laval e seu autor, um legionário, é preso. Um oficial alemão diz a ele que o autor seria fuzilado sem julgamento, ao que responde: “Não façam isso, será um grave erro”. O legionário seria julgado, condenado à morte e graças às instâncias do ex-vice-presidente do Conselho, libertado.
Os alemães impõem a Petain, em 17 de abril de 1942, que renomeie Laval para o governo com poderes quase ilimitados. Os ocupantes queriam da administração francesa um respaldo inequívoco. A Colaboração se confundiria doravante com Laval.
O novo homem forte de Vichy assume a direção do governo, e os ministérios da Informação, das Relações Exteriores e do Interior, relegando Petain a um papel de “vaso de porcelana”.
Em 22 de junho de 1942, um ano após a invasão da União Soviética, pronuncia um discurso radiodifundido em que exalta a Alemanha como “a muralha contra o bolchevismo”. “Torço pela vitória da Alemanha, porque, sem ela, o bolchevismo se instalaria em toda a parte.”
A ocupação da “zona livre” pela Wehrmacht em 11 de novembro de 1942, violando os acordos de armistício, reduziu consideravelmente as margens de manobra do governo de Vichy.
Concessões
Laval tentou arrancar concessões dos ocupantes, por exemplo, quanto à libertação de prisioneiros de guerra. Propôs o envio de trabalhadores voluntários para a Alemanha em contrapartida da libertação de prisioneiros. Como a proposta não satisfez as forças de ocupação, instituiu em 16 de fevereiro de 1943 o Serviço do Trabalho Obrigatório.
Pressionado para uma ‘colaboração’ cada vez mais nítida com o ocupante alemão, Laval nomeia para seu governo, em 30 de dezembro de 1943, Joseph Darnand, chefe da Milícia, grupo paramilitar pró-nazi, como secretário geral da Manutenção da Ordem. Em 16 de março de 1944, cede seu lugar a Marcel Déat. Este intelectual socialista e pacifista, autor de um artigo de grande repercussão em 1939 (“Morrer por Danzig?”), converteu-se à ideologia nazista, tornou-se ministro do Trabalho e da Solidariedade Nacional.
Com a chegada das tropas aliadas, é levado pelos alemães à fortaleza de Sigmaringen. Consegue escapar para a Espanha de Franco que o entrega às novas autoridades francesas. Odiado por todos, é condenado à morte ao cabo de um processo atabalhoado.
Apesar dos pedidos de clemência dirigidos ao general De Gaulle por personalidades diversas como Leon Blum e François Mauriac, acabou sendo executado.
Fonte: Ópera Mundi